Origens. Metade dos portugueses descendem das mulheres das grutas de Altamira e Lascaux
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Origens. Metade dos portugueses descendem das mulheres das grutas de Altamira e Lascaux
Origens. Metade dos portugueses descendem das mulheres das grutas de Altamira e Lascaux
por Marta F. Reis, Publicado em 19 de Julho de 2011 | Actualizado há 26 minutos
udos do genoma para conhecer os antepassados fazem dez anos. Também são procurados em Portugal
por Marta F. Reis, Publicado em 19 de Julho de 2011 | Actualizado há 26 minutos
udos do genoma para conhecer os antepassados fazem dez anos. Também são procurados em Portugal
- Parece um disparate, porém, depois de mais de uma hora a tentar
perceber como é que qualquer coisa como uma dúzia de letras do nosso ADN (do total de 3 mil milhões) podem revelar o percurso dos nossos antepassados,
a ideia até desperta algumas emoções. "Depois de saber que era
descendente da avó Helena, fiz questão de ir a Lascaux", diz José Carlos
Soares Machado.
O presidente da Associação Portuguesa de Genealogia (APG)
fala das grutas francesas, recheadas de desenhos nas paredes. Ao
referir-se a Helena, mergulha naquilo que foram os últimos dez anos de
estudos genéticos sobre ancestralidade. Em 2001, o cientista de Oxford
Bryan Sykes explicou num livro que era possível alargar as tradicionais
árvores genealógicas ao início do Homo sapiens (na região da
Etiópia, há 200 mil anos). O público gostou da ideia e os centros de
investigação com especialistas em genética começaram a disponibilizar-se
para fazer o trabalho. Em Portugal, o Instituto de Medicina Molecular de Lisboa já fez 200 perfis.
Expliquemos
a história da avó Helena, caso queira incluir Lascaux nos destinos de
férias. Metade dos europeus, e também dos portugueses, descenderão das
mulheres que habitaram as quentinhas grutas do Sul europeu (Lascaux mas
também Altamira em Espanha e Vila Nova de Foz Côa) durante a última
glaciação, há 12 mil anos. Se a mulher que desencadeou toda esta vasta
descendência se chamava de facto Helena não se sabe, e talvez seja pouco
provável, mas o nome surge no livro de Sykes "As Sete Filhas de Eva",
onde o investigador explica os diferentes perfis genéticos que
descenderam da chamada "Eva mitocondrial", a primeira mulher que passou
sequências de ADN às suas filhas através das mitocôndrias dos óvulos.
Das
cerca de 30 linhagens maternas já descobertas pelos investigados nas
populações mundiais, há duas que parecem ter habitados as grutas do Sul
da Europa. Em termos genéticos, chama-se a estes grupos de descendência
"haplogrupos" e pode dizer-se que a maioria dos portugueses, como os
europeus, descende do H e do U (em Portugal são 41% e 17%
respectivamente). Sykes, que queria tornar a história fácil para os
leigos em ciência, disse que os portadores da marca genética H eram
netos da avó Helena e explicou no seu livro como a senhora era adepta
das pinturas rupestres. Resta dizer que entre os famosos netos de Helena
se encontra a rainha Maria Antonieta, factóide a que talvez nunca
chegasse se se dedicasse a construir a sua árvore genealógica.
Do
lado do pai, Soares Machado tem um legado viquingue (bastante comum na
Escandinávia), mas mais de metade dos portugueses (55%) descende também
dos celtas, que por sua vez descendiam dos homens que chegaram à Europa
vindos do Sul da Sibéria, actual Cazaquistão e Usbequistão, antes de se
enfiarem nas grutas do Sul. A segunda ascendência mais comum é a dos
descendentes das populações que não deixaram África na altura das
primeiras migrações, há 80 mil anos (Paleolítico Médio). Estes clãs que
se mantiveram pelo Corno de África enquanto a maioria se dedicava a
colonizar a Península Arábica parece ter começado a ganhar diferenças
genéticas há 53 mil anos. Em Portugal representam 14% das linhagens
paternas, mas são um ascendente muito mais comum na região do Magrebe,
onde representam 33% a 80% do fundo genético das populações.
