Sócrates, o autor, os actores e os auditores
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Sócrates, o autor, os actores e os auditores
Sócrates, o autor, os actores e os auditores, com muitos poderes sem autoridade, porque esta é a que vem de autor
por José Adelino Maltez
José Sócrates Pinto de Sousa é pluridimensional, como qualquer figura pública. Tem sucessivos círculos concêntricos que se propagam do centro à periferia. Primeiro, tem um espaço de intimidade. Depois, um espaço de reserva pessoal. Finalmente, dois heterónimos públicos: o do líder partidário e o do estadista, primeiro-ministro de Portugal. A comissão parlamentar de inquérito só pode aceder a esta última máscara...
O que ontem foi novidade, já anteontem tinha sido anunciado por Aguiar-Branco e, dias antes, denunciado por Sócrates, na máscara de líder do PS, onde voltou a ser animal feroz, para, em breve, passando de um pólo ao outro, voltar a ser gajo porreiro. Preferia que fosse Sancho Pança, porque em cima de burro, D. Quixote é frustração, sobretudo quando está diante da paragem, sem moinho de vento. Como não há detectores de mentiras no espaço do teatro de Estado, pode concluir-se que apenas voltará a haver crise política quando as sondagens revelarem uma radical alteração na opinião dos portugueses...
O parlamento não é um consultório de psicanalista. E nem as próprias relações jurídicas são relações da vida real, apenas são uma minoria das condutas humanas, aquelas relações sociais que o direito coactivamente tutela...
Aliás um ser humano não coincide com uma pessoa jurídica. Esta não passa de um abstracto centro de imputação de direitos e deveres e, durante milénios, nem todos os humanos tinham acesso a essa máscara, e outros tantos sofriam de diminuição de cabeça, como era óbvio no caso das mulheres. E também é verdade que só a partir da Alemanha pós-totalitária, na lei fundamental de Bona de 1949, que passámos a ter a "dignidade da pessoa humana" como fundamento das constituições das democracias abertas e pluralistas.
Aliás, a palavra pessoa vem de "máscara", a que os actores usavam em representações na antiguidade e que, segundo alguns, precisavam de um tubo que fazia "per sonare", da voz humana a um certo sistema de megafone. A máscara continua em palco, com "actores" sujeitos a guião prévio e "auditores", os cidadãos que não querem ser "autores".
Os actores não mentem, representam um papel. Os auditores gostam de boas peças e melhores interpretações. Só os actores é que rimam com a verdade. Infelizmente, neste sistema que nos degrada, há muitos poderes à solta e quase nenhuma autoridade, aquela que, etimologicamente, só os autores podem assumir...
por José Adelino Maltez
José Sócrates Pinto de Sousa é pluridimensional, como qualquer figura pública. Tem sucessivos círculos concêntricos que se propagam do centro à periferia. Primeiro, tem um espaço de intimidade. Depois, um espaço de reserva pessoal. Finalmente, dois heterónimos públicos: o do líder partidário e o do estadista, primeiro-ministro de Portugal. A comissão parlamentar de inquérito só pode aceder a esta última máscara...
O que ontem foi novidade, já anteontem tinha sido anunciado por Aguiar-Branco e, dias antes, denunciado por Sócrates, na máscara de líder do PS, onde voltou a ser animal feroz, para, em breve, passando de um pólo ao outro, voltar a ser gajo porreiro. Preferia que fosse Sancho Pança, porque em cima de burro, D. Quixote é frustração, sobretudo quando está diante da paragem, sem moinho de vento. Como não há detectores de mentiras no espaço do teatro de Estado, pode concluir-se que apenas voltará a haver crise política quando as sondagens revelarem uma radical alteração na opinião dos portugueses...
O parlamento não é um consultório de psicanalista. E nem as próprias relações jurídicas são relações da vida real, apenas são uma minoria das condutas humanas, aquelas relações sociais que o direito coactivamente tutela...
Aliás um ser humano não coincide com uma pessoa jurídica. Esta não passa de um abstracto centro de imputação de direitos e deveres e, durante milénios, nem todos os humanos tinham acesso a essa máscara, e outros tantos sofriam de diminuição de cabeça, como era óbvio no caso das mulheres. E também é verdade que só a partir da Alemanha pós-totalitária, na lei fundamental de Bona de 1949, que passámos a ter a "dignidade da pessoa humana" como fundamento das constituições das democracias abertas e pluralistas.
Aliás, a palavra pessoa vem de "máscara", a que os actores usavam em representações na antiguidade e que, segundo alguns, precisavam de um tubo que fazia "per sonare", da voz humana a um certo sistema de megafone. A máscara continua em palco, com "actores" sujeitos a guião prévio e "auditores", os cidadãos que não querem ser "autores".
Os actores não mentem, representam um papel. Os auditores gostam de boas peças e melhores interpretações. Só os actores é que rimam com a verdade. Infelizmente, neste sistema que nos degrada, há muitos poderes à solta e quase nenhuma autoridade, aquela que, etimologicamente, só os autores podem assumir...
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