Vasco Pulido Valente: “A Marcelo falta autoridade e visão”
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Vasco Pulido Valente: “A Marcelo falta autoridade e visão”
Vasco Pulido Valente: “A Marcelo falta autoridade e visão”
05.06.2016 às 18h29
Nuno Botelho
Ângela Silva e Filipe Santos Costa
(texto)
Nuno Botelho
(fotos)
O historiador e cronista é arrasador na análise ao novo Presidente da República: falta-lhe gravitas, falta-lhe autoridade, falta-lhe visão. “Diz lugares comuns sobre tudo” e é menos “chefe” do que Cavaco era. Numa entrevista ao Expresso por ocasião do lançamento de “De Mal a Pior”, o novo livro de crónicas que chega às lojas na próxima semana, Pulido Valente fala das memórias que está a começar a escrever, da sua passagem, em breve, dos jornais para um projeto online e do estado do país, entre problemas de sempre e desafios novos, como a formação da “geringonça”.
Na sua opinião, o futuro do acordo entre as esquerdas ditará em boa medida o futuro do regime. “Se falhar este entendimento do Governo à esquerda, a consequência é que deixa de poder haver um governo”, pois a esquerda não se voltará a entender, não haverá condições para um novo bloco central e será quase impossível uma maioria absoluta PSD-CDS. “É um governo paralisado, como o resto do país”, sentencia Pulido Valente, no excerto da entrevista focado na política que agora publicamos.
Marcelo Rebelo de Sousa faz bem ao ajudar a segurar António Costa e o Governo? Ele fala em interesse nacional, vê patriotismo nisto?
Como diria o De Gaulle, o problema do Marcelo Rebelo de Sousa como chefe do Estado são dois: primeiro, não é um chefe, segundo, não manda no Estado.
Então, quem é o chefe?
Ele não é um chefe. Não há aí ninguém que seja o chefe, como até certa altura foi o Soares. E o Cavaco.
Marcelo é menos que Cavaco?
É. Tem menos carácter de chefe do que o Cavaco. O Cavaco tinha objetivos, tinha persistência, tinha resolução, que o Marcelo não tem.
Falta-lhe o quê? Autoridade?
Falta-lhe autoridade, falta-lhe uma visão, falta resolução. A falta de autoridade é uma consequência das outras coisas.
Mas o povo adora-o.
Pois... Esta política do afeto funciona mas tem um prazo curto de vida. Já começa a abrandar. Se o Presidente da República é um senhor muito simpático que vai dar beijinhos a toda a gente que encontra e tirar aquelas fotografias com telemóveis... como é que aquilo se chama?
Selfies.
Sim, tirar selfies com toda a gente... As pessoas gostam, acham o homem simpático...
Mas não lhe vê mais do que isso? Não lhe vê espessura?
Não. E [Marcelo] não lhes traz nada: dá-lhes dois dedos de conversa e uma famazita local e mais nada, acabou. Nestas condições, que ele começou na campanha e continuou na Presidência, o Marcelo tem muito pouca autoridade. A autoridade exige uma certa gravitas e uma certa distância, e ele tem pouca autoridade neste momento.
Ou seja, se ele por alguma razão achar que precisa de por António Costa ou a geringonça na ordem, não terá autoridade para o fazer?
Ele não tem que os pôr na ordem. Ele está a fazer o que pode para que não haja nenhuma espécie de desastre ou convulsão, e que o Governo cumpra o seu mandato serenamente.
Nuno Botelho
Mas Marcelo tem exercido o mandato de forma bastante interventiva: fala de tudo, mete-se em tudo, acompanha tudo o que se passa no Governo...
Ele fala de tudo, mas diz lugares comuns sobre tudo, incluindo coisas que não sabe. Numa das coisas [que disse] voltou imediatamente para trás: a história de que haveria um ciclo que vai até às autárquicas. Isso nem constitucionalmente nem politicamente faz sentido.
As autárquicas não funcionaram sempre como um aferidor da força política do Governo? Dois primeiros-ministros caíram depois de autárquicas: Pinto Balsemão e António Guterres.
Mas não são ciclos políticos. Nesses dois caos eram pessoas que estavam no fio da navalha, em situações muito periclitantes.
No seu livro há uma crónica em que lamenta que não se sabe se Cavaco pensa alguma coisa, porque se pensa, não diz nada, pois Cavaco não falava. Marcelo fala, e muito — não é uma evolução? Ou não se ganha nada com um Presidente que fale tanto sobre tanta coisa?
Não falar ou dizer o que o Marcelo diz é a mesma coisa.
Mas acha que Marcelo só fala de lugares comuns?
Ele diz o que o Governo diz, ou o que a opinião letrada diz... não cria problemas a ninguém. Limita-se a repetir a ortodoxia de cada dia.
Não vê pensamento próprio em Marcelo?
Não. Continua a dizer, como o Cavaco, que é preciso que os portugueses se entendam. Esse é um desejo centenário e os portugueses nem por isso se entenderam.
Então não vê nesta agitação de Marcelo nenhum risco para o regime semipresidencialista?
Não, nenhum. Se há um risco para o regime semipresidencialista vem da modificação profunda das esquerdas. Porque se e quando este Governo cair, a esquerda não pode continuar como está.
Leia a versão intergral da entrevista a Vasco Pulido Valente no Expresso Diário de terça-feira, 7 de junho.