Como se faz
Maria do Carmo Fonseca, directora do Instituto de Medicina Molecular
onde a spin-off GenoMed começou a fazer estes testes há três anos (a
pedido da APG), ajuda a compreender a análise que permite conhecer os
antepassados. A matéria-prima é o genoma humano, a sequência de ADN onde
estão contidas todas as informações genéticas para as células
funcionarem e o organismo cumprir as funções vitais. "À medida que o
nosso conhecimento sobre o genoma humano tem evoluído percebemos cada
vez mais como funciona e que informação podemos encontrar sobre o nosso
passado, o nosso presente e eventualmente o nosso futuro", diz a
investigadora Prémio Pessoa em 2010.
Os estudos mais comuns têm a
ver com o diagnóstico ou a susceptibilidade a doenças - quando os
investigadores procuram mutações ou genes já associados a patologias
como o cancro ou a doença de Alzheimer. Mas cedo se percebeu que, além
das instruções genéticas, inscritas em zonas que codificam proteínas,
havia zonas do genoma que podiam querer dizer algo mais (as mesmas onde
se procura informação sobre parentalidade ou maternidade). "O teste é o
mesmo mas olhamos para zonas diferentes do ADN, a que chamamos
silenciosas porque não codificam proteínas." Restava um problema: se
recebemos informação genética do nosso pai e da nossa mãe, que se
mistura, era preciso olhar para regiões que viessem inequivocamente de
um ou de outra. A aposta recaiu assim no cromossoma Y (transmitido dos
pais para os filhos) e no ADN mitocondrial (contido no óvulo da mãe).
O
processo de identificação do haplogrupo acaba por parecer um jogo.
Sobretudo desde que passou a haver grandes estudos genéticos para
diferentes populações. Confrontando sequências de ADN (a forma como as
letras que compõem o código genético estão dispostas), os cientistas
acabaram por perceber que a simples troca de letras em posições
específicas permite identificar a ancestralidade. Depois de terem a
sequência de ADN, folhas onde as letras A, C, G e T se dispõem em
partes, os investigadores verificam manualmente as posições utilizadas
para definir cada grupo. Assim, imagine-se, se no marcador x (entre seis
e nove que é necessário observar até chegar ao veredicto possível
mediante o conhecimento actual) há um C em vez de um G, é possível dizer
se a pessoa descende por via paterna dos mercadores fenícios que
passaram pela Península Ibérica há 3 mil anos ou dos viquingues que
invadiram a Escandinávia há 7 mil.
Para ver a ascendência materna
repete--se a análise, e as letras, consoante o sítio, podem revelar
pegadas históricas mais comuns, ligadas aos refúgios nas grutas
francesas e espanholas, ou então (como só acontece com 5% dos
portugueses), uma linhagem materna ligada a refúgios da mesma época no
Nordeste da Itália. Neste caso, em vez de se partilhar a família
alargada com Maria Antonieta poderá chamar primo afastado a Ötzi, o
homem do gelo, uma das múmias mais antigas conhecidas, de um homem que
terá vivido há 5300 anos.
Apesar de para já ainda não serem
muitos os grupos conhecidos, a expectativa dos investigadores é
continuarem a aumentar os subgrupos dentro de cada população. A GenoMed
tem ainda uma parceria com um grupo de investigação de Santiago de
Compostela que permite quantificar o grau de mistura: ou seja, com fundo
paterno celta e linhagem materna fenícia, poderá perceber o que pesa
mais no seu código genético. Um mapa-múndi com a divisão de populações
por haplogrupos permite perceber que entre os nativos da Península
Ibérica existe uma grande mistura, enquanto nos americanos e africanos
se mantém maior homogeneidade.
Para Maria do Carmo Fonseca, os
factos curiosos não se ficam por aqui. Um estudo publicado em 2003
conclui, por exemplo, que 0,5% da população mundial parece ser
descendente do imperador mongol Gengiscão, ilustre famoso a quem é
atribuído um dos subgrupos do haplogrupo C (dominante no Norte da Ásia).
"Na região ocupada pelos mongóis há um padrão que parece tão frequente
que, por ter sido datado de há mil anos, permite pensar que 8% dos
homens locais descendem de Gengiscão. Ele não podia ter tido mais que
umas dezenas de filhos, mas deviam ser tão tortos que dominavam os
outros." Outra verificação que tem gerado polémica, assinada por Sykes, é
que metade dos ingleses têm a mesma ascendência que alemães e
dinamarqueses. E que não teriam sobrevivido ao frio glaciar sem os
abrigos ibéricos.
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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