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Lição para a América da enfermeira Julieta

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Lição para a América da enfermeira Julieta Empty Lição para a América da enfermeira Julieta

Mensagem por Viriato Seg Jul 27, 2009 2:51 am

Lição para a América da enfermeira Julieta

por LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Obama quer todos com acesso à saúde. Hoje a América gasta mais mas faz pior que Portugal

Malia, de 11 anos, e Sasha, de 7, podem brincar à vontade nos jardins da Casa Branca que se partirem a cabeça não será uma tragédia. Mesmo antes de o pai ser Presidente, a família Obama já fazia parte dos 158 milhões de americanos a quem o patrão paga seguro de saúde. Some-se os 15 milhões com contrato directo com as seguradoras, os 42 milhões de idosos que beneficiam do Medicare e os 37 milhões de pobres do Medicaid e mesmo assim sobram 46 milhões sem cobertura. É a pensar nesses que Barack Obama queria aprovar em Agosto uma reforma da saúde que passa, no essencial, pela obrigatoriedade de as empresas pagarem um seguro aos trabalhadores. Para o país mais rico, com o maior investimento em pesquisa e os hospitais mais bem equipados deveria ser objectivo fácil. Mas não é. Hillary Clinton, da equipa de Obama, sabe-o bem. Quando o marido Bill era presidente tentou democratizar o acesso à saúde e falhou. Agora é Obama a esbarrar na oposição e não só dos republicanos. O Senado, onde os democratas são 60 em cem, já disse não haver pressas.

A América não é um exemplo em matéria de sistema de saúde. A obsessão com a aplicação dos impostos fez com que nunca se tivesse por lá criado um serviço público universal, contrariando aquilo que aconteceu na Europa e no Canadá. O mais emblemático dos sistemas de saúde é o britânico, criado pelos trabalhistas em 1948, mas para quem acha que é uma invenção da esquerda basta lembrar que o pioneiro surgiu na Alemanha de Bismarck, no século XIX. Em Portugal, foi preciso esperar por 1979, mas hoje toda a população está coberta pelo sistema de saúde, pago com os impostos de todos. E se há razões de queixa, também há êxitos. A mortalidade infantil, por exemplo, passou de 39 por mil em 1975 para os 4 por mil actuais. O que significa que estamos melhor que os EUA, aos quais a OMS atribui uma taxa de 8 por mil. E se a esperança de vida de um americano é igual à de um português, 75 anos, já elas vivem menos dois anos que as portuguesas (80 e 82). Apesar de a América gastar em saúde 15 % do PIB e Portugal 10%.

Mas melhor que as estatísticas é um testemunho: quando o meu filho tinha a idade de Sasha partiu a cabeça a brincar num jardim. Comigo não tinha nem documentos nem dinheiro. No centro de saúde a enfermeira Julieta fez aquilo que está certo, mesmo sendo um caso menor: tranquilizou o Daniel e aplicou o curativo. As burocracias ficaram para depois. A lição que todos, a começar pela América, devíamos tirar é que, seja por uma cabeça partida ou um ataque de coração, ninguém pode deixar de ter direito à saúde. Nisso a enfermeira portuguesa e o Presidente americano estão de acordo. A fórmula para lá chegar não é, porém, indiferente: Obama acredita nos privados. Mas estes nunca substituirão um eficaz sistema nacional de saúde.
Viriato
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