Daniel de Oliveira não pára de me surpreender pela positiva
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Daniel de Oliveira não pára de me surpreender pela positiva
Cinco más razões para um disparate
por Daniel Oliveira
Cinco dias depois de criticar a ameaça que o PCP fez de avançar com uma moção de censura, o Bloco de Esquerda desdisse-se e anunciou a sua. E anunciou-a para daqui um mês, coisa no mínimo bizarra. Tentemos descortinar o objetivo da apresentação de uma moção de censura por parte do Bloco de Esquerda. Cinco possibilidades: o Bloco queria eleições antecipadas, queria que o PSD clarificasse a sua posição em relação ao governo, queria antecipar-se ao PCP, queria pedir desculpas por ter apoiado Manuel Alegre ou apenas queria aparecer na televisão durante um mês.
1 - O Bloco de Esquerda quer provocar eleições antecipadas. Caso o conseguisse, segundo todas as sondagens, estaria a entregar o governo à direita mais extremista do ponto de vista social e económico que já pôde vencer eleições em Portugal. Ou seja, tudo o que move o Bloco na sua justa contestação a este governo - direitos sociais, emprego, defesa do Estado Social - só poderia piorar. O resultado para o Bloco de Esquerda, caso isto acontecesse, é facilmente previsível: o mesmo que aconteceu ao PRD quando avançou com a sua. Dificilmente o eleitorado do BE perdoaria a entrega do poder ao PSD.
Mas foi o próprio Bloco que, em mais um gesto incompreensível, pediu aos deputados do PSD para não votarem a sua moção. Acho que nunca tinha visto um partido fazer campanha pelo voto contra uma proposta sua. E o facto de ter sentido necessidade de o fazer demonstra como se deixou embrenhar na sua própria tática estapafúrdia e que rapidamente se apercebeu disso mesmo. As coisas fazem-se com convicção. Quando assim não é, dá disparate.
O Bloco atirou-se para uma aventura em que, apesar dos enormes riscos para si próprio e para o País, não controla o resultado final. Ficou nas mãos dos caprichos do PSD. Entre a fome de poder do aparelho social-democrata ou medo da nova liderança perder o comando do partido antes do governo cair e o receio da reacção do seu eleitorado ao precipitar uma crise política, Passos Coelho vai pelo caminho mais cauteloso. Aliás, toda a estratégia - avançar depressa e deixar para as vésperas de um Conselho Europeu a sua votação - parece ter sido desenhada para obrigar o PSD votar contra. O Bloco avança com uma moção de censura de forma a ter a certeza absoluta que ela é chumbada. Percebe-se o absurdo disto?
Com esta estratégia só havia um vencedor garantido: o PSD. Se aprovasse a moção, chegava ao poder. Se a inviabilizasse, voltava a fazer o papel de responsável. E um perdedor: O Bloco de Esquerda. Se a sua moção fosse aprovada o seu eleitorado não lhe perdoaria; se fosse chumbada todos perceberiam a futilidade deste gesto, que beneficiaria, como vai beneficiar, José Sócrates, que assim tem um balão de oxigénio: fica claro que o governo não vai cair até ao Orçamento. Ou seja, o Bloco censura o governo e acaba por lhe dar espaço de manobra.
2 - O Bloco de Esquerda quer comprometer o PSD com as políticas do PS. Quer um momento de clarificação. Este tem sido o argumento mais usado. E é o que melhor explica o facto do Bloco ter esvaziado a sua moção quando percebeu que, escrevesse o que escrevesse nos considerandos, havia quem, entre os social-democratas, quisesse aproveitar este momento para fazer cair o governo. O PSD viabilizou os dois PEC. O PSD viabilizou o Orçamento de Estado. Essa clarificação está feita há imenso tempo e não vai ser nem maior nem menor a quando da votação da moção de censura. O PSD vai dar o mesmo argumento de sempre: abstém-se por causa da estabilidade económica do País. Só que desta vez é ainda mais fácil: a proposta atacará o próprio PSD; ao abster-se o PSD não viabilizará nenhuma medida prática do governo, ao contrário do que fez das outras vezes; a votação será nas vésperas de um Conselho Europeu fundamental; a moção vem de um partido que lhe está politicamente distante. Não se clarifica nada que não esteja, de forma bem mais evidente, clarificado. Tanto risco para uma redundância.
