Vagueando na Notícia


Participe do fórum, é rápido e fácil

Vagueando na Notícia
Vagueando na Notícia
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Portugueses venderam de 200 milhões em ouro em 3 anos

Ir para baixo

Portugueses venderam de 200 milhões em ouro em 3 anos Empty Portugueses venderam de 200 milhões em ouro em 3 anos

Mensagem por Vitor mango Sáb Nov 13, 2010 11:28 am

Portugueses venderam de 200 milhões em ouro em 3 anos

por JOÃO CÉU E SILVAHojePortugueses venderam de 200 milhões em ouro em 3 anos Icn_comentario

Portugueses venderam de 200 milhões em ouro em 3 anos Ng1374608

Desde que Salazar amealhou várias toneladas de ouro para o património nacional que não se recolhia tanto metal como aconteceu nos últimos mil dias em Portugal. Só que, em vez de ir para os cofres do Banco de Portugal, os portugueses desfazem-se de todo o seu ouro para sobreviver à crise, por medo de assaltos e por ter atingido um alto valor. A sangria dourada verifica-se desde 2008 e a Alemanha é o destino das barras em que as jóias de ouro dos portugueses estão a ser fundidasA crise, o medo de ser assaltado e uma extrema valorização são as principais razões que, desde 2008, têm levado os portugueses a desfazer-se vertiginosamente da maior parte dos objectos de ouro quem têm em sua posse. A febre de venda de ouro que atingiu os portugueses subiu a um grau tão alto que Albino Moutinho, o proprietário da fundição que em Gondomar transforma as jóias, libras e outras moedas e todo o tipo de objectos deste metal em lingotes de ouro para vender à Alemanha, acredita que em dois anos os portugueses esgotarão este tipo de bens que lhes têm vindo a assegurar um complemento aos salários e a pagar crédito malparado.Se a crise é sentida por quase todos os portugueses e a estatística dos assaltos a particulares é na ordem das dezenas por semana, então é na valorização extrema do ouro que quem quer investir ou transformá-lo em dinheiro se refugia. Afinal, o grama deste metal é o mais seguro dos investimentos, visto que em 1999 valia 6,19 euros (ao câmbio actual) enquanto ontem a cotação era de 32,52 euros. Se os motivos referidos já seriam por si só suficientes para aliciar os portugueses a vender um tipo de bem valioso, amealhado por várias gerações na família, a forma fácil como se processa a sua actual venda acabou com os pruridos a quem ainda os tinha. A vontade de realizar dinheiro é facilitada - pode até dizer-se quase forçada - por uma rede de centenas de lojas espalhadas pelo País que, munida de uma forte campanha publicitária, seduz até os mais desconfiados com este modo de realizar dinheiro, pois o pagamento da transacção é realizado em segredo e de imediato. Feitas as contas, desde 2008 que Portugal passou de importador a exportador de ouro num negócio livre de impostos e sem barreiras entre os Estados europeus. Um mercado tão interessado no nosso ouro - cujo grau de pureza é maior do que o dos restantes países europeus - que não tem receio em expor nas montras o produto de assaltos realizados a ourivesarias nacionais, como acontece na Roménia, onde nem retiram as etiquetas das lojas portuguesas. O valor da verba para o ouro que os portugueses já venderam oficialmente nestes últimos mil dias rondará os 200 milhões de euros. Desfazem-se de alianças, fios, medalhas e todo o tipo de objectos de ouro que possuem e em menos de 20 minutos saem das novas lojas que compram ouro no momento com dinheiro vivo na carteira. O passo seguinte - também oficial - é a fundição desse ouro usado e a sua transformação em lingotes que pesam entre cem gramas e até um quilo e que são vendidos a uma empresa alemã. A mesma que até há três anos era fornecedora dos ourives portugueses.A tentação é tão grande que até as famílias ciganas também já aderiram à venda das tradicionais jóias de ouro que ostentavam em casamentos e outras comemorações. Das ciganas, vão-se os fios de ouro, alguns com o peso de um quilo; dos ciganos, vão-se as braceletes com 15 cm de comprimento e com a largura dos pulsos; deles e delas, vão-se as cruzes, os cordões, os anéis e todo o tipo de adornos que até há pouco tempo