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A visita de Jean Wyllys à Palestina e os efeitos do 'pinkwashing' israelense

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Mensagem por Vitor mango Qua Jan 13, 2016 2:24 am

A visita de Jean Wyllys à Palestina e os efeitos do 'pinkwashing' israelense
Iago Rondello | Beit Sahour (Cisjordânia) - 11/01/2016 - 13h46
A 'lavagem rosa' é uma estratégia de Israel para mobilizar a relativa liberdade garantida à comunidade LGBT para melhorar sua imagem internacionalmente

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Em suas recentes manifestações no Facebook, o deputado Jean Wyllys afirma que teria sido alvo de uma pretensa esquerda brasileira homofóbica, que o teria considerado mais sensível à lavagem rosa (‘pinkwashing, em inglês) promovida por Israel por ser um gay ativista dos direitos LGBTs. Ao contrário, o objetivo dos grupos que buscaram contatar Jean em Jerusalém – de um dos quais eu faço parte – era motivado exatamente pela expectativa de que, tendo na pauta LGBT uma de suas principais lutas, Jean estaria pronto para ouvir sobre como a opressão à liberdade sexual pode tomar as mais diversas formas e ser manipulada das mais diversas maneiras. Bem, o deputado não estava.

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Reprodução/ Facebook
 A visita de Jean Wyllys à Palestina e os efeitos do 'pinkwashing' israelense Jeanwillys2
Wyllys (à dir) em uma das rodovias de acesso aos territórios ocupados palestinos, na Cisjordânia


Embora esses grupos de esquerda não tenham, em momento algum, subestimado o deputado e acreditado que ele estaria mais suscetível à lavagem rosa, de fato seu posicionamento público mostrou que tais grupos estavam equivocados. Ao afirmar que os “direitos conquistados pelos LGBTs israelenses são uma luz numa região dominada pelo fundamentalismo, o totalitarismo, a misoginia e a homofobia”, Jean não faz mais do que ratificar o discurso oficial israelense, incorrendo em preconceitos que ele mesmo diz combater e mostrando uma assustadora ingenuidade e falta de informação. Não se deve evitar a palavra: seu discurso é islamofóbico, generalizando, homogeneizando e simplificando a cultura, política e identidade de milhões de árabes e muçulmanos ao redor do mundo. Em oposição à barbárie e às trevas imperantes na região, Jean descreve os direitos LGBTs promovidos por Israel como uma luz, mostrando, mais uma vez, sua absoluta ignorância em relação ao conceito de lavagem rosa.



Tal conceito descreve a estratégia, levada a cabo pelo Estado de Israel e por uma série de organizações da sociedade civil israelense, de mobilizar a relativa liberdade garantida a gays judeus israelenses como um instrumento para melhorar sua imagem internacionalmente. Exemplos não faltam: em 2010, o governo de Tel Aviv, apoiado pelo Ministério do Turismo Israelense, lançou uma campanha de 900 milhões de dólares cujo objetivo era promover a cidade como um destino gay internacional de férias. Mais do que isso, o Estado de Israel se utiliza da constante descrição das sociedades árabes ao seu redor – notadamente da sociedade palestina – como sociedades hostis, homofóbicas e retrógradas. Ao fazer isso, o Estado se projeta como o único país democrático e tolerante numa região dominada por Estados bárbaros. Ao falar para o Congresso norte-americano, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu — tão criticado por Jean — não poderia ter sido mais claro: em seu discurso, o primeiro-ministro afirma que Israel é a exceção numa “região onde se jogam pedras em mulheres, se enforcam gays e se perseguem cristãos”. A semelhança entre os pronunciamentos de Jean Wyllys e Netanyahu é clara e assustadora. 


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Ao instrumentalizar o direito dos LGBTs em prol de sua imagem internacional, Israel oculta uma realidade de opressão sistemática ao povo palestino.

Vendendo-se como a única democracia do Oriente Médio e como um país que abraça a diversidade sexual, o Estado se utiliza dos direitos LGBTs para esconder sua sistemática política de Ocupação, seus intermináveis crimes de guerra e a clara situação de apartheid que impõe ao povo palestino. Em poucas palavras, o opressor instrumentaliza o direito de minorias para, estrategicamente, esconder sua própria opressão. O resultado é claro e eficiente: cada vez mais, Israel é visto como um paraíso gay, seja para outros Estados, seja para turistas de todo o mundo, ou até para deputados brasileiros em intercâmbio cultural.

Diante deste cenário de cruel manipulação do direito dos oprimidos, promovida por Israel, é extremamente preocupante e, acima de tudo, triste que um dos principais defensores dos direitos das minorias no Brasil compactue com o discurso israelense. Em seu pronunciamento público, Jean Wyllys se mostrou encantado pelo progressismo de Israel no que tange ao direito dos LGBTs, em oposição à intolerância árabe-muçulmana que rodeia o país. O que o deputado não fez, no entanto, foi analisar os direitos LGBTs em Israel dentro de seu real contexto. Estes direitos, de fato, não existem num vácuo, mas numa realidade política de opressão estrutural de um povo sobre outro, na qual direitos de minorias — das minorias das quais Jean faz parte, diga-se de passagem — são sistematicamente utilizados como forma de ocultar a opressão.

Mais do que desinformada e alienada, a posição de Jean Wyllys é surpreendentemente contraditória com sua intensa atuação política no Brasil. Com sua viagem à Palestina/Israel e sua suposta abertura para entender a situação em toda a sua complexidade, Jean prometia ser um novo e poderoso parceiro na luta contra a opressão sionista. O que demonstrou, no entanto, foi a mais absoluta incoerência de um ativista LGBT que, enquanto luta pelos direitos de minorias em seu país, compactua com a fria manipulação destes direitos do outro lado do mundo.


(*) Iago Rondello é estudante de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo). Em 2015, foi voluntário na Zochrot, ONG israelense que trabalha com o resgate da memória do país.

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