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O fim do mito do super-homem

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O fim do mito do super-homem Empty O fim do mito do super-homem

Mensagem por Vitor mango Seg Jun 15, 2009 2:16 am

O fim do mito do super-homem
11 June 09 09:00 PM

DA MINHA última crónica, retiro as seguintes frases:

«Para o PSD, será óptimo se ganhar e péssimo se perder por muitos; mas as extrapolações que se façam para o resultado das legislativas serão perfeitamente arbitrárias».

«As descoordenações entre Vital Moreira e Sócrates prejudicaram o partido do Governo».

«A campanha de Vital Moreira não potenciou o PS, enquanto a de Paulo Rangel beneficiou certamente o PSD».

«Paulo Rangel foi a grande revelação política dos últimos tempos».

«Liguei o rádio. Sócrates dizia que Manuela Ferreira Leite não prestava, que não enchia os comícios, etc. Até no futebol os treinadores falam dos adversários com mais respeito. Só no wrestling se assistirá a este género de ataques pessoais».

AS SURPREENDENTES eleições de domingo passado não permitem nenhuma extrapolação para as legislativas. Até porque as europeias são uma forma um tanto ‘cobarde’ que o eleitorado tem de mostrar o seu descontentamento. Os eleitores podem ‘revoltar-se’, sem correrem os correspondentes riscos.

Os desempregados e os que perderam as economias, os professores em luta contra a ministra, os médicos que estiveram em guerra com Correia de Campos, as populações que ficaram sem urgências nem centros de saúde, os polícias, todo o género de pessoas descontentes puderam atirar pedras ao Governo – sabendo que isso não teria grandes consequências. Além disso, há questões que não terão beneficiado Sócrates, como o envolvimento pessoal em ‘temas fracturantes’ (aborto, casamentos gay, divórcio), que só dão votos ao BE, ou ainda os casos da licenciatura e do Freeport, e os atritos com o Presidente da República.

O slogan da campanha também não ajudou. Com os portugueses mergulhados em problemas, o PS alheava-se de tudo, proclamando: ‘Nós, Europeus’.

Entretanto, não sendo legítimo fazerem-se extrapolações destes resultados para outras eleições, o domingo eleitoral deu muitas indicações que convém ter em conta.

SÓCRATES É MORTAL

Para começar, quebrou-se o ‘mito da invencibilidade’ de Sócrates. Este aparecia na política como um super-homem, que podia fazer tudo e dizer tudo o que queria sem que isso tivesse consequências. Hoje sabe-se que Sócrates pode ser vencido. É mortal, como qualquer outro político.

E a queda deste mito tem importantes consequências – internas e externas.

Internamente, os seus críticos sentem-se um pouco mais livres para expressar dúvidas. Os que achavam que era um risco não estar a 100% com Sócrates, hoje acharão o contrário: que é um risco estar com ele a 100%.

Externamente, a consciência de que Sócrates e o PS podem ser derrotados constitui uma injecção de optimismo para os que se opõem ao Governo, redobrando-lhes a energia.

ARROGÂNCIA FOI EXCESSIVA

O excesso de confiança de Sócrates e da sua entourage levaram-nos muitas vezes a ter um comportamento arrogante, de ‘quero, posso e mando’, que roçou o despotismo. A convicção de que iam permanecer no Governo por muitos e bons anos levou-os a usar o poder com soberba. Augusto Santos Silva, Pedro Silva Pereira, mesmo Vieira da Silva ou Teixeira dos Santos pareciam às vezes ter o rei na barriga. Isso vai ter de mudar – e já se começou a notar na própria noite eleitoral.

DESRESPEITARAM-SE OS ADVERSÁRIOS

Durante este mandato o PS usou um estilo pouco vulgar para quem está no poder: atacou pessoalmente os adversários políticos. Os ataques de Sócrates a Ferreira Leite ultrapassaram todas as marcas. Caberia na cabeça de alguém que Cavaco, quando era primeiro-_-ministro e tinha a maioria absoluta, começasse a atacar pessoalmente Guterres? O primeiro-ministro governa – não anda metido nas guerras políticas a dizer mal dos que o criticam. Sempre achei que Sócrates e os seus ministros cometiam um erro crasso ao usarem o ataque aos adversários como arma de defesa. O poder tem de se afirmar pela positiva. Julgo que essa forma de actuar prejudicou imenso o PS.

SUPERVALORIZOU-SE

O MARKETING

Outro dos mitos da ‘era Sócrates’ residia na aposta fortíssima na política-espectáculo. Na crença nas virtudes da política de plástico. A política feita com constante recurso aos consultores de imagem, baseada no marketing, no uso de grandes meios tecnológicos, na aposta nas encenações (transporte de pessoas em camionetas, palcos especiais, etc). Estas eleições mostraram que o espectáculo não é tudo – nem é o principal. Uma boa ideia, uma frase certeira podem ser mais eficazes do que um palco cheio de sofisticação.

MAS não foram só Sócrates e o PS que saíram derrotados destas eleições.

Houve mais derrotados.

DESCRÉDITO

DAS SONDAGENS

Uma das áreas que têm conhecido maior crescimento nos últimos anos é a das sondagens. Todos os jornais, rádios e televisões publicam abundantemente sondagens, os partidos encomendam sondagens, comentam-se pormenorizadamente sondagens. Tem-se a ideia de que as sondagens são um instrumento imprescindível de informação política. Esta ideia foi positivamente cilindrada. Quase todas as sondagens (não só as pré-eleitorais mas mesmo as feitas à boca das urnas) falharam rotundamente. E não se enganaram apenas nos valores. Erraram no próprio sentido de voto, ou seja, na questão essencial que estava em jogo e que interessava apurar: quem seria o vencedor. A generalidade das sondagens dizia que ganhava o PS – e afinal ganhou o PSD. As sondagens foram portanto perniciosas, induzindo toda a gente em erro.