3 - O Bloco de Esquerda quis-se antecipar ao PCP, que ameaçou com uma moção, que o próprio BE tinha criticado. Esta obsessão com o PCP dificilmente encontra uma justificação política racional. O Bloco não disputa eleitorado com o PCP. O Bloco não é oposição ao PCP. O Bloco disputa e é oposição ao PS e à direita. Só recuando muito na história, a um período em que o Bloco de Esquerda nem existia, e pensando nas velhas guerras de alguns setores que deram origem ao BE, é que podemos compreender este obsessão com os comunistas. Um reflexo condicionado que leva o Bloco, mesmo quando já tem mais peso político do que o PCP, a teimar em ser o seu eco ou uma versão modernizada dos comunistas. O resultado, mais uma vez, é o contrário ao pretendido: o PCP prova que tem um ascendente sobre o Bloco e que este vive num incompreensível complexo de inferioridade em relação aos comunistas. Uma vitória que o PCP não esperava: basta ameaçar fazer que o BE faz. E faz o que, no primeiro minuto, criticou.
4 - O Bloco de Esquerda quis conter os danos da derrota de Manuel Alegre. Uma espécie de pedido de desculpas pela ousadia. E com isto consegue fazer o pleno da derrota: depois de irritar o seu eleitorado que não gostou de o ver a apoiar o mesmo candidato que o PS, irrita o eleitorado que votou em Manuel Alegre, que além de se sentir traído percebe a inconsequência estratégica do Bloco. E deita a perder as relações de confiança que, apesar de tudo, foi construindo com independentes e socialistas críticos de Sócrates. Dois anos de trabalho atirados para o lixo.
Não é a primeira vez que isto acontece. Já com José Sá Fernandes, depois de uma tentativa de alargamento da sua base política e social, o Bloco entrou em pânico, meteu os pés pelas mãos e acabou com uma estrondosa derrota nas urnas: os eleitores do Bloco mostraram que são bem menos propensos ao sectarismo do que alguns dos seus dirigentes. Só que dessa vez o próprio Sá Fernandes teve algumas responsabilidades na rutura. O mesmo não se pode dizer agora. O Bloco não pode continuar a fazer é este jogo do toca e foge, em que tenta seguir um caminho e à primeira contrariedade se arrepende. Caso contrário, o seu eleitorado fica tonto com tanta volta e reviravolta. O Bloco tem de aprender a viver com as derrotas. Elas acontecem na política e devem ser geridas com inteligências e ponderação.
Mas há uma possibilidade um pouco mais assustadora: que esta moção queira garantir uma clarificação, sim, mas interna. Que tenha como principal função mostrar que se desistiu definitivamente da ideia de reconstruir a esquerda, sabendo que para isso seria fundamental contar com uma parte da base social de apoio do PS, descontente com Sócrates mas pouco interessada em partidos que se acham autossuficientes e vanguardistas. Para isso já tinham o PCP e não consta que alguma vez o tenham escolhido como alternativa ao PS. Uma coisa é certa: sem esse povo de esquerda que vota tradicionalmente no PS não haverá nenhuma reconstrução do espaço político à esquerda. E se o Bloco julga que lhe chega o voto de protesto momentâneo está a enfiar-se num beco sem saída. Esse voto vai e volta, com ele não se tem um crescimento sustentável e, talvez mais importante, sendo inorgânico não se constrói com ele qualquer movimento político e social digno desse nome. Garante apenas vitórias de ocasião que dependem mais do populismo e da simpatia mediática de cada momento do que da construção sólida de um movimento político.
5 - O Bloco avançou com esta moção como mero truque mediático para garantir a atenção das televisões e jornais durante um mês. Além da futilidade da coisa, que corresponde a um frenesim inconsequente, ela acaba por revelar a fragilidade do próprio Bloco. Às vezes, "no news, good news". Sim, o Bloco vai estar na berlinda. Suspeito é que o vá lamentar demasiadas vezes.
Não é fácil descobrir o que estaria na cabeça dos dirigentes do Bloco quando resolveram avançar com este disparate. Seja qual for a razão, todas elas são más. A primeira é irresponsável, a segunda redundante, a terceira complexada, a quarta inconsequente e a quinta fútil. E seja qual for a verdadeira, todas garantem uma derrota para o Bloco e todas revelam impreparação tática, calculismo inconsequente e falta de solidez estratégica.
