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Como nunca os vimos

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Mensagem por Vitor mango Ter Abr 15, 2014 12:54 am

Como nunca os vimos
Expresso, SIC e Instituto de Ciências Sociais proporcionaram na Gulbenkian um momento raro: Jorge Sampaio, Mário Soares e Ramalho Eanes foram moderados por Francisco Pinto Balsemão numa conferência sobre o 25 de Abril. Juntaram-se para responder a uma pergunta: a revolução valeu a pena?
José Pedro Castanheira
22:50 Segunda feira, 14 de abril de 2014

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José Ventura

Num debate muito vivo, Ramalho Eanes fez uma viva denúncia do desemprego, da miséria e da fome "que nos ofende". Mário Soares fez elogios rasgados aos militares de Abril, incluindo Eanes, que foi "um excelente Presidente da República". Muito preocupado com o futuro, Jorge Sampaio propôs "um plano estratégico" para o país, a prazo de cinco ou dez anos. 

Ramalho Eanes estava no Norte de Angola quando se deu o 25 de Abril. Ligado ao movimento dos capitães desde o seu início, explicou que havia sido mobilizado para mais uma comissão.

"Foi com gratificante alívio" que recebeu a notícia da queda da ditadura, porque "ocorreu sem derramamento de sangue (contra o que cheguei a admitir) e com grande adesão popular". Não escondeu as "dúvidas" que o assaltaram durante a revolução, a par de "uma grande esperança que a liberdade trouxesse ao país um novo futuro, capaz de o retirar do atraso" em que vivia e torná-lo "semelhante às democracias europeias". 

 

"Quem fez o 25 de Abril foram os militares"

"Foi o dia mais feliz da minha vida!" - foi como Mário Soares se referiu ao 25 de Abril de 1974, de que falou como "qualquer coisa de extraordinário". 

Recusando-se a comentar a actualidade política, não deixou de o fazer indirectamente ao lembrar que "quem fez o 25 de Abril foram exclusivamente os militares". "Não foram os civis, nem os partidos políticos", esclareceu. Teve palavras de grande elogio para os militares, que revelaram "uma enorme tolerância". "Não quiseram o poder político, pelo contrário, abriram a porta aos partidos políticos. Revelaram um desinteresse extraordinário." 

Em 1974, Soares estava exilado em Paris, mas o dia 25 de Abril apanhou-o em Bona, na expectativa de uma reunião com o chanceler alemão, o social-democrata Willy Brandt. Assim que soube do golpe militar, regressou a Paris, onde tomou um comboio com destino a Portugal. "Vim no 'sud-express', acompanhado do Tito de Morais, Ramos da Costa, Fernando Oneto e, claro, da minha mulher."

Como nunca os vimos Jvconf25abril9jv017a99a5305-6fd7José Ventura

 

"A malta revê-se no 25 de Abril" 

O único dos ex-presidentes que estava em Lisboa era Jorge Sampaio. "Foi uma utopia que subitamente se realizava", recordou. 

Acordado por um telefonema de um amigo, foi ao seu escritório de advogado, mesmo ao lado do Expresso, onde se apressou a "recolher informações". "Como fui educado no cumprimento da lei, quando o MFA começou a pedir na rádio para as pessoas ficarem em casa, decidi respeitar esse apelo. Devo ter sido a única pessoa que regressou a casa." 

Comentando os resultados de um inquérito feito pelo Instituto de Ciências Sociais sobre a revolução, que indica que o 25 de Abril é considerado o evento mais importante da História de Portugal, Sampaio reteve que "é uma data em que os portugueses se revêem". Ou seja: "A malta revê-se no 25 de Abril! E percebe-se que isso tem um enorme potencial mobilizador para os portugueses". 

Como nunca os vimos Jvconf25abril8jv041img0409-f902José Ventura

 

Eanes, o MFA e o fim do Conselho da Revolução 

Ramalho Eanes historiou os principais episódios do chamado PREC, desde a crise do Governo Palma Carlos até ao 25 de Novembro de 1975. Disse que "Spínola agarrou-se à descolonização de Angola, que tentou fazer de maneira diferente". Essa tentativa "acabou no 28 de Setembro de 1974, quando mediu forças com as do MFA e acabou por perder". 

Já no 11 de Março de 1975, o principal vencedor foi a corrente militar que defendia "um socialismo real, marxista-leninista". Essa corrente tentou "instaurar o medo e a mentira" em Portugal, assumindo-se como "uma vanguarda que orientava e dominava" o país. 

Eanes fez questão de esclarecer que foram os militares "a tomar a iniciativa de propor aos partidos políticos um segundo pacto, estabelecendo que o Conselho da Revolução era um órgão transitório e com um limite temporal muito bem determinado". 

Demarcou-se da leitura de alguns intelectuais que têm dito que "o MFA foi obrigado a acabar com o Conselho da Revolução". "Não é verdade!" - refutou com veemência. "Foram os militares que assumiram autonomamente o termo do Conselho da Revolução." 

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Soares: "Eanes foi um excelente Presidente" 

Em tarde de elogios, o general sublinhou que o I Governo Constitucional, presidido por Mário Soares, revelara "grande competência". Soares devolveu, dizendo que Eanes "foi um excelente Presidente da República". "É sabido que tivemos algumas pegas, mas devo reconhecer que foi um bom Presidente." Elogiou em particular o facto de ter "conseguido consolidar todas as Forças Armadas, e não só os militares de Abril".

Soares disse mesmo que tinha votado em Eanes nas duas eleições em que este foi eleito Presidente da República (1976 e 1980). Esta afirmação contraria a versão que até agora Soares deu acerca do seu posicionamento na reeleição de Eanes. Como se sabe, Soares, que ao tempo era secretário-geral do PS, auto-suspendeu-se daquele cargo, recusando acompanhar a decisão dos órgãos nacionais do partido, de apoiar a reeleição de Eanes. No segundo volume do livro-entrevista que deu a Maria João Avillez (1996), revelou que nas presidenciais de 1980 votara em Galvão de Melo - e não em Eanes, como disse hoje. 

Convidado por Balsemão a falar do período revolucionário, Soares declinou. "É desagradável falar do PREC", explicou. Preferiu enfatizar, por várias vezes, que "o 25 de Abril valeu a pena, em todas os domínios". E confirmou que no próximo dia 25, "se os militares de Abril não forem ao Parlamento, eu também não vou". Aproveitou para ler o célebre poema de Sofia de Mello Breyner: "Esta é a madrugada que eu esperava..." 

Como nunca os vimos Img2056-ef17Alberto Frias

 

Eanes: "Não deveríamos permitir portugueses com fome" 

Sampaio enalteceu "a habilidade como foram reintegrados" aqueles que foram sendo afastados, bem como "esquecidas" algumas das quezílias da revolução. Também ele teve palavras de elogio para o I Governo Constitucional, que protagonizou "o essencial de uma democracia representativa europeia". 

Foi desse Governo, através do ministro dos Estrangeiros, Medeiros Ferreira, que "partiu o pedido de adesão" às Comunidades Europeias. "A opção europeia foi uma opção estruturante para Portugal, que substituiu a miragem imperial de cinco séculos", sublinhou. 

No deve e no haver dos 40 anos de democracia, Ramalho Eanes começou por elencar os ganhos na área educativa, na libertação da mulher e nas questões de saúde, entre outras. "Fizemos realizações extraordinárias, mas infelizmente gastando mais do que aquilo que produzíamos. Não houve um norteamento estratégico e andámos a navegar à vista." 

Chegou-se assim à actual situação, da qual, acentuou, "é necessário sair, mas de uma forma em que a unidade nacional e popular se mantenha". E alertou: "Mas a unidade não se mantém com este nível de desemprego, de miséria e de portugueses com fome, que é uma coisa que nos ofende e que não deveríamos permitir". Propôs a celebração de um "pacto de reforma do Estado, que responda àquelas que são as necessidades e exigências de um Estado social". Nas suas últimas palavras, Eanes chegou a comover-se, falando de "um futuro que temos obrigação de deixar aos nossos filhos". 

Sobre o futuro, Soares preferiu não falar. "Não estou aqui para arranjar dificuldades", justificou. Antes, elogiara o acordo de revisão constitucional negociado em 1982 entre o seu PS e o PSD liderado por Francisco Pinto Balsemão. "O PSD desse tempo era o PSD de Sá Carneiro, que era uma coisa muito diferente do actual". 

Como nunca os vimos Img2155-003aAlberto Frias

 

Sampaio: "Plano estratégico, a cinco ou 10 anos" 

Aparentemente estimulado pelas declarações vigorosas de Eanes, Sampaio afirmou que "o papel das sociais-democracias está em completa revolução". Considerou absolutamente necessário "preservar o Estado social, que é uma conquista essencial". Que deve permitir que se dê "um salto para que as desigualdades e a pobreza não sejam tão chocantes e não se consegue isso reduzindo o Estado a um Estado mínimo".

Ao falar da dívida pública - que fora abordada no painel anterior pelo socialista espanhol Felipe González -, Jorge Sampaio alertou para o facto de o debate atual estar "cheio de palavras com segundas intenções". Preferiu dizer que a solução "só é possível com crescimento duradouro e significativo", o que exige "uma competitividade mais forte" e com apostas "na especialização produtiva" e na "inovação". Não deixou de lembrar que "o país tem quadros que são disputados internacionalmente". 

Num momento de "celebração da utopia" como o que se vive a propósito dos 40 anos do 25 de Abril, "é preciso reinventar as palavras solidariedade, cidadania, defesa do património e desenvolvimento sustentável". Apelou à inovação e à modernização das estruturas produtivas, salientando que "não é com salários baixos" que se resolvem os problemas, "mas como pessoas qualificadas". 

Desafiado por Balsemão a comentar a ideia de um pacto aflorada por Eanes, ou de um compromisso, Sampaio preferiu assinalar que este, a haver, "não pode ser de cima para baixo, mas de baixo para cima". Em contraposição, preferiu lançar a ideia de "um plano estratégico, a cinco ou dez anos, que tenha uma avaliação contínua".


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/como-nunca-os-vimos=f865599#ixzz2yw3z1kDm

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