05.06.2016 às 18h29
Nuno Botelho
O povo adora-o, mas Vasco Pulido Valente não — até porque nem sabe como se chamam aquelas fotos que Marcelo Rebelo de Sousa tira com toda a gente com quem se cruza. Selfies, isso! Marcelo tira selfies, “dá dois dedos de conversa e acabou”. Fala muito, mas diz tão pouco como o seu antecessor, Cavaco, o mudo
Ângela Silva e Filipe Santos Costa
(texto)
Nuno Botelho
(fotos)
O historiador e cronista é arrasador na análise ao novo Presidente da República: falta-lhe gravitas, falta-lhe autoridade, falta-lhe visão. “Diz lugares comuns sobre tudo” e é menos “chefe” do que Cavaco era. Numa entrevista ao Expresso por ocasião do lançamento de “De Mal a Pior”, o novo livro de crónicas que chega às lojas na próxima semana, Pulido Valente fala das memórias que está a começar a escrever, da sua passagem, em breve, dos jornais para um projeto online e do estado do país, entre problemas de sempre e desafios novos, como a formação da “geringonça”.
Na sua opinião, o futuro do acordo entre as esquerdas ditará em boa medida o futuro do regime. “Se falhar este entendimento do Governo à esquerda, a consequência é que deixa de poder haver um governo”, pois a esquerda não se voltará a entender, não haverá condições para um novo bloco central e será quase impossível uma maioria absoluta PSD-CDS. “É um governo paralisado, como o resto do país”, sentencia Pulido Valente, no excerto da entrevista focado na política que agora publicamos.
Marcelo Rebelo de Sousa faz bem ao ajudar a segurar António Costa e o Governo? Ele fala em interesse nacional, vê patriotismo nisto?
Como diria o De Gaulle, o problema do Marcelo Rebelo de Sousa como chefe do Estado são dois: primeiro, não é um chefe, segundo, não manda no Estado.
Então, quem é o chefe?
Ele não é um chefe. Não há aí ninguém que seja o chefe, como até certa altura foi o Soares. E o Cavaco.
Marcelo é menos que Cavaco?
É. Tem menos carácter de chefe do que o Cavaco. O Cavaco tinha objetivos, tinha persistência, tinha resolução, que o Marcelo não tem.
Falta-lhe o quê? Autoridade?
Falta-lhe autoridade, falta-lhe uma visão, falta resolução. A falta de autoridade é uma consequência das outras coisas.
Mas o povo adora-o.
Pois... Esta política do afeto funciona mas tem um prazo curto de vida. Já começa a abrandar. Se o Presidente da República é um senhor muito simpático que vai dar beijinhos a toda a gente que encontra e tirar aquelas fotografias com telemóveis... como é que aquilo se chama?
Selfies.
Sim, tirar selfies com toda a gente... As pessoas gostam, acham o homem simpático...
Mas não lhe vê mais do que isso? Não lhe vê espessura?
Não. E [Marcelo] não lhes traz nada: dá-lhes dois dedos de conversa e uma famazita local e mais nada, acabou. Nestas condições, que ele começou na campanha e continuou na Presidência, o Marcelo tem muito pouca autoridade. A autoridade exige uma certa gravitas e uma certa distância, e ele tem pouca autoridade neste momento.
Ou seja, se ele por alguma razão achar que precisa de por António Costa ou a geringonça na ordem, não terá autoridade para o fazer?
Ele não tem que os pôr na ordem. Ele está a fazer o que pode para que não haja nenhuma espécie de desastre ou convulsão, e que o Governo cumpra o seu mandato serenamente.
Nuno Botelho
Mas Marcelo tem exercido o mandato de forma bastante interventiva: fala de tudo, mete-se em tudo, acompanha tudo o que se passa no Governo...
Ele fala de tudo, mas diz lugares comuns sobre tudo, incluindo coisas que não sabe. Numa das coisas [que disse] voltou imediatamente para trás: a história de que haveria um ciclo que vai até às autárquicas. Isso nem constitucionalmente nem politicamente faz sentido.
As autárquicas não funcionaram sempre como um aferidor da força política do Governo? Dois primeiros-ministros caíram depois de autárquicas: Pinto Balsemão e António Guterres.
Mas não são ciclos políticos. Nesses dois caos eram pessoas que estavam no fio da navalha, em situações muito periclitantes.
No seu livro há uma crónica em que lamenta que não se sabe se Cavaco pensa alguma coisa, porque se pensa, não diz nada, pois Cavaco não falava. Marcelo fala, e muito — não é uma evolução? Ou não se ganha nada com um Presidente que fale tanto sobre tanta coisa?
Não falar ou dizer o que o Marcelo diz é a mesma coisa.
Mas acha que Marcelo só fala de lugares comuns?
Ele diz o que o Governo diz, ou o que a opinião letrada diz... não cria problemas a ninguém. Limita-se a repetir a ortodoxia de cada dia.
Não vê pensamento próprio em Marcelo?
Não. Continua a dizer, como o Cavaco, que é preciso que os portugueses se entendam. Esse é um desejo centenário e os portugueses nem por isso se entenderam.
Então não vê nesta agitação de Marcelo nenhum risco para o regime semipresidencialista?
Não, nenhum. Se há um risco para o regime semipresidencialista vem da modificação profunda das esquerdas. Porque se e quando este Governo cair, a esquerda não pode continuar como está.
Leia a versão intergral da entrevista a Vasco Pulido Valente no Expresso Diário de terça-feira, 7 de junho.
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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