nunca chegavam a ser comercializados no mercado oficial. Não é por acaso que o dono de uma fundição localizada em Gondomar - a capital portuguesa da ourivesaria - testemunhou ao DN a sua estranheza por ver chegar diariamente nos últimos dois anos ao seu forno dezenas de jóias ciganas, que até lhe dão pena destruir: "Algumas não serão de muito bom gosto, mas a quantidade de ouro com que foram feitas e as horas que os ourives terão demorado na sua confecção até me faz dó mandá-las derreter."Também diariamente chegam às fundições de ouro da região de Gondomar, para serem transformados em lingotes, centenas de fios tradicionais que as minhotas exibiam nas festas da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, e em muitas outras celebrações populares do Norte de Portugal. Neste caso, tal como com muito do ouro de que os ciganos se desfazem, fundem-se artigos que levaram muitos dias de trabalho, ao longo de muitas décadas e séculos, aos artífices especializados nesta arte tão portuguesa como é a filigrana. Aliás, se é de lamentar que o património da arte da filigrana, por exemplo, seja vítima desta combinação do desfazer de bens através da sua fundição, o futuro que está reservado aos ourives e artesãos que a praticavam ainda é menos dourado, porque cada vez mais se observa nos
estabelecimentos de ourivesaria artigos que imitam os nacionais, sóque feitos na vizinha Itália ou na exótica Tailândia. Em vez doentrançar da filigrana, já há réplicas produzidas pelo método deinjecção, de tão grande qualidade que as imitações importadas são atédificilmente detectáveis pelos profissionais do ramo.A razãopara esta espécie de contrafacção se tornar cada vez mais presente nasvitrinas nacionais passa pelo receio que os vendedores têm de serassaltados enquanto percorrem as joalharias de Portugal com malasrepletas de jóias. O mesmo medo perpassa pelos proprietários dasourivesarias que estão inseguros devido à média de um assalto porsemana, receio que há pouco tempo ainda preocupava mais os que tinhamestabelecimentos de rua até ao momento em que lojas no interior doscentros comerciais também passaram a ser vítimas. Em Braga,cidade onde o comércio do ouro é muito elevado, as queixas também sãomuitas. É o caso da Ourivesaria Araújo, onde o dono recuperou há poucosdias parte do produto de um assalto avaliado em 200 mil euros,efectuado há seis meses, por confissão no tribunal dos três autores.Segundo Manuel Araújo, este foi um final feliz, porque não é ohabitual: "Estava num andar deste prédio, escondido num autoclismo."Manuel Araújo dá outros exemplos, como é o caso de nos assaltos atéserem roubadas medalhas esmaltadas sem valor. Entende-se que a respostapolicial é insuficiente e que a investigação desemboca na maior partedos casos num beco sem saída.Também Mário Dias, com umaourivesaria a poucas centenas de metros, reclama da insegurança. No seucaso, a recusa em aceitar a situação de assaltos frequentes vai maislonge e está a tentar reunir a classe para tomar medidas no sentido dedificultar a vida aos ladrões com os meios legais à sua disposição. Deuma coisa, no entanto, tem a certeza: "Os meus filhos já não vão seguiresta profissão, porque ela não tem futuro." A insegurança queos ourives tradicionais vivem nos últimos anos tem crescidoparalelamente à alta do ouro. A frase que mais se ouve entre osproprietários de ourivesarias, que só aceitaram falar sob anonimato, éque "o roubo só existe quando alguém compra o produto". Neste terreno,as acusações divergem quanto à autoria dos assaltos, apesar de, na suaopinião, o denominador comum é serem os gangues do Leste osresponsáveis pela maioria dos assaltos. Não é por acaso que, dizem[dois proprietários], "as montras das ourivesarias da Roménia estãocheias de artigos portugueses".As acusações dos mesmos ourivestradicionais, por outro lado, convergem na afirmação de que aproliferação de lojas não especializadas se transformam numa forma defacilitar a venda do produto da onda de assaltos, porque a vigilânciadas autoridades é inexistente.Na realidade, o ouro que até hápouco tempo era vendido aos ourives - que na maioria das vezesconvenciam