O corno
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O corno
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Menelau III, o Formoso Nesses tempos de comemorações de aniversário municipal fiquei tentado a escrever sobre um tema histórico e, como ex-preso político, sei como poucos, que a história oficial contempla as razões e heróis dentre os vencedores, em detrimento, muitas das vezes, da própria verdade. Assim, resgatei a história de Menelau III, um grande general etíope que, só não tem sua história contada nos livros escolares por ter sido corno. Assim reconhecido, não porque uma de suas mulheres o tenha corneado, mas todas. Desta forma, apesar de haver sido brilhante como farmacêutico, estrategista militar, paisagista e inventor, Menelau III, o Formoso, viu-se alijado da História Universal e lançado, injustamente, ao ostracismo. Como farmacêutico contribuiu para a Humanidade com dois grandes achados: um elixir para tratamento dos problemas renais ao qual deu o nome de Hepatovis, em homenagem a um amigo, prematuramente falecido, chamado Hepattus (Esta droga recebeu, mais tarde, a contribuição de Madame Curie e, atravessando séculos, chegou aos nossos dias como o nome comercial de Hepatovis B12) e um poderoso detergente, desenvolvido para manter a alvura dos mármores dos templos gregos que, por conta de sua experiência de dois anos vividos entre os índios Zambézi, recebeu o nome de Coca-Cola que, naquela língua, significa “água suja que branqueia”. Como estrategista, seria suficiente dizer que este sanguinário general, nascido na Baixa Mesopotâmia foi, após comandar a famosa marcha de Aníbal pelos Alpes, estrategista militar do Almirante Nelson na, não menos famosa, Batalha de Waterloo, quando os exércitos de Napoleão foram derrotados permitindo aos múrcios a conquista definitiva da cidade de Praga, na sangrenta página histórica conhecida como Queda da Bastilha. Mas Menelau III, homem múltiplo, também foi o responsável pela criação de verdadeiras maravilhas da Natureza, movido pela sua profunda paixão pelas plantas, sendo de sua autoria os Jardins Suspensos da Babilônia, os premiadíssimos jardins do Palácio de Versailles e o Aterro do Flamengo, no Rio. E, como inventor criou, juntamente com um carpinteiro otomano, de nome Sikorski, o helicóptero que, mais tarde, foi aperfeiçoado por Leonardo da Vinci. Mas, a despeito de todas essas contribuições à Humanidade, Menelau III, o Formoso, ficou conhecido mesmo por ser corno. Aventureiro, Menelau correu mundo e era freqüentador assíduo de palácios e bordéis. Tido como um grande amante, Menelau era disputado por mulheres do povo e da corte e, sempre que possível, entre uma guerra e outra (ou entre uma invenção e outra), contemplava uma companheira com seus dotes de alcova. Foi assim, que seu nome correndo pelos noticiários da época, chegou ao conhecimento de Cleópatra, uma rainha ninfomaníaca que sugou tudo que pode de Menelau até conhecer o imperador romano Richard Burton, com quem se amasiou, abandonando o então apaixonado Menelau. A maioria dos historiadores atribui a Menelau III, a passagem do suicídio de Cleópatra, como fruto de uma última noitada de orgias, quando a rainha-deusa egípcia, após um pacto de amor eterno, totalmente bêbada, enfiou a mão na famosa cestinha com a serpente. O New York Times, em sua coluna social, foi impiedoso com Menelau e expôs todo o seu sofrimento de amante abandonado, mundo a fora. Lucrecia Bórgia, uma assídua freqüentadora dos embalos europeus, apiedou-se de Menelau e, através de emissários, localizou o general, em franca decadência, vivendo entre os bares da Bósnia. Levou-o para o seu palácio, tratou-lhe as feridas do corpo e da alma e, tão logo Menelau convalesceu, transformou-o em seu amante secreto. Ninguém daquele tempo sabia, mas era com Menelau que, La Bórgia, como era conhecida, passava sua noites de orgia sadoma-soquista, curtindo suas fantasias dominadoras. O final da história todos conhecem e Menelau, abandonado pelo seu segundo grande amor, mergulhou em suicida depressão que o levou a experimentar, pela primeira vez, a prostituição homossexual de onde, só foi tirado pela sua terceira e derradeira paixão, Mata-Hari. Em sua mente conturbada, Menelau III - o Formoso, viveu seus últimos dias tentando, desesperadamente por fim a sua miserável vida e, segundo alguns historiadores, só aceitou a convivência com a famosa espiã, por acreditar que assim poderia abreviar seus dias de infortúnio. Ironicamente, na noite em Mata-Hari foi presa e depois executada, Menelau estava com um garoto de programa, num motel da Córsega, de onde só voltou dois dias depois. A prostituição, o alcoolismo e a falsa moral, vigente na época, privaram este grande homem de passar à História pelos seus grandes feitos. Vivendo como mendigo, doente e abandonado, Menelau III, morreu de complicações na próstata, num albergue mantido pelo estado, no subúrbio de Quintino Bocaiúva, no Rio de Janeiro. (Esta crônica (juntamente com outras 53) está publicada no livro “Dando soco no sereno", de minha autoria) |
anderson fabiano |
Publicado no Recanto das Letras em 28/07/2006 Código do texto: T203894 |
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