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A censura velada, a ditadura silenciosa e o plano inclinado

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A censura velada, a ditadura silenciosa e o plano inclinado Empty A censura velada, a ditadura silenciosa e o plano inclinado

Mensagem por Viriato Seg Mar 08, 2010 4:23 pm

A censura velada, a ditadura silenciosa e o plano inclinado

É pena o “debate” sobre a Imprensa e o seu papel na sociedade portuguesa de hoje estar sempre inclinado para o mesmo lado. Enquanto abundam os comentários, crónicas, opiniões e até alguma guerrilha política disfarçada de notícia a fazer passar a urgência da tomada de pulso a uma doença de informação que supostamente existiria nos media portugueses, raras vozes — sendo que a rarefacção é motivo de alarme, para não dizer de suspeita — avançam disponíveis para conversar sobre a censura velada, a ditadura silenciosa e o plano inclinado do jornalismo nacional.

A propósito da calhandrice recente, publiquei uma vez mais algumas dicas para esse debate.

Ideias-chave:
1) clarificar a relação dos grupos de CS com o Estado, uma relação eminentemente económica;

2) avaliar eventuais directivas sobre a repartição das benesses estatais — basicamente, a distribuição da publicidade e os concursos — pelos grupos de CS de forma justa para garantir que não há pressões de parte a parte;

3) dar garantias aos trabalhadores dos media, bem como aos prestadores de serviços, de que não são alvo da “censura económica” nem do eventual cartelismo;

4) estudar os mecanismos de pressão dos meios privados, que conquistaram um poder não apenas de influência mas também económico considerável, que nunca antes detiveram, sobre os poderes públicos (que percorreram o caminho inverso, perdendo considerável força e apresentando uma vulnerabilidade sem paralelo na história dos últimos séculos);

5) verificar as condições do mercado de trabalho, nomeadamente o acesso dos prestadores de serviços e detentores de copyright sobre conteúdos jornalísticos, em condições de concorrência justa (a concentração levanta a suspeita de que essas condições são deficientes e tenho relatos e desabafos que a confirmam).

Dada a rarefacção de vozes fora da corrente que nos últimos 2 a 3 anos varreu, implacável, a opinião publicada nos media, é natural que eu aplauda com vigor a crónica de André Freire ontem no Público, “condicionamentos ideológicos nos media portugueses” (sem link, é conteúdo paywalled) Dela reproduzo este excerto, negritos meus:

“(…) na imprensa (Expresso, Correio da Manhã, etc.), veja-se por exemplo a sobre-representação que têm os colunistas com orientações antipolíticos e profundamente críticas face ao papel do Estado na sociedade e na economia, designadamente de inclinação ultraliberal. Ou, ainda, a falta de pluralismo que vemos nas rádios, na TV e na imprensa em matéria de debates sobre economia (política), nos quais estão geralmente sobre-representadas as correntes associadas ao mainstream (neoliberal) da ciência económica e onde outras tendências igualmente relevantes do ponto de vista académico e político (neo-keynesianas, institucionalistas, etc.) estão claramente ausentes ou, na melhor das hipóteses, sub-representadas.
Há, obviamente, liberdade de imprensa em Portugal, e essa é uma conquista crucial da democracia. Porém, há condicionamentos ideológicos de vária índole nos media portugueses. Pena é que os jornalistas pareçam só se preocupar com os condicionamentos que possam vir por via das influências dos Governos e, pelo contrário, dêem pouco ou nenhum relevo (quando não os promovem eles próprios…) a vários outros condicionamentos (porventura mais graves e profundos) que caracterizam os media. A bem da democracia e do pluralismo, era desejável que não só a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação) mas também os próprios jornalistas fossem muito mais exigentes neste domínio“.

A fechar: é francamente boa ideia os mais novos na profissão, e os que para ela pretendem entrar, tomarem sua a batalha pela clarificação de ares, contra a censura velada e o método porteiro de discoteca que caracteriza o acesso às carreiras. Não esperem mudanças dos instalados — incluindo as estruturas de representação, herdeiras de outros tipos de controleirismo e compreensivelmente mais preocupadas com a sua própria existência numa altura em que são dominadas pela incerteza quanto ao futuro do jornalismo.

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