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Há livros que estragam o mundo?

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Mensagem por Vitor mango Sáb Set 21, 2013 9:10 am

Há livros que estragam o mundo?
Publicado em Setembro 21, 2013 por Henrique Monteiro
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Há livros que jamais deviam ter sido escri­tos? Imen­sos! E livros céle­bres que jamais deviam ter sido publi­ca­dos, assim como se pudesse haver um auto-de-fé ima­gi­ná­rio na cabeça dos seus auto­res; como se eles paras­sem um pouco mais para pen­sar e con­cluís­sem: Não! Este livro vai ser pre­ju­di­cial ao mundo, ou vai ser, por ele, mal-entendido… não o vou publicar!
É este tipo de exer­cí­cio que nos pro­põe Ben­ja­min Wiker em 10 livros que estra­ga­ram o mundo e mais cinco que não aju­da­ram nada. E quem é Ben­ja­mim Wiker, per­gun­tais vós, igno­ran­tes. E eu, menos igno­rante por­que li a badana e fui à Wiki­pe­dia, posso dizer que é um dou­to­rado em ética e um cató­lico fer­vo­roso que ensina várias coi­sas em várias uni­ver­si­da­des, todas elas san­tís­si­mas: a Uni­ver­si­dade de St. Mary, a Mar­quette Uni­ver­sity, o Tho­mas Aquina Col­lege, and so on
Wiker pega em 10 obras e demons­tra a sua influên­cia per­ni­ci­osa. Por­que – como subli­nha (e nessa frase con­cordo com ele) – as ideias têm consequências.
A pri­meira é ‘O Prín­cipe’, de Maqui­a­vel. Começa na renas­cença, em 1513, por­que para trás a Santa Madre ainda con­tro­lava o bem e o mal da escrita. Para Wiker, Maqui­a­vel, longe de ser o ético que o pós-modernismo fez dele, era um ser que evoca, na polí­tica, “sen­ti­men­tos de cru­el­dade impla­cá­vel e bru­ta­li­dade gla­cial”. É, além disso, como ao logo da obra se demons­tra, um dos pri­mei­ros rela­ti­vis­tas morais.
Segue-se (1637) o velho Des­car­tes com ‘O Dis­curso do Método’. Não fica­rão os mais eru­di­tos pro­va­vel­mente sur­pre­en­di­dos, mas eu fiquei. Que raio vê Wiker no car­te­si­a­nismo que o acuse de ter dado cabo do mundo? E depois lembrei-me! Des­car­tes põe a exis­tên­cia de Deus em causa com o seu método de rejei­tar como falso tudo em que eu possa con­ce­ber a mais pequena dúvida. As 15 pági­nas que se seguem são elo­quen­tes… e fazem certo sentido.
Levi­atã’, de Hob­bes (1651) marca a minha pri­meira diver­gên­cia séria com o autor. Ele retira do homo homini lupus (a frase de Plauto popu­la­ri­zada por Hob­bes – esta parte da eru­di­ção é minha) a ideia de que não há dis­tin­ção entre bem e mal, uma vez que Deus não existe. Ora se puder­mos con­ce­ber que o bem e o mal  não são neces­sa­ri­a­mente con­sequên­cia da exis­tên­cia de Deus, mas a sua causa, é certo que vamos para o inferno cri­ado por Ben­ja­min Wiker, mas damos cabo da tese dele. Vá lá… Hob­bes não estra­gou o mundo, explicou-o melhor do que a mai­o­ria dos filó­so­fos o fizeram.
No livro seguinte (que é um opús­culo de nome com­prido: ‘Dis­curso sobre a ori­gem e fun­da­men­tos da desi­gual­dade entre os homens’ de Jean-Jacques Rous­seau (1755), esta­mos de acordo. O sacana do suíço, não só neste livro, como no ‘Émile’ e nou­tros ensaios, virou-nos a cabeça. Somos uns anjos estra­ga­dos pela soci­e­dade, que aliás no iní­cio era angé­lica e foi estra­gada pelo pri­meiro homem que decla­rou que tinha uma pro­pri­e­dade. Rous­seau faz-nos falta, no entanto, para per­ce­ber­mos como a bon­dade pode ser ape­nas um con­ceito de um tipo que aban­dona todos os filhos na roda e depois nos dá lições de moral.
