Conteúdos 'online' grátis têm os dias contados

Associação Portuguesa de Imprensa revela que está a ser criada uma plataforma 'online' de agregação e venda de conteúdos jornalísticos para 2010

Uma nova tendência está a desenhar-se nos media: a cobrança dos conteúdos online. E à cabeça deste movimento encontra-se Rupert Murdoch, o magnata dos media. Pegando no êxito da experiência feita com o seu Wall Street Journal, o proprietário da News Corporation anunciou a cobrança de conteúdos no Sunday Times a partir de Junho de 2010.

Portugal está atento e a acompanhar a mudança. Em declarações ao DN, o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API), João Palmeiro, assume o atraso dos media no online, mas garante que está a ser preparada uma cooperativa para gestão do licenciamento de conteúdos jornalísticos e uma plataforma de agregação online desses conteúdos, que vai marcar a concertação estratégica dos media no online.

O portal deve surgir em 2010, mas o modelo final ainda não está definido. Pode passar por um projecto europeu com as bibliotecas nacionais, usando o depósito legal para os conteúdos "serem visionados por qualquer pessoa em qualquer sítio do mundo", mas, "mais do que isso, paga".

A cooperativa cobra pelos conteúdos e distribui as verbas pelos editores. "Entram os que quiserem entrar, com os conteúdos que quiserem", e são eles quem decide o modelo de negócio, incluindo deixá-los em acesso gratuito. Aquela entidade fiscalizará os contratos de licenciamento de conteúdos e se estes são usados sem licença - um receio que pode atingir alguns sites e blogues.

"A lei é clara", esclarece o presidente da API, "há direito de citação para fins de crítica e científicos e para os fins da sua própria actividade". A infracção surge quando há "exploração económica indevida, quando se faz disso negócio".

Porque é que esta cooperativa só vai aparecer agora, quando os media online têm mais de uma década? "Porque a segurança dos micropagamentos é recente", explica Palmeiro. "O modelo que se usava para ter receitas de publicidade e de venda de conteúdos na Internet foi um modelo analógico, como os editores o concebiam e conheciam para o papel", reconhece. "A assinatura era como no papel ou negociava-se um banner da mesma forma que uma página de publicidade" quando "o modelo de negócio na rede se caracteriza por pagamentos baixos, feitos muitas vezes de forma célere e dando liberdade ao consumidor para escolher quando e quanto quer".

Algo que os associados da API sabem desde 2003, quando foi realizado um estudo sobre como os jovens entre os 15 e 25 anos se iriam relacionar com os conteúdos. "As respostas estão todas lá: compramos conteúdos agregados, compramos se pudermos pagar por vários, se não ficarmos obrigados ao jornal" mas aos artigos. No entanto, "ninguém quis ouvir falar disso".

A evolução dessa atitude de desinteresse para a actual "foi por estarmos perante uma ameaça, com a diminuição constante das vendas e da receita de publicidade - e com a publicidade online sempre a subir". Agora, "alguma coisa vai acontecer". Os editores "estão de acordo que a cópia privada tem de ser explorada até ao limite e que "têm de se preparar para uma posição coordenada na venda desagregada de conteúdos".

Também de acordo estão 25 dos principais grupos de media europeus (Declaração de Hamburgo) relativamente à directiva sobre direitos de autor em ambiente electrónico.