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. O mito do português da barrica de sardinhas e do garrafão de tinto

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. O mito do português da barrica de sardinhas e do garrafão de tinto Empty . O mito do português da barrica de sardinhas e do garrafão de tinto

Mensagem por Vitor mango Qua Mar 24, 2010 2:13 am

.
O
mito do português da barrica de sardinhas e do garrafão de tinto






. O mito do português da barrica de sardinhas e do garrafão de tinto Garcia
Persiste, alimentada
pelo fanado cliché do português "pobrete mas alegrete", a
ideia de que as comunidades portuguesas espalhadas um pouco por todo o
mundo sempre integraram uma massa desclassificada de trabalhadores
braçais, espécie de refugo de sobras e excedente demográfico atirado
para os caminhos do exílio, atiçado pela fome e submetido às mais duras
provações. É evidente que essa emigração existiu, mas surge como
elemento de toda a evidência que foi exacerbada por um tipo específico
de portugueses que inundaram o Canadá, os EUA, a África do Sul e a
França nas décadas de 60 e 70 do século XX, não resistindo, porém, à
acareação de uma investigação mais cuidada.

Na Ásia, o mito romântico do português aventureiro e
sem eira, construído a partir de excepções, parece que só resiste na
análise do tipo de português que demandou o pequeno enclave-bandel do
Rio das Pérolas e o arquipélago do Havaí . Em Macau, o português foi
sempre, do século XVI aos últimos dias da nossa presença, o homem de
poucas letras, o embarcadiço, o polícia, o homem dos sete-ofícios em
busca do alimemento diário. No Havaí, foi trabalhador braçal nas
plantações da cana-de-açúcar.

Contudo, ao longo dos séculos XIX e XX, de Xangai a
Singapura, de Banguecoque a Calcutá, germinaram comunidades portuguesas
ou luso-descendentes altamente qualificadas, urbanas, interventivas e
com visibilidade política e cultural que cortam cerce com a proverbial
auto-comiseração, falta de amor-próprio e demais tiques decadentistas
que continuam a comprazer os nossos plumitivos. Não há dia em que não
esbarre com a revelação do anti-mito do português bem sucedido,
empreendedor, respeitado e requerido para funções que outros não sabiam
executar. Do estudo que actualmente desenvolvo em torno do português
asiático de meados do século XIX ao eclodir da Segunda Guerra, sobressai
esse outro tipo: professores, médicos, advogados, músicos, comandantes
de marinha, comerciantes, bancários, tradutores, quadros superiores
empresariais e funcionários superiores dirigentes ao serviço dos
governos coloniais britânicos, bem como conselheiros especiais
contratados pelo governo siamês.

Sabia o nosso leitor que no Sião de finais do século
XIX, inundado por conselheiros britânicos, belgas, alemães, franceses e
norte-americanos, trabalharam cerca de 80 portugueses em funções de
topo, ou seja, 20% dos estrangeiros ao serviço do Estado, assessores de
ministros e da casa real, comandantes de vasos da marinha siamesa,
médicos na Cidade Interior (palácio), diplomatas, correctores,
representantes comerciais das maiores companhias de seguros,
despachantes oficiais, directores de estabelecimentos de ensino e até
dirigentes de departamentos do Estado ? Sabia o leitor que alguns destes
compatriotas nossos, nascidos em Portugal, Macau ou Hong Kong, filhos
de portugueses, chegaram a ministros e depois ganharam nacionalidade
siamesa ?

Sabia
o nosso leitor que a companhia teatral de maior relevo na Singapura de
inícios do século XX era a Portuguese Dramatic Amateur Co, que
em Banguecoque funcionou em inícios do século XX uma Philharmonic
Society
quase inteiramente composta por músicos portugueses, que o
coro português de Singapura, especializado em reportório mozartiano, era
presença obrigatória na saison artística da Little China, que
os professores e afinadores de pianos mais gabados de Singapura eram os
Garcias ? É tempo de rever tudo o que se foi escrevendo disparatadamente
sobre o "português errante", uma rematada falsidade que não tem outra
sustentabilidade que essa quase doentia tentação para nos agacharmos e
pedirmos a protecção dos outros.


A Small Measure Of Peace





Publicada por
Combustões


em
24.3.10






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Etiquetas:
Portugueses no Sudeste-Asiático
Vitor mango
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