E che­ga­mos à mãe (e pai) de todos os males: o ‘Mani­festo do Par­tido Comu­nista’, de Karl Marx (e tam­bém de Fri­e­drich Engels, que pagava as caras con­tas de Marx). Sobre este nem vale a pena falar. Um cató­lico que não ache este livro obra do demó­nio está con­de­nado. Mas há aspe­tos a pen­sar: a ideia de que a his­tó­ria, toda ela, não passa da his­tó­ria da luta de clas­ses devia deter-nos uns momen­tos. Será? Ou será por­que dá jeito a Marx? As clas­ses são o fun­da­mento da his­tó­ria humana? Nada mais? Toda a ambi­ção está no lucro? Toda a bon­dade é inte­res­seira? Há muito a rever na vul­gata marxista…
Depois vem outro livro que Wiker podia ter tirado da sua fogueira men­tal: chama-se ‘O Uti­li­ta­rismo’ (1863), é de John Stu­art Mill e ape­nas é con­de­nado por­que o autor pre­fere o choro e ran­ger de den­tes que é este vale de lágri­mas, à ideia de que o pra­zer con­duz a ação humana. Aqui, ó Ben­ja­min, tu cá para mim és um frus­trado e nunca… enfim, pas­se­mos à frente!
Segue-se ‘A Ascen­dên­cia do Homem’ (1871 — The Ascent of Men -, ponho o título em inglês, por­que na tuga­lân­dia, de Char­les Darwin, só se conhece ‘A Ori­gem das Espé­cies’). Na ver­dade, Darwin neste livro aproxima-se bas­tante da euge­nia. Por­que hão-de reproduzir-se os anor­mais, os defi­ci­en­tes, se sabe­mos cien­ti­fi­ca­mente que gera­rão anor­mais e defi­ci­en­tes. Fogo! A per­gunta é per­ti­nente e ape­nas pode­mos res­pon­der se for­mos como Wiker – há lá os desíg­nios de Deus que são impers­cru­tá­veis. O pior é se não acre­di­ta­mos em Deus… Bem, pode­mos refugiar-nos no amor… Mas isso der­roga a ideia da lei da sobre­vi­vên­cia, a menos que o amor seja algo ima­te­ri­al­mente des­li­gado de qual­quer coisa prá­tica, ou útil, como diria Mill.
Vem agora um tipo que eu não gosto mesmo: Nietzs­che. O livro ‘Para além do bem do mal’ (1886). Claro que o homem que decre­tou a morte de Deus tem de estar no índex. Mas manda a hones­ti­dade inte­lec­tual, que para mim ainda vale, dizer que Nietzs­che lamenta essa morte. Embora não lamente a frase que faz com que Wiker o mande para as pro­fun­das: “ O cris­ti­a­nismo foi até hoje a mais cala­mi­tosa das arro­gân­cias”. A ver­dade é que sobre a morte de Nietzs­che não há dúvi­das e sobre a de Deus con­ti­nua a polé­mica, pelo que se pode dizer que o Fri­e­drich per­deu a guerra. Mas a guerra é inte­res­sante, sobre­tudo a guerra ao nii­lismo que ele repre­senta, ape­sar de, em mui­tos momen­tos (das guer­ras à sim­ples via­gem de metro) tem-se a sen­sa­ção de que era Nietzs­che o vencedor.
O livro ‘O Estado e a Revo­lu­ção’ (1917) de Lenine tinha de figu­rar na lista. Lenine só foi endeu­sado por­que apa­re­ceu um diabo pior cha­mado Esta­line (e um pior cha­mado Mao e um pior cha­mado Pol Pot). Mas bebe­ram todos deste pote: É pre­ciso esma­gar os explo­ra­do­res do povo atra­vés de uma dita­dura, a dita­dura do pro­le­ta­ri­ado. Nunca antes o mal tinha sido tão ampla­mente expresso e nunca antes tivera tan­tos segui­do­res (alô Jeró­nimo Sousa, alô Ber­nar­dino Soa­res e alô Agos­ti­nho Lopes, que ainda hoje escreve uma carta a descompor-me no Expresso… ah, lá me vin­guei junto dos milhões de lei­to­res deste blo­gue). Pronto, não vou maçá-los. Lenine todos sabem quem foi e o que defendeu.
