Ainda o Benfica
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Ainda o Benfica
Ainda o Benfica
A eliminatória entre o Benfica e o Paris Saint-Germain, que daqui a pouco se decide, deve estar a criar um sentimento de divisão nos muitos portugueses e luso-descendentes que, em Paris, têm o clube francês no coração. E não vale a pena estar aqui a clamar pela veia patriótica, porque as emoções estão para além de qualquer racionalidade.
Curiosamente, devo dizer que nunca senti a minha vontade pender em favor de um clube estrangeiro, numa qualquer disputa com um clube português. Mas admito perfeitamente que outros tenham uma atitude diferente. Eu faço-o, naturalmente, não por grande empatia com qualquer das restantes equipas nacionais - só tenho uma simpatia, como a maioria de nós -, mas porque sempre achei que uma vitória portuguesa faz muito pelo ego dos nossos compatriotas no estrangeiro, os quais devem ter um grande prazer em entrar no emprego, no dia seguinte, com um sorriso ganhador. Esta será, com certeza, a compensação mínima pelas agruras que a vida lhes possa trazer. Só por isso, que é muito, sempre pensei que vale a pena estar do lado de todos os clubes portugueses que atuam cá fora, embora eles não dependam do meu apoio, para ganhar ou perder.
A historieta que vou contar passou-se em 1988. O Benfica disputava a final da antiga Taça dos Campeões Europeus, em Estugarda, na Alemanha, contra os holandeses do PSV Eindhoven. De Lisboa, tinham partido muitos aviões e eu estava - já nem sei bem porquê! - entre os convidados para ver o jogo, em que se contavam imensos sportinguistas, que iam abertamente apoiar o Benfica. O nosso grupo era divertidíssimo e lembro-me que Miguel Esteves Cardoso escreveu uma crónica imperdível sobre aquela experiência.
O partida foi difícil, com as chuteiras dos jogadores do Benfica a descalçarem-se, por inexplicadas razões. Ao final do tempo regulamentar, o resultado era um nulo. Foi-se para prolongamento e tudo se manteve igual. Restavam os penáltis. E é aí que a cena se passa.
José Vera Jardim, um sportinguista dos sete costados, que estava ao meu lado, voltou-se para outro grande sportinguista, o padre Vitor Melícias, e apelou:
- Ó padre Melícias. Contamos com umas oraçõezinhas suas para os penáltis!
Vitor Melícias quebrou a nervoseira geral, naquele momento algo tenso, com a sua pronta resposta, no tom de voz tão típico que é o seu:
- Orações?! Essa agora! Eu já aguentei isto a "pai-nossos" e "avé-marias" até ao final do prolongamento. Agora, para os penáltis, só o cardeal patriarca!
O cardeal não estava lá e o Benfica perdeu.
Postado por Francisco Seixas da Costa
A eliminatória entre o Benfica e o Paris Saint-Germain, que daqui a pouco se decide, deve estar a criar um sentimento de divisão nos muitos portugueses e luso-descendentes que, em Paris, têm o clube francês no coração. E não vale a pena estar aqui a clamar pela veia patriótica, porque as emoções estão para além de qualquer racionalidade.
Curiosamente, devo dizer que nunca senti a minha vontade pender em favor de um clube estrangeiro, numa qualquer disputa com um clube português. Mas admito perfeitamente que outros tenham uma atitude diferente. Eu faço-o, naturalmente, não por grande empatia com qualquer das restantes equipas nacionais - só tenho uma simpatia, como a maioria de nós -, mas porque sempre achei que uma vitória portuguesa faz muito pelo ego dos nossos compatriotas no estrangeiro, os quais devem ter um grande prazer em entrar no emprego, no dia seguinte, com um sorriso ganhador. Esta será, com certeza, a compensação mínima pelas agruras que a vida lhes possa trazer. Só por isso, que é muito, sempre pensei que vale a pena estar do lado de todos os clubes portugueses que atuam cá fora, embora eles não dependam do meu apoio, para ganhar ou perder.
A historieta que vou contar passou-se em 1988. O Benfica disputava a final da antiga Taça dos Campeões Europeus, em Estugarda, na Alemanha, contra os holandeses do PSV Eindhoven. De Lisboa, tinham partido muitos aviões e eu estava - já nem sei bem porquê! - entre os convidados para ver o jogo, em que se contavam imensos sportinguistas, que iam abertamente apoiar o Benfica. O nosso grupo era divertidíssimo e lembro-me que Miguel Esteves Cardoso escreveu uma crónica imperdível sobre aquela experiência.
O partida foi difícil, com as chuteiras dos jogadores do Benfica a descalçarem-se, por inexplicadas razões. Ao final do tempo regulamentar, o resultado era um nulo. Foi-se para prolongamento e tudo se manteve igual. Restavam os penáltis. E é aí que a cena se passa.
José Vera Jardim, um sportinguista dos sete costados, que estava ao meu lado, voltou-se para outro grande sportinguista, o padre Vitor Melícias, e apelou:
- Ó padre Melícias. Contamos com umas oraçõezinhas suas para os penáltis!
Vitor Melícias quebrou a nervoseira geral, naquele momento algo tenso, com a sua pronta resposta, no tom de voz tão típico que é o seu:
- Orações?! Essa agora! Eu já aguentei isto a "pai-nossos" e "avé-marias" até ao final do prolongamento. Agora, para os penáltis, só o cardeal patriarca!
O cardeal não estava lá e o Benfica perdeu.
Postado por Francisco Seixas da Costa
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