As doce Ana e Isabel e a história de uma oportunidade
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As doce Ana e Isabel e a história de uma oportunidade
As doce Ana e Isabel e a história de uma oportunidade
Teria sempre um fim, mas nunca este. Ficaria uma semente, com raízes para outro tempo. Sócrates vergou quando trocou Correia de Campos por Ana Jorge, desistiu quando substituiu Maria de Lurdes Rodrigues por Isabel Alçada.
A paz corporativa que se vive na saúde e na educação tem custos. E, sobretudo, sendo irreal, não rompe caminho novo.
Fala-se, agora, na reconstrução de um governo, no seguimento de uma remodelação. Nada de mais enganador. Estamos, está o processo, fora de prazo - e uma variação só prolonga a agonia.
A verdadeira remodelação teve dois momentos e ambos destruíram valor. A reforma no sistema de saúde desenhada e executada por Correia de Campos morreu quando Sócrates cedeu à opinião pública e ao Presidente da República (Cavaco sempre presente no gosto de um mar chão).
Ana Jorge, a doce ministra da Saúde, soube gerir a transição e aconchegou ignorância - com brilho reconhecido na gestão da gripe. O buraco da execução orçamental está, este ano, acima dos 500 milhões, a dívida do Estado às farmácias chega, ou está a chegar, aos mil milhões. Eis o resultado de uma capitulação. Com custos evidentes num modelo de Estado social irrealista e enganador.
Isabel Alçada foi recrutada para travar a política áspera de Maria de Lurdes Rodrigues. Por momentos pensou-se que a teimosia de Sócrates imporia um projecto e, mesmo, um estilo - reconduzindo a ministra mais impopular da maioria socialista; por momentos pensou-se que a determinação de Sócrates encontraria na sua ministra o perfil adequado a um combate áspero. Num ápice, Isabel Alçada resolveu um conflito de quatro anos, sossegando (com que custo?) uma classe que recolheu ao conforto. Eis o resultado de uma capitulação.
Fala-se, agora, no que sobra para inverter o rumo de uma descida íngreme: uma remodelação governamental. Trocando, por exemplo, os ministros das Finanças, dos Estrangeiros, das Obras Públicas. Coisas óbvias. Duvidamos que Sócrates o faça antes das presidenciais - o que resultaria em nada, a não ser o reconhecimento do abismo. É provável que Sócrates o venha a fazer depois da reeleição de Cavaco e numa tentativa de travar uma crise política anunciada. Coisa óbvia.
Acontece que, independentemente do tempo em que o faça, já será insuficiente. A ironia vem na crueldade de uma constatação: para que Sócrates recuperasse sopro político teria de seguir, no essencial, a receita de Passos Coelho, na saúde, na educação, na legislação laboral. A ironia cresce na crueldade de um facto: para executar essas políticas, Sócrates precisaria do exercício de pessoas como Maria de Lurdes Rodrigues e Correia de Campos. Perdeu-se a oportunidade.
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Raul Vaz
raul.vaz@economico.pt
Teria sempre um fim, mas nunca este. Ficaria uma semente, com raízes para outro tempo. Sócrates vergou quando trocou Correia de Campos por Ana Jorge, desistiu quando substituiu Maria de Lurdes Rodrigues por Isabel Alçada.
A paz corporativa que se vive na saúde e na educação tem custos. E, sobretudo, sendo irreal, não rompe caminho novo.
Fala-se, agora, na reconstrução de um governo, no seguimento de uma remodelação. Nada de mais enganador. Estamos, está o processo, fora de prazo - e uma variação só prolonga a agonia.
A verdadeira remodelação teve dois momentos e ambos destruíram valor. A reforma no sistema de saúde desenhada e executada por Correia de Campos morreu quando Sócrates cedeu à opinião pública e ao Presidente da República (Cavaco sempre presente no gosto de um mar chão).
Ana Jorge, a doce ministra da Saúde, soube gerir a transição e aconchegou ignorância - com brilho reconhecido na gestão da gripe. O buraco da execução orçamental está, este ano, acima dos 500 milhões, a dívida do Estado às farmácias chega, ou está a chegar, aos mil milhões. Eis o resultado de uma capitulação. Com custos evidentes num modelo de Estado social irrealista e enganador.
Isabel Alçada foi recrutada para travar a política áspera de Maria de Lurdes Rodrigues. Por momentos pensou-se que a teimosia de Sócrates imporia um projecto e, mesmo, um estilo - reconduzindo a ministra mais impopular da maioria socialista; por momentos pensou-se que a determinação de Sócrates encontraria na sua ministra o perfil adequado a um combate áspero. Num ápice, Isabel Alçada resolveu um conflito de quatro anos, sossegando (com que custo?) uma classe que recolheu ao conforto. Eis o resultado de uma capitulação.
Fala-se, agora, no que sobra para inverter o rumo de uma descida íngreme: uma remodelação governamental. Trocando, por exemplo, os ministros das Finanças, dos Estrangeiros, das Obras Públicas. Coisas óbvias. Duvidamos que Sócrates o faça antes das presidenciais - o que resultaria em nada, a não ser o reconhecimento do abismo. É provável que Sócrates o venha a fazer depois da reeleição de Cavaco e numa tentativa de travar uma crise política anunciada. Coisa óbvia.
Acontece que, independentemente do tempo em que o faça, já será insuficiente. A ironia vem na crueldade de uma constatação: para que Sócrates recuperasse sopro político teria de seguir, no essencial, a receita de Passos Coelho, na saúde, na educação, na legislação laboral. A ironia cresce na crueldade de um facto: para executar essas políticas, Sócrates precisaria do exercício de pessoas como Maria de Lurdes Rodrigues e Correia de Campos. Perdeu-se a oportunidade.
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Raul Vaz
raul.vaz@economico.pt
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