O meu problema não é a censura ao governo, que só pode contar com o meu apoio. São as consequências práticas desta moção. E um partido não se limita a gritar a revolta. Tem de lhe dar um caminho medindo as consequências de cada ação. Se alguém, para censurar o governo, avançar com a ideia de nos atirarmos todos ao rio eu serei contra. Porque sou menos convicto na oposição às políticas do primeiro-ministro? Não. Sou só menos maluco.
por Daniel Oliveira
Cinco dias depois de criticar a ameaça que o PCP fez de avançar com uma moção de censura, o Bloco de Esquerda desdisse-se e anunciou a sua. E anunciou-a para daqui um mês, coisa no mínimo bizarra. Tentemos descortinar o objetivo da apresentação de uma moção de censura por parte do Bloco de Esquerda. Cinco possibilidades: o Bloco queria eleições antecipadas, queria que o PSD clarificasse a sua posição em relação ao governo, queria antecipar-se ao PCP, queria pedir desculpas por ter apoiado Manuel Alegre ou apenas queria aparecer na televisão durante um mês.
1 - O Bloco de Esquerda quer provocar eleições antecipadas. Caso o conseguisse, segundo todas as sondagens, estaria a entregar o governo à direita mais extremista do ponto de vista social e económico que já pôde vencer eleições em Portugal. Ou seja, tudo o que move o Bloco na sua justa contestação a este governo - direitos sociais, emprego, defesa do Estado Social - só poderia piorar. O resultado para o Bloco de Esquerda, caso isto acontecesse, é facilmente previsível: o mesmo que aconteceu ao PRD quando avançou com a sua. Dificilmente o eleitorado do BE perdoaria a entrega do poder ao PSD.
Mas foi o próprio Bloco que, em mais um gesto incompreensível, pediu aos deputados do PSD para não votarem a sua moção. Acho que nunca tinha visto um partido fazer campanha pelo voto contra uma proposta sua. E o facto de ter sentido necessidade de o fazer demonstra como se deixou embrenhar na sua própria tática estapafúrdia e que rapidamente se apercebeu disso mesmo. As coisas fazem-se com convicção. Quando assim não é, dá disparate.
O Bloco atirou-se para uma aventura em que, apesar dos enormes riscos para si próprio e para o País, não controla o resultado final. Ficou nas mãos dos caprichos do PSD. Entre a fome de poder do aparelho social-democrata ou medo da nova liderança perder o comando do partido antes do governo cair e o receio da reacção do seu eleitorado ao precipitar uma crise política, Passos Coelho vai pelo caminho mais cauteloso. Aliás, toda a estratégia - avançar depressa e deixar para as vésperas de um Conselho Europeu a sua votação - parece ter sido desenhada para obrigar o PSD votar contra. O Bloco avança com uma moção de censura de forma a ter a certeza absoluta que ela é chumbada. Percebe-se o absurdo disto?
Com esta estratégia só havia um vencedor garantido: o PSD. Se aprovasse a moção, chegava ao poder. Se a inviabilizasse, voltava a fazer o papel de responsável. E um perdedor: O Bloco de Esquerda. Se a sua moção fosse aprovada o seu eleitorado não lhe perdoaria; se fosse chumbada todos perceberiam a futilidade deste gesto, que beneficiaria, como vai beneficiar, José Sócrates, que assim tem um balão de oxigénio: fica claro que o governo não vai cair até ao Orçamento. Ou seja, o Bloco censura o governo e acaba por lhe dar espaço de manobra.
2 - O Bloco de Esquerda quer comprometer o PSD com as políticas do PS. Quer um momento de clarificação. Este tem sido o argumento mais usado. E é o que melhor explica o facto do Bloco ter esvaziado a sua moção quando percebeu que, escrevesse o que escrevesse nos considerandos, havia quem, entre os social-democratas, quisesse aproveitar este momento para fazer cair o governo. O PSD viabilizou os dois PEC. O PSD viabilizou o Orçamento de Estado. Essa clarificação está feita há imenso tempo e não vai ser nem maior nem menor a quando da votação da moção de censura. O PSD vai dar o mesmo argumento de sempre: abstém-se por causa da estabilidade económica do País. Só que desta vez é ainda mais fácil: a proposta atacará o próprio PSD; ao abster-se o PSD não viabilizará nenhuma medida prática do governo, ao contrário do que fez das outras vezes; a votação será nas vésperas de um Conselho Europeu fundamental; a moção vem de um partido que lhe está politicamente distante. Não se clarifica nada que não esteja, de forma bem mais evidente, clarificado. Tanto risco para uma redundância.