o cliente a trocar por uma jóia nova - vai agora para ascentenas de lojas que compram ouro e pagam imediatamente. Esta acusaçãoque pende sobre os cerca de 200 novos estabelecimentos que abriram asportas de norte a sul nos últimos anos nunca foi assumida ao DN comdeclarações dos próprios que pudessem ser publicadas. Cinco donos delojas ouvidos apontaram o dedo, de novo sob o anonimato, ao recentecomércio de compra de ouro, do qual dizem não ser suficientementefiscalizado nem policiado. Existem várias redes de lojas, mas odestaque vai para a Valores, um franchising idealizado para aproveitara miragem do lucro alto que o ouro proporciona e que em pouco mais dedois anos de existência passou de cinco lojas, em Novembro de 2008,para 135 até à semana passada. Deste número, 15 são próprias, enquanto120 pertencem a empresários que encontraram no ramo uma resposta aodesemprego e ao investimento. O negócio é bom para as duas partes,estando o empresário pronto para abrir a porta da loja após umaformação duma semana e com a retaguarda protegida pela proprietário dofranchising, que garante o escoamento de toda a mercadoria comprada aosbalcões das lojas.Quando questionado sobre a referida falta defiscalização, André Pinto, administrador da Valores, refere que váriaslojas da cadeia também têm sido assaltadas e recusou qualquerilegalidade nos espaços franchisados: "Nas nossas lojas não conseguemmeter [o produto de roubos], porque todas as compras são declaradas àPolícia Judiciária a cada oito dias, para além de exigirmos o bilhetede identidade a quem vende." Este responsável não duvida de que há "umpreconceito que todos os dias combatemos" para com as lojas da rede,porque este "era um negócio fechado e criámos uma oportunidadeempresarial". Remata: "O ouro está em alta há dez anos, por issopegámos num negócio fechado a uma classe e abrimo-lo a outros que estãoa beneficiar de uma oportunidade empresarial."Apesar de ohorizonte desta febre do ouro estar no seu pico mais alto e aperspectiva do negócio ser, dizem os entendidos, hiperlucrativo apenaspor mais dois anos, os empresários que aderem à Valores são suficientespara garantir a expansão da rede em mais algumas dezenas de lojas aindanos próximos meses. E, como a diversificação dos mercados é a máxima dosistema capitalista, já abriram cinco lojas na apetecível Galiza eprepara-se a criação do mesmo franchising no México e na França. Redesque abrirão em breve, obedecendo ao mesmo perfil que funcionou emPortugal.A existência destas redes de lojas privilegiam oatendimento pessoal, rápido e com absoluta discrição. O perfil docliente-tipo é a mulher de meia-idade que quer desfazer-se do ouro quetem em casa porque receia um assalto e acredita que o preço não vaisubir mais do que aquele que já se alcançou. É um bom negócio para asduas partes, porque a pessoa desfaz-se do ouro que já não usa - namaioria das vezes, os objectos estão fora de moda ou estragados - e aslojas arrebanham todo o tipo de produtos para fundir e transformar emlingotes. Entre tanto cascalho (expressão que designa entre osprofissionais os objectos avulsos), há sempre peças que são de boaqualidade e que farão parte de lotes que compensam os de menorqualidade. Quem não aprecia esta oportunidade de negócio quesurgiu em 2008 são os ourives. Habituados a ser os destinatários docascalho, viram de um momento para o outro perder esse filão que lhesentrava a muito bom preço pela porta e não acharam resposta para aconcorrência até agora que não o do habitual lamento do comérciotradicional. Mesmo pagando muito mais que estas lojas, a ofertadeslocou-se veloz e ferozmente para os estabelecimentos onde adiscrição impera e as notas de euros são logo postas sobre a mesa. Adiferença do que é pago pelo mesmo objecto de ouro pode atingir grandesdisparidades de loja para loja e destas para as ourivesarias. Osclientes já o entenderam e antes de efectuarem a transacção visitamdois ou três franchises para ver qual deles paga melhor e escolhem oque mais os beneficiam, obrigando a uma normalização do preço cada vezmaior entre estes estabelecimentos. Quanto às ourivesarias, onde oobjecto seria