Polémica sobre "crimes" dos Aliados continua viva
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Polémica sobre "crimes" dos Aliados continua viva
Bombardeamentos de civis
Polémica sobre "crimes" dos Aliados continua viva
01.09.2009 - 08h54 Manuel Carvalho
Em Agosto, um tribunal de Munique acusou Josef Scheungraber, de 90 anos, pela morte de 14 civis em Itália, em Junho de 1944; na Primavera, os Estados Unidos extraditaram John Demjanjuk para responder pelo alegado envolvimento no assassínio de 29.000 judeus num campo de concentração; ainda este ano, um procurador de Dortmund decidiu abrir um inquérito para verificar a autoria do massacre de 124 civis franceses na aldeia de Maillé, em Agosto de 1944. Sete décadas depois do seu início, a Europa continua a exibir as feridas abertas da II Guerra Mundial, a ajustar contas com a sua má-consciência e a discutir se História do conflito está, ou não, contaminada pela narrativa dos vencedores.
Durante as primeiras décadas que se seguiram ao fim do conflito, o relato oficial fazia-se também pelo silêncio dos vencidos. Com excepção de académicos ingleses como John Erickson, a versão final para consumo ocidental tinha por base os feitos gloriosos dos Aliados e de heróis como Patton, Bradley ou Eisenhower. Actualmente, é consensual que sem o esforço do Exército Vermelho, que teve de enfrentar os melhores soldados do Reich, o fim da guerra poderia ter sido adiado para muito depois de 1945, apesar da enorme capacidade industrial e logística revelada pelos americanos no Pacífico e, principalmente, na libertação da França.
No vaivém das frentes, as atrocidades cometidas por alemães e soviéticos são há muito conhecidas. Os fuzilamentos em série de soldados inimigos, os pogroms de camponeses ucranianos e a aniquilação programada de judeus fazem parte do legado de horrores nazis. A condenação à morte pelo frio e pela fome de prisioneiros, o massacre de oficiais polacos em Katyn ou a violação em massa de mulheres alemãs entram na galeria dos horrores soviéticos. Mais recentemente, porém, as atenções viraram-se para os actos dos aliados contra os alemães. A discussão, que se acentuou depois de Jörg Friedrich ter publicado "Fire" (Columbia University Press), em 2002, sustenta-se na velha polémica iniciada pelas bombas atómicas lançadas sobre o Japão. Teria sido necessário?
Friedrich sustenta na sua obra que os bombardeamentos indiscriminados das cidades alemãs foram "um erro" que matou 650 mil civis inocentes. Se a destruição e os 50 mil mortos de Hamburgo, no Verão de 1943, se entendem no plano militar (os exércitos nazis ainda lutavam com vigor na Rússia e no Norte de África), os sucessivos ataques a Dresden em Fevereiro de 1945 teriam sido injustificados. Com os alemães a questionarem abertamente o absurdo da violência - leia-se a propósito o clássico "História Natural da Destruição", de W.G. Sebald (Teorema, 2006) -, o revisionismo chegou a autores britânicos e americanos. Bob Lilly publicou um estudo que estima em 14 mil o número de mulheres violadas por soldados americanos. E este ano, um novo livro de Antony Beevor ("D-Day, The Battle for Normandy", a editar pela Bertrand) considera que os bombardeamentos das cidades francesas provocaram milhares de mortes em vão.
Entre a doutrina da equivalência moral que tende a nivelar os actos dos agressores e dos agredidos e a necessidade de se ensaiarem olhares mais objectivos sobre o drama da II Guerra Mundial sobra um enorme espaço de polémica e de estudo. Autores como Max Hastings ou Frederick Taylor colocam a discussão num contexto e avisam que a II Guerra Mundial desenvolveu um nível de barbárie e de irracionalidade que se tornaram tacitamente naturais. Os milhões de bombas largadas sobre Roterdão, Coventry, Londres ou Berlim não são enquadráveis fora desse absurdo.
É por haver ainda muitas perguntas sem resposta que todos os anos se publicam milhares de páginas sobre a mais devastadora experiência da História. E se celebra o princípio e o fim de um conflito no qual o mal se banalizou e a civilização europeia quase se suicidou.
Público
Polémica sobre "crimes" dos Aliados continua viva
01.09.2009 - 08h54 Manuel Carvalho
Em Agosto, um tribunal de Munique acusou Josef Scheungraber, de 90 anos, pela morte de 14 civis em Itália, em Junho de 1944; na Primavera, os Estados Unidos extraditaram John Demjanjuk para responder pelo alegado envolvimento no assassínio de 29.000 judeus num campo de concentração; ainda este ano, um procurador de Dortmund decidiu abrir um inquérito para verificar a autoria do massacre de 124 civis franceses na aldeia de Maillé, em Agosto de 1944. Sete décadas depois do seu início, a Europa continua a exibir as feridas abertas da II Guerra Mundial, a ajustar contas com a sua má-consciência e a discutir se História do conflito está, ou não, contaminada pela narrativa dos vencedores.
Durante as primeiras décadas que se seguiram ao fim do conflito, o relato oficial fazia-se também pelo silêncio dos vencidos. Com excepção de académicos ingleses como John Erickson, a versão final para consumo ocidental tinha por base os feitos gloriosos dos Aliados e de heróis como Patton, Bradley ou Eisenhower. Actualmente, é consensual que sem o esforço do Exército Vermelho, que teve de enfrentar os melhores soldados do Reich, o fim da guerra poderia ter sido adiado para muito depois de 1945, apesar da enorme capacidade industrial e logística revelada pelos americanos no Pacífico e, principalmente, na libertação da França.