3 - O Bloco de Esquerda quis-se antecipar ao PCP, que ameaçou com uma moção, que o próprio BE tinha criticado. Esta obsessão com o PCP dificilmente encontra uma justificação política racional. O Bloco não disputa eleitorado com o PCP. O Bloco não é oposição ao PCP. O Bloco disputa e é oposição ao PS e à direita. Só recuando muito na história, a um período em que o Bloco de Esquerda nem existia, e pensando nas velhas guerras de alguns setores que deram origem ao BE, é que podemos compreender este obsessão com os comunistas. Um reflexo condicionado que leva o Bloco, mesmo quando já tem mais peso político do que o PCP, a teimar em ser o seu eco ou uma versão modernizada dos comunistas. O resultado, mais uma vez, é o contrário ao pretendido: o PCP prova que tem um ascendente sobre o Bloco e que este vive num incompreensível complexo de inferioridade em relação aos comunistas. Uma vitória que o PCP não esperava: basta ameaçar fazer que o BE faz. E faz o que, no primeiro minuto, criticou.
4 - O Bloco de Esquerda quis conter os danos da derrota de Manuel Alegre. Uma espécie de pedido de desculpas pela ousadia. E com isto consegue fazer o pleno da derrota: depois de irritar o seu eleitorado que não gostou de o ver a apoiar o mesmo candidato que o PS, irrita o eleitorado que votou em Manuel Alegre, que além de se sentir traído percebe a inconsequência estratégica do Bloco. E deita a perder as relações de confiança que, apesar de tudo, foi construindo com independentes e socialistas críticos de Sócrates. Dois anos de trabalho atirados para o lixo.
Não é a primeira vez que isto acontece. Já com José Sá Fernandes, depois de uma tentativa de alargamento da sua base política e social, o Bloco entrou em pânico, meteu os pés pelas mãos e acabou com uma estrondosa derrota nas urnas: os eleitores do Bloco mostraram que são bem menos propensos ao sectarismo do que alguns dos seus dirigentes. Só que dessa vez o próprio Sá Fernandes teve algumas responsabilidades na rutura. O mesmo não se pode dizer agora. O Bloco não pode continuar a fazer é este jogo do toca e foge, em que tenta seguir um caminho e à primeira contrariedade se arrepende. Caso contrário, o seu eleitorado fica tonto com tanta volta e reviravolta. O Bloco tem de aprender a viver com as derrotas. Elas acontecem na política e devem ser geridas com inteligências e ponderação.
Mas há uma possibilidade um pouco mais assustadora: que esta moção queira garantir uma clarificação, sim, mas interna. Que tenha como principal função mostrar que se desistiu definitivamente da ideia de reconstruir a esquerda, sabendo que para isso seria fundamental contar com uma parte da base social de apoio do PS, descontente com Sócrates mas pouco interessada em partidos que se acham autossuficientes e vanguardistas. Para isso já tinham o PCP e não consta que alguma vez o tenham escolhido como alternativa ao PS. Uma coisa é certa: sem esse povo de esquerda que vota tradicionalmente no PS não haverá nenhuma reconstrução do espaço político à esquerda. E se o Bloco julga que lhe chega o voto de protesto momentâneo está a enfiar-se num beco sem saída. Esse voto vai e volta, com ele não se tem um crescimento sustentável e, talvez mais importante, sendo inorgânico não se constrói com ele qualquer movimento político e social digno desse nome. Garante apenas vitórias de ocasião que dependem mais do populismo e da simpatia mediática de cada momento do que da construção sólida de um movimento político.
5 - O Bloco avançou com esta moção como mero truque mediático para garantir a atenção das televisões e jornais durante um mês. Além da futilidade da coisa, que corresponde a um frenesim inconsequente, ela acaba por revelar a fragilidade do próprio Bloco. Às vezes, "no news, good news". Sim, o Bloco vai estar na berlinda. Suspeito é que o vá lamentar demasiadas vezes.
Não é fácil descobrir o que estaria na cabeça dos dirigentes do Bloco quando resolveram avançar com este disparate. Seja qual for a razão, todas elas são más. A primeira é irresponsável, a segunda redundante, a terceira complexada, a quarta inconsequente e a quinta fútil. E seja qual for a verdadeira, todas garantem uma derrota para o Bloco e todas revelam impreparação tática, calculismo inconsequente e falta de solidez estratégica.
O meu problema não é a censura ao governo, que só pode contar com o meu apoio. São as consequências práticas desta moção. E um partido não se limita a gritar a revolta. Tem de lhe dar um caminho medindo as consequências de cada ação. Se alguém, para censurar o governo, avançar com a ideia de nos atirarmos todos ao rio eu serei contra. Porque sou menos convicto na oposição às políticas do primeiro-ministro? Não. Sou só menos maluco.
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