Tenho para aí ouvido ùltimamente da batalha dos Atoleiros...
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Tenho para aí ouvido ùltimamente da batalha dos Atoleiros...
Tenho para aí ouvido ùltimamente da batalha dos Atoleiros...
Pois nada melhor do que ler as crónicas.
«
E Nuno Álvares com sua gente era já em um lugar bem convinhável pera a
batalha, onde chamam os Atoleiros, uma meia légua pouco mais ou menos
aquém de Fronteira, de contra Estremoz. E como Nuno Álvares foi em
aquele lugar [i.e. E sendo Nuno Álvares naquele lugar -- a forma foi é do verbo ser e não do verbo ir,
que seria idiolecto brasílico absolutamente descabido], sendo já certo
que os castelãos vinham à batalha, fez logo descer a pé terra todos os
seus homens de armas. E dessa pouca gente que tinha concertou suas
batalhas da vanguarda e retaguarda e alas direita e esquerda. E fez
concertar os besteiros e homens de pé para as alas e por onde entendeu
que melhor estaria para bem pelejar. E tudo isto feito e concertado
começou de andar pelas batalhas em cima duma mula esforçando todas as
gentes com boas palavras e gesto ledo. E dizendo a todos que lhes
lembrassem bem em seus corações quatro cousas. A primeira que se
encomendassem a Deus e à Virgem Maria sua madre e o tivessem assim em
suas vontades. E a segunda que eram ali por servir seu senhor e alcançar
honra grande que a Deus prazeria de lhe dar. E a terceira como ali
vinham por defender-se e suas casas e a terra que possuíam e se tirar da
sujeição em que os el-rei de Castela queria pôr. E a quarta que sempre
tivessem nos entendimentos de sofrer todo trabalho e de apreciar em
pelejar, não uma hora mas um dia todo e mais, se cumprisse. E ditas
estas palavras os castelhanos eram mui acerca deles. E Nuno Álvares se
desceu logo da mula em que andava e se pôs a pé na vanguarda ante a sua
bandeira por cumprir aquilo que em Estremoz dissera que, com ajuda de
Deus, ele seria dos primeiros que começasse[m] a obra; o valente e
verdadeiro cavaleiro que não dissimulava mas cumpria o por ele
prometido. E a tenção sua era que os castelãos viessem a pé à batalha. E
eles traziam esse propósito, mas, como viram Nuno Álvares com sua gente
assim de pé e corrigida para vencer ou morrer, mudaram seu propósito e
ordenaram que viessem à batalha de cavalo, atrevendo-se que eram muitos e
bem encavalgados e que logo os desbaratariam. E concertaram suas
batalhas a cavalo: e toparam mui de rijo em Nuno Álvares e nos seus,
mostrando grande esforço e dando grandes alaridos como mouros cuidando
os espantar. E ali foi a batalha em volta e bem pelejada. E nos
primeiros golpes foram mortos e feridos muitos cavalos dos castelãos. E
com as feridas os cavalos alvoraçavam e derribavam-se e seus donos e
retraíam atrás. E vinham os outros de refresco que estavam detrás para
isto apartados. E assim lhes aveio como aos primeiros, de guisa que
prouve a Deus de os castelãos serem desbaratados. E foram mortos dos
castelãos muitos: entre os quais morreu aí o Mestre de Alcântara e Pêro
Gonçalves de Sevilha e outros grandes. E [o] prior [do Hospital, irmão
de Nuno Álvares]. E Martim Anes de Barbudo [a] que se chamava [da banda
dos castelhanos] Mestre de Avis. E outros fugiram. E Nuno Álvares vendo
em como os castelhanos eram desbaratados, e que fugiam, foi logo a
cavalo, com mui poucos dos seus porque tão asinha todos não puderam
haver bestas, e seguiram o encalço aos que fugiam uma légua e meia até
que, por noite, forçado foi de se tornar.»
Crónica do Condestável, cap. XXVIII (grafia e pontuação muito modernizadas).
(Ilustração: Carlos Alberto in História de Portugal, 13ª ed., Agência Portuguesa de Revistas, [s.l.], 1968.)
Escrito com Bic Laranja às 22:21
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Pois nada melhor do que ler as crónicas.
«
E Nuno Álvares com sua gente era já em um lugar bem convinhável pera a
batalha, onde chamam os Atoleiros, uma meia légua pouco mais ou menos
aquém de Fronteira, de contra Estremoz. E como Nuno Álvares foi em
aquele lugar [i.e. E sendo Nuno Álvares naquele lugar -- a forma foi é do verbo ser e não do verbo ir,
que seria idiolecto brasílico absolutamente descabido], sendo já certo
que os castelãos vinham à batalha, fez logo descer a pé terra todos os
seus homens de armas. E dessa pouca gente que tinha concertou suas
batalhas da vanguarda e retaguarda e alas direita e esquerda. E fez
concertar os besteiros e homens de pé para as alas e por onde entendeu
que melhor estaria para bem pelejar. E tudo isto feito e concertado
começou de andar pelas batalhas em cima duma mula esforçando todas as
gentes com boas palavras e gesto ledo. E dizendo a todos que lhes
lembrassem bem em seus corações quatro cousas. A primeira que se
encomendassem a Deus e à Virgem Maria sua madre e o tivessem assim em
suas vontades. E a segunda que eram ali por servir seu senhor e alcançar
honra grande que a Deus prazeria de lhe dar. E a terceira como ali
vinham por defender-se e suas casas e a terra que possuíam e se tirar da
sujeição em que os el-rei de Castela queria pôr. E a quarta que sempre
tivessem nos entendimentos de sofrer todo trabalho e de apreciar em
pelejar, não uma hora mas um dia todo e mais, se cumprisse. E ditas
estas palavras os castelhanos eram mui acerca deles. E Nuno Álvares se
desceu logo da mula em que andava e se pôs a pé na vanguarda ante a sua
bandeira por cumprir aquilo que em Estremoz dissera que, com ajuda de
Deus, ele seria dos primeiros que começasse[m] a obra; o valente e
verdadeiro cavaleiro que não dissimulava mas cumpria o por ele
prometido. E a tenção sua era que os castelãos viessem a pé à batalha. E
eles traziam esse propósito, mas, como viram Nuno Álvares com sua gente
assim de pé e corrigida para vencer ou morrer, mudaram seu propósito e
ordenaram que viessem à batalha de cavalo, atrevendo-se que eram muitos e
bem encavalgados e que logo os desbaratariam. E concertaram suas
batalhas a cavalo: e toparam mui de rijo em Nuno Álvares e nos seus,
mostrando grande esforço e dando grandes alaridos como mouros cuidando
os espantar. E ali foi a batalha em volta e bem pelejada. E nos
primeiros golpes foram mortos e feridos muitos cavalos dos castelãos. E
com as feridas os cavalos alvoraçavam e derribavam-se e seus donos e
retraíam atrás. E vinham os outros de refresco que estavam detrás para
isto apartados. E assim lhes aveio como aos primeiros, de guisa que
prouve a Deus de os castelãos serem desbaratados. E foram mortos dos
castelãos muitos: entre os quais morreu aí o Mestre de Alcântara e Pêro
Gonçalves de Sevilha e outros grandes. E [o] prior [do Hospital, irmão
de Nuno Álvares]. E Martim Anes de Barbudo [a] que se chamava [da banda
dos castelhanos] Mestre de Avis. E outros fugiram. E Nuno Álvares vendo
em como os castelhanos eram desbaratados, e que fugiam, foi logo a
cavalo, com mui poucos dos seus porque tão asinha todos não puderam
haver bestas, e seguiram o encalço aos que fugiam uma légua e meia até
que, por noite, forçado foi de se tornar.»
Crónica do Condestável, cap. XXVIII (grafia e pontuação muito modernizadas).
(Ilustração: Carlos Alberto in História de Portugal, 13ª ed., Agência Portuguesa de Revistas, [s.l.], 1968.)
Escrito com Bic Laranja às 22:21
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 117360
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