A última con­tem­plada é Mar­ga­ret San­ger. Nunca a li, salvo como refe­rên­cia. No seu livro ‘O Eixo da Civi­li­za­ção’ (1922) defende não só o pla­ne­a­mento fami­liar, que hoje acei­ta­mos como nor­mal – mas não o vigi­lante Wiker, que escre­veu este livro antes de saber que have­ria um Papa Fran­cisco – mas sobre­tudo enten­deu que os defi­ci­en­tes men­tais, os débeis men­tais e outros tipos de débeis, devem ser este­ri­li­za­dos. Na altura isto pare­ceu moderno. Hitler não duvi­dou. Esta­line tam­bém não e a esquerda, no geral, teve San­ger como papa por uns tempos.
O ‘Mein Kampf’ (1925) de Hitler é a obra seguinte. Pala­vras para quê, foi um artista ale­mão. Toda a gente sabe o que ele quis. Ben­ja­min Wiker manda-o para o Inferno e faz bem
Mas temos agora uma polé­mica pro­me­tida: Freud. Wiker embirra não tanto com a expli­ca­ção dos sonhos, mas sobre­tudo com ‘O Futuro de uma ilu­são’ (1927). Nunca li nem vou ler. Mas sei que o Segis­mundo achava e popu­la­ri­zou que a exis­tên­cia de Deus e tudo o que dela decorre é exa­ta­mente o que nós gos­ta­ría­mos que fosse o mundo. E este sub­je­ti­vismo, para Wiker é sufi­ci­ente para a condenação.
Já o ‘Cres­cer em Samoa’ de Mar­ga­ret Mead (1928) sem­pre me pare­ceu o que Ben­ja­min Wiker diz dele: a autora que­ria era dar umas que­cas com uns nati­vos sem moral e cons­truiu uma tese à volta do amor livre e da liber­dade pri­mor­dial. Deve ter-lhe sabido bem e ganhou sufi­ci­en­te­mente com os direi­tos de autor. No caso de se ter arre­pen­dido à hora da morte, nem para o Inferno foi… Inveja, portanto.
Esta­mos a aca­bar. Fale­mos do rela­tó­rio Kin­sey que mudou a sexu­a­li­dade do Oci­dente. Em ‘O Com­por­ta­mento Sexual dos Homens’  (1948), Alfred Kin­sey defende uma série de coi­sas que é pre­ciso ler (eu não li) por­que o Ins­ti­tuto Kin­sey (her­deiro do autor) não auto­riza que se cite o livro. Isto, segundo Wiker, é por­que as cita­ções são emba­ra­ço­sas. Acre­di­te­mos no cató­lico. De facto, é iné­dito não se ter auto­ri­za­ção para se citar um autor…
E ter­mi­na­mos com ‘A Mís­tica Femi­nina’ (1963) de Betty Fri­e­dan. É a femi­nista mais femi­nista da Amé­rica. E como muita gente que escre­veu nes­ses anos 60 em que pare­cia que Gaga­rine repre­sen­tava o bai­li­nho que a URSS ia dar aos EUA, com­pa­rou a feli­ci­dade das mulhe­res rus­sas, que tinham obje­ti­vos para além da mater­ni­dade, com a infe­li­ci­dade das donas de casa ame­ri­ca­nas. Algo que tem que se lhe diga e que leva Wiker a deitá-la para o lixo dos livros. Tam­bém não li, por­que o mal dos livros mais novos é o tempo que nos tira para ler os clássicos.
E Wiker mis­tura tudo. Rous­seau é mau, mas é um mau perene. Maqui­a­vel tem que se lhe diga, mas tem um que se lhe diga de sécu­los. Fri­e­dan ou Mead foram modas. O Wiker podia fazer parte deste livro, não fosse a ele­gân­cia, graça e modo poli­ti­ca­mente incor­reto com que trata esta malta.
Falta dizer que este ‘Está Escrito’ vale por 15, que­rida tia, e que o livri­nho é da Aletheia e já tem cinco anos de exis­tên­cia, sem que nin­guém tenha dado por ele.

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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Vitor mango
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