No vaivém das frentes, as atrocidades cometidas por alemães e soviéticos são há muito conhecidas. Os fuzilamentos em série de soldados inimigos, os pogroms de camponeses ucranianos e a aniquilação programada de judeus fazem parte do legado de horrores nazis. A condenação à morte pelo frio e pela fome de prisioneiros, o massacre de oficiais polacos em Katyn ou a violação em massa de mulheres alemãs entram na galeria dos horrores soviéticos. Mais recentemente, porém, as atenções viraram-se para os actos dos aliados contra os alemães. A discussão, que se acentuou depois de Jörg Friedrich ter publicado "Fire" (Columbia University Press), em 2002, sustenta-se na velha polémica iniciada pelas bombas atómicas lançadas sobre o Japão. Teria sido necessário?
Friedrich sustenta na sua obra que os bombardeamentos indiscriminados das cidades alemãs foram "um erro" que matou 650 mil civis inocentes. Se a destruição e os 50 mil mortos de Hamburgo, no Verão de 1943, se entendem no plano militar (os exércitos nazis ainda lutavam com vigor na Rússia e no Norte de África), os sucessivos ataques a Dresden em Fevereiro de 1945 teriam sido injustificados. Com os alemães a questionarem abertamente o absurdo da violência - leia-se a propósito o clássico "História Natural da Destruição", de W.G. Sebald (Teorema, 2006) -, o revisionismo chegou a autores britânicos e americanos. Bob Lilly publicou um estudo que estima em 14 mil o número de mulheres violadas por soldados americanos. E este ano, um novo livro de Antony Beevor ("D-Day, The Battle for Normandy", a editar pela Bertrand) considera que os bombardeamentos das cidades francesas provocaram milhares de mortes em vão.
Entre a doutrina da equivalência moral que tende a nivelar os actos dos agressores e dos agredidos e a necessidade de se ensaiarem olhares mais objectivos sobre o drama da II Guerra Mundial sobra um enorme espaço de polémica e de estudo. Autores como Max Hastings ou Frederick Taylor colocam a discussão num contexto e avisam que a II Guerra Mundial desenvolveu um nível de barbárie e de irracionalidade que se tornaram tacitamente naturais. Os milhões de bombas largadas sobre Roterdão, Coventry, Londres ou Berlim não são enquadráveis fora desse absurdo.
É por haver ainda muitas perguntas sem resposta que todos os anos se publicam milhares de páginas sobre a mais devastadora experiência da História. E se celebra o princípio e o fim de um conflito no qual o mal se banalizou e a civilização europeia quase se suicidou.
Público
LJSMN- Pontos : 1769
Re: Polémica sobre "crimes" dos Aliados continua viva
Estou absolutamente convencido, que houve -e continua a haver- muitas histórias por contar, boas e más, de um e outro lado.
Em pleno auge do domínio alemão, quantas vidas não terão sido salvas, porque soldados compassivos fingiram não ver quem perseguiam, nas suas rusgas? Quantos não terão sido poupados ao extermínio, só porque um punhado de oficiais nunca deu a ordem fatal? E por aí adiante...
Estamos habituados a ver opiniões unilaterais, que só privilegiam o lado desumano alemão, mas esquecemo-nos que russos, ingleses e americanos também não foram uns anjos de pureza!
Depois, num conflito armado, tão longo quanto o foi a II Grande Guerra Mundial, há mesmo episódios que nunca verão a luz do dia ou apenas se conhecerão ocasionalmente. Duvido mesmo que, algum dia, se venha a conhecer toda a plêiade de horrores que protagonizou. Para lá dos que já se conhecem, claro!
E a utilização da bomba atómica, contra populações indefesas... deixa um amargo na boca...
Em pleno auge do domínio alemão, quantas vidas não terão sido salvas, porque soldados compassivos fingiram não ver quem perseguiam, nas suas rusgas? Quantos não terão sido poupados ao extermínio, só porque um punhado de oficiais nunca deu a ordem fatal? E por aí adiante...
Estamos habituados a ver opiniões unilaterais, que só privilegiam o lado desumano alemão, mas esquecemo-nos que russos, ingleses e americanos também não foram uns anjos de pureza!
Depois, num conflito armado, tão longo quanto o foi a II Grande Guerra Mundial, há mesmo episódios que nunca verão a luz do dia ou apenas se conhecerão ocasionalmente. Duvido mesmo que, algum dia, se venha a conhecer toda a plêiade de horrores que protagonizou. Para lá dos que já se conhecem, claro!
E a utilização da bomba atómica, contra populações indefesas... deixa um amargo na boca...
Joao Ruiz- Pontos : 32035
Re: Polémica sobre "crimes" dos Aliados continua viva
João Ruiz escreveu:E a utilização da bomba atómica, contra populações indefesas... deixa um amargo na boca...
Pior. Tendo o Japão já sido derrotado. Depois Hiroxima era só um local civil. Não tinha indústria nem equipamento militar que justificasse a escolha. Nunca tinha sido um alvo escolhido para bombardeamentos militares. A não ser uma forte densidade populacional. Que era o que interessava. Fazer estragos humanos e em grande número....
Viriato- Pontos : 16657
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