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A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)

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A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)  Empty A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)

Mensagem por Vitor mango Qui Fev 27, 2014 6:47 am

A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)

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A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)  Embbra91
[url][/url][size=11.05]"(…) Quem faria face a Napoleão, cuja coorte atravessara a Espanha e pisava já o solo português?
Não seria o príncipe-regente, nem a rainha doida, nem as altas classes ensandecidas, nem o povo faminto, indiferente, sebastianista.
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[size=11.05]À voz do verdadeiro Anti-Cristo português, que foi Junot, desabou tudo por terra![/size]
[size=11.05]A nação, roída nos ossos pelo térmita infatigável, o jesuíta, nem já era o esqueleto, era apenas o pó de um cadáver.[/size]
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Três séculos antes, Portugal embarcara, cheio de esperanças e cobiça, para a Índia; em 1807 (Novembro, 29) embarcava num préstito fúnebre para o Brasil.
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[size=11.05]A onda da invasão varria diante de si o enxame dos parasitas imundos, desembargadores e repentistas, peraltas e sécias, frades e freiras, monsenhores e cadastrados.[/size]
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A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)  Embbras5
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[size=10.1333]O embarque para o Brasil[/size]
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[size=11.05]Tudo isso, a monte, embarcava, ao romper do dia, no cais de Belém.[/size]
[size=11.05]Parecia o levantar de uma feira e a mobília de uma barraca suja de saltimbancos falidos: porque o príncipe, para abarrotar o bolso com louras peças de ouro, seu enlevo, ficara a dever a todos os credores, deixando a tropa, os empregos, os criados, por pagar.[/size]
[size=11.05].
Desabava tudo a pedaços; e só agora, finalmente, o terramoto começado pela natureza, continuado pelo marquês de Pombal, se tornava um facto consumado. Os cortesãos corriam pela meia-noite as ruas, ofegantes, batendo às lojas, para comprarem o necessário; as mulheres entrouxavam a roupa e os pós, as banhas, o gesso com que caiavam a cara, o carmim com que pintavam os beiços, as perucas e rabichos, os sapatos e fivelas, toda a frandulagem do vestuário.
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[url][/url][size=10.1333]D. João VI[/size]
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[size=11.05]Era um afã, como quando há fogo; e não havia choro nem imprecações: havia apenas uma desordem surda. Embarcavam promiscuamente, no cais, os criados e os monsenhores, as freiras e os desembargadores, alfaias preciosas e móveis toscos sem valor, nem utilidade.[/size]
[size=11.05]Era escuro, nada se via, ninguém se conhecia. Os botes formigavam sobre a onda sombria, carregando, levando, vazando bocados da nação despedaçada, farrapos, estilhas, aparas, que o vento seco do fim dispersara nessa noite calada e negra.
(…) O príncipe regente e o infante de Espanha chegaram ao cais na carruagem, sós: ninguém dava por eles; cada qual cuidava de si, e tratava de escapar.
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[size=11.05]Dois soldados da polícia levaram-nos ao colo para o escaler.[/size]
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A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)  Embbras8
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[size=11.05]Depois veio noutro coche a princesa Carlota Joaquina, com os filhos.[/size]
[size=11.05]E por fim a rainha (D. Maria I), de Queluz, a galope. Parecia que o juízo lhe voltava com a crise. Mais devagar!, gritava ao cocheiro; diria que fugimos![/size]
[size=11.05]A sua loucura proferia com juízo brados de desespero, altos gritos de raiva, estorcendo-se, debatendo-se às punhadas, com os olhos vermelhos de sangue, a boca cheia de espuma.[/size]
[size=11.05]O protesto da louca era o único vislumbre de vida. O brio, a força, a dignidade portuguesa acabavam assim nos lábios ardentes de uma rainha doida![/size]
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Tudo o mais era vergonha calada, passiva inépcia, confessada fraqueza.
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[size=11.05]O príncipe decidira que o embarque se fizesse de noite, por ter a consciência da vergonha da sua fuga; mas a notícia transpirou, e o cais de Belém encheu-se de povo, que apupava os ministros, os desembargadores, toda essa ralé de ineptos figurões de lodo.[/size]
[size=11.05]E – tanto podem as ideias! – chorava ainda pelo príncipe, que nada lho merecia. D. João também soluçava, e tremiam-lhe muito as pernas que o povo de rastos abraçava.[/size]
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[url][/url][size=10.1333]D. João VI e Carlota Joaquina[/size]
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[size=11.05]A esquadra recebera 15 000 pessoas, e valores consideráveis, em dinheiro e alfaias.[/size]
[size=11.05]Levantou ferro na manhã de 29, pairando em frente da barra até o dia seguinte, às sete horas, que foi quando Junot entrou em Lisboa. Os navios largaram o pano, na volta do mar, e fizeram proa a sudoeste, caminho do Brasil.[/size]
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Enquanto a esquadra esteve à vista, pairando, os altos da cidade, donde se descobre o mar, apareciam coroados de povo mudo e aflito.
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[size=11.05]As salvas dos navios ingleses que bloqueavam o Tejo troavam lugubremente ao longe.[/size]
[size=11.05]O sol baixava, a esquadra perdia-se no mar, ia-se toda a esperança, ficava um desespero, uma solidão… Soltou-se logo a anarquia da miséria, e na véspera da chegada do Anti-Cristo, Lisboa correu risco de um saque.[/size]
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A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)  Embbras7
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[size=10.1333]Chegada da família real portuguesa ao Brasil[/size]
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[size=11.05]Napoleão estava burlado.[/size]
[size=11.05]O príncipe D. João, a bordo com as mãos nos bolsos, sentia-se bem remexendo as peças de ouro: ia contente com a sua esperteza saloia, única espécie de sabedoria aninhada no seu gordo cérebro. Bocejava ainda: mas porque o enjoo começava com os balanços do mar.[/size]
[size=11.05]É o que sucede à história, com os miseráveis balanços do tempo: vem o enjoo incómodo e a necessidade absoluta de vomitar.”[/size]
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[size=10.1333]Oliveira Martins (1845-1894) - História de Portugal - 1.ª ed. - 1879 - Lisboa - Portugal.[/size]
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Postado por Cavaleiro da Torre às 00:29 A Fuga de D. João VI de Portugal para o Brasil - Novembro de 1807 (Oliveira Martins)  Icon18_email

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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Vitor mango
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