DESCONFIANÇA

NOS COMENTADORES

Os erros das sondagens acabaram por colocar os ‘comentadores’ entre os perdedores. Eles andaram semanas a fio a teorizar sobre números que afinal estavam completamente desfasados da realidade. Caíram no ridículo de elaborarem grandes explicações a partir de resultados de sondagens que depois se verificaria estarem errados. Legitimamente, as pessoas interrogam-se: então os comentadores não tinham obrigação de entender que aqueles valores não estavam certos? Os comentadores não têm obrigação de se aperceber das tendências, de apalpar o pulso ao país? Se não, para que servem? Há anos que não comento sondagens – exactamente porque comecei a ver que era um exercício arriscado e estéril. Espero que estes erros tenham servido de lição a muita gente. Mas os comentadores falharam de outras maneiras. Quem não se lembra do que se disse e escreveu sobre o ‘atraso’ do PSD na escolha do candidato? E das críticas à própria escolha de Rangel? A memória é curta...

RECUPERAÇÃO

DE FERREIRA LEITE

As sondagens feitas antes _das eleições e a grande diferença entre o PS e o PSD levaram a concluir que Fer_reira Leite, com a sua so_briedade e ‘falta de jeito’, afugentava os eleitores.

Ora estes resultados permitem pensar que o excesso de espectáculo, o abuso do marketing, a sobreexposição do primeiro-ministro podem ter começado a cansar, enquanto a sobriedade e a ‘falta de jeito’ podem começar a render. A recusa dos efeitos-_-especiais por parte de Ferreira Leite pode transmitir uma ideia de sinceridade e de ‘verdade’ – enquanto a propaganda pode, pelo contrário, ser tomada como ilusão e sugerir falsidade.

RESSURREIÇÃO

DO PSD

Estas eleições também varreram do horizonte o fantasma do fim do PSD. Certas pessoas (como José Miguel Júdice) escreveram que o PSD estava tão mal, tão mal, tão mal, que corria o risco de acabar. Sempre achei esta ideia extravagante, porque o PSD é uma realidade sociológica antes de ser uma realidade partidária. Tal como sucede com o PS, aliás. O ‘par’ PSD/PS, que alterna no exercício da governação, corresponde à dualidade que existe em todo o mundo democrático: em Inglaterra temos os conservadores e os trabalhistas, em Espanha o PP e o PSOE, na Alemanha o SPD e a CDU, nos Estados Unidos os democratas e os republicanos, etc. E as democracias onde esta alternância se verifica são as que funcionam melhor.

EXISTÊNCIA

DE ALTERNATIVA

Com o ‘fim do PSD’ posto de parte, volta a existir alternativa ao Governo. Antes das eleições de domingo a dúvida era se o PS ganharia por poucos ou por muitos as próximas legislativas. Se haveria ou não maioria absoluta do PS. Ora, de repente, cria-se a ideia de que o PSD até pode ganhar. Esta foi a alteração psicológica mais importante trazida pelas europeias.

Note-se que não estou a dizer que ‘é provável’ que o PSD vença as legislativas. Acho até muitíssimo improvável. Digo apenas que os sociais-democratas podem agora dizer que têm hipóteses de as ganhar sem provocarem gargalhadas na plateia.

QUANTO aos outros partidos, há que assinalar a ultrapassagem do PCP pelo BE, que é um ‘facto histórico’: representa a passagem de testemunho na esquerda, das mãos da esquerda comunista tradicional para uma esquerda igualmente marxista mas com uma roupagem mais moderna, capaz de atrair e entusiasmar a juventude. E esta passagem de testemunho é mais um sinal do sofrido estertor do comunismo.

O CDS aguentou-se – e foi beneficiado pelo facto de ter ultrapassado as expectativas. As sondagens começaram por prejudicá-lo – mas agora foram-lhe úteis, servindo-lhe para se vitimizar.

Entre os pequenos, Laurinda Alves foi a única que se destacou – mostrando que a frescura é percepcionada pelos eleitores embora não renda muitos votos. O voto útil ainda impõe a sua lei.

UMA palavra final para os que dizem que o Governo perdeu legitimidade ou já não deve tomar grandes decisões. É inadmissível dizer-_-se isso. Os ciclos eleitorais já fomentam o imediatismo e as vistas curtas. Dizia um autor americano que «os ciclos eleitorais tornam as políticas míopes». Ora, se ainda os encurtarmos, qualquer dia não podem tomar-se decisões de fundo.

Pense-se só nisto: se as europeias se realizassem a meio da legislatura, e o partido do poder as perdesse, o _Governo ficaria dois anos com poderes limitados? Tenham dó!

Além disso, é anti-democrático extrair conclusões de umas eleições para outras. Cada eleição serve para o que serve. Uma votação para o Parlamento Europeu não pode ter consequências para o Governo do país.
Publicadopor JAS | 9 Comentário(s)
Vitor mango
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Mensagem por Vitor mango Seg Jun 15, 2009 2:19 am

AS SURPREENDENTES eleições de domingo passado não permitem nenhuma extrapolação para as legislativas. Até porque as europeias são uma forma um tanto ‘cobarde’ que o eleitorado tem de mostrar o seu descontentamento. Os eleitores podem ‘revoltar-se’, sem correrem os correspondentes riscos.
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