sempre mais bem pago, o cliente acaba por as deixar delado para evitar ser reconhecido por outros clientes e empregados e,também, pelo menor empenho em tratar do assunto com rapidez e discrição.Passardespercebido durante a transacção é um dos segredos do actual negóciodo ouro. Nas lojas franchisadas, a porta para a rua está semprefechada, a montra é translúcida e não deixa ver o interior, não há maisdo que um cliente em simultâneo e, feita a transacção, volta-se à rua eestá-se de novo misturado entre a população. O DN tentou falarcom várias pessoas que entraram nessas lojas para saber das razões queas levavam a desfazer-se dos bens e o resultado da tentativa foi sempredesastroso. Num dos contactos, numa destas lojas em Braga, aexperiência foi quase violenta face à resposta física que um casal deu.Se os portugueses querem discrição, a pouco mais de cemquilómetros desta cidade, a reacção por parte dos clientes espanhóis ébem diferente. Em Vigo, na joalharia Zafiro, as perguntas são feitas àsclaras e as respostas dadas sem equívocos. Enquanto se pergunta àproprietária informações sobre o negócio do ouro, ela fez avaliações adois clientes e o marido informou a cotação do dia a um homem queentrou no estabelecimento e, sem vergonha, o inquiriu. Aqui, o cascalhotambém tem uma alcunha - chatarra - e segue o mesmo caminho que emPortugal devido aos mesmos receios: assaltos, fora de moda e medo deperder a oportunidade de um alto lucro.Flor, que está há 25 anosà frente da Zafiro, refere que o ouro português é mais puro que oespanhol e que por isso o cliente não atravessa a fronteira nem paracomprar ou vender, apesar de duas placas bem visíveis na montraavisarem que "Se compra oro". Do outro lado da Rua do Príncipe (antigaCalle del Príncipe), a tradicional Joyería Resende não compra ouro masconfirma que tem conhecimento das regras de oferta e da procura destemercado porque os preços são atractivos. Confirma que nenhum portuguêsentrou na loja com intenção de vender ouro mas no que respeita aespanhóis são muitos, e diz: "Precisam de liquidez e aproveitam aocasião." Como a Joyería Resende não negoceia ouro, não irásentir a concorrência que dentro de semanas afectará, decerto, aZafiro. É que a invasão da Galiza pelas lojas da Valores está em marchae, para além do balcão que já abriram em Vigo, a 800 metros destes doisestabelecimentos, há em Pontevedra duas lojas em pleno funcionamento. Anegociação de novos franchises está de vento em popa e em 2011 serãodezenas as novas lojas, com o mesmo design das que abriram em Portugal,sempre de cor verde e com um boneco feito de uma barra de ouro comologótipo, a abrir portas em todo o país vizinho. Um movimentoque não é acompanhado pelas ourivesarias tradicionais nem pelosfabricantes de ourivesaria nacional. Em Gondomar, a apelidada capitalda ourivesaria, e onde o autarca Valentim Loureiro mandou erigir umaestátua à classe, a situação dos seus profissionais mostra bem como ofim desta actividade se aproxima. Quem procurar as oficinas onde secriam obras de arte nacionais dificilmente as encontrará, porque arenovação de instalações e a actualização de novos modelos de negóciossão inexistentes. Nalgumas oficinas, a própria mesa de trabalho do ouroserve de mesa para as refeições. Outro exemplo: numa empresa deGondomar que vende equipamento para esta actividade, estão em exposiçãovárias máquinas. Segundo o responsável, o que os artesãos compram sãoas máquinas de 18 euros, que os apaixonados da bricolage utilizam, emvez de aparelhos importados da Coreia, que custam 200 a 300 euros, massão os exigidos pela arte da ourivesaria. A desactualização é tãogrande que quando se quis saber a morada de uma fundição de ouro olojista consultou o catálogo da Associação de Industriais daOurivesaria e Relojoaria do Norte e forneceu um endereço que já nãoexiste há cinco anos.Alheio a tudo isto está Augusto Ferreira,que há 37 anos vende castanhas na Rua de Santa Catarina, onde o negóciodo ouro é grande. Afinal, a cotação da dúzia de castanhas não sobe dosdois euros!
Vitor mango
Vitor mango

Pontos : 117438

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos