JÁ NINGUÉM VEM JANTAR A MINHA CASA !

Manuel Ferrer
8 h ·
-----------JÁ NINGUÉM VEM JANTAR A MINHA CASA ! ------------
Aqui há uns tempos, não me faltava companhia pro jantar.
E a ementa nem mudou.
Continuo com o queijito de cabra , com as sandes do resto do peixe frito do almoço, com a malga da sopa de ontem, e com o copo de tinto, do fundo da garrafa...
Então o que é que afastou ou meus convivas?
- Cadê a presença inesquecível do Crespo e da sua manjedoura ?
- O António Cluny, que eu tanto estimava, agora o que é que janta? E onde? Sinto-lhe a falta . Aquele brilho que punha no que dizia do Sócrates, faz-me falta!
- O Mário Nogueira, não sei o que lhe fiz. A sandes de torresmos estava assim tão má? Desapareceu! Ele que palitava os dentes de ambos os lados dos palitos, e chupava como poucos, as cabeças dos joaquinzinhos, quando os havia!, que outra mesa frequentará?
Para não falar dos arrotos do Medina! Eram lufadas de ar fresco sobre as minhas vitualhas tão esmorecidas!
Agora sento-me à mesa, qual eremita no meio das gentes, que atravessam o ecran. Até já comprei mais duas televisões para ver se era a minha que não os transmite, e nada!
Continuo a achar a sopa fria, a côdea sem sal e as mulheres sem seios.
Faltam-me os estímulos e a clareza das ideias que me mantinham à tona.
Desespero!
Afundo-me!
Afogo-me!