Vagueando na Notícia


Participe do fórum, é rápido e fácil

Vagueando na Notícia
Vagueando na Notícia
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

O dilema de Sócrates

Ir para baixo

O dilema de Sócrates Empty O dilema de Sócrates

Mensagem por BUFFA General Aladeen Ter Out 20, 2009 11:59 am

O dilema de Sócrates




Aparentemente, José Sócrates fez a todos a mesma pergunta e todos lhe responderam que não. Ainda bem. Se todos tivessem dito que sim seria muito mais difícil ao primeiro-ministro indigitado formar a sua nova equipa. E não é certo que um Executivo apoiado por todos os partidos durasse mais tempo do que o Governo minoritário do PS que Sócrates vai agora constituir.

Aliás, perante os resultados eleitorais e as posições assumidas na campanha, um tal Governo era praticamente a única saída. O Bloco Central só tem sentido numa situação de emergência nacional - guerra, catástrofe ou algo similar. Uma aliança com o CDS seria aceitável, mas suicida para um PS que, além de ter feito um discurso eleitoral de esquerda, perdeu votos para a sua esquerda. Dificilmente, aliás, Sócrates faria passar essa aliança no PS, e Paulo Portas parece tentado a aproveitar as dificuldades que o PSD atravessa para manter a autonomia e conseguir que o CDS se afirme na direita. À esquerda, o BE e o PCP nunca mostraram interesse num entendimento com Sócrates, nem este deu sinais de abertura a tal hipótese. Além disso, o PS só faria maioria absoluta com uma coligação a três, o que, à partida, reduzia praticamente a zero a possibilidade de um acordo.

Teremos, pois, um Governo minoritário do PS. Vai governar à vista e sempre com um olho nas sondagens. Isto significa que haverá muito diálogo para tentar corresponsabilizar as oposições - as primeiras reuniões tiveram já esse objectivo -, mas nada de reformas ousadas ou desafios aos interesses estabelecidos. Não sabemos se o país pode progredir sem políticas impopulares; mas sabemos que o Governo começa a cair quando e se decidir aplicá-las, apesar de as políticas impopulares nunca o serem para toda a gente. O dilema com que Sócrates está confrontado é o de governar ou apenas estar no Governo.

Vitórias e derrotas

Nas autárquicas, os votos pertencem aos autarcas, mas quem vem explicar, ao fim da noite, as vitórias e as derrotas são os líderes dos partidos. No domingo, só dois deles tinham alguma coisa para festejar (Sócrates e Manuela, talvez mais ele do que ela), mas todos se aplicaram nesse jogo que consiste em apresentar uma derrota gritante como uma meia vitória ou, pelo menos, como uma derrota aceitável. O respeitável público assiste, complacente, não se importando que o tomem por tanso com a manipulação de números e percentagens.

Francisco Louçã foi, ou pareceu, o mais humilde perante o fracasso, admitindo que o BE tem muito que aprender. E tem, de facto, porque os seus resultados nas autárquicas foram um desastre. Um partido que, em votações separadas por duas escassas semanas - ainda que se trate de eleições diferentes -, perde 400 mil de 558 mil votos é um partido pouco saudável. Tão escassa implantação local faz pairar sobre ele o fantasma do PRD - uma formação moralista e de crescimento acelerado, tal como o BE, que em 1985 teve 45 deputados, em 1987 apenas sete e nas eleições seguintes desapareceu.

O CDS/PP é outro derrotado, tanto pelos resultados como pelas expectativas geradas com o seu crescimento nas legislativas. Paulo Portas tem sobre Louçã esta vantagem: pode reclamar uma fatia dos quase 900 mil votos dispersos pelas coligações em que o CDS participou com o PSD.

Já o PCP, embora num patamar mais alto do que BE e CDS, não tem nada para encobrir a sua derrota e, mesmo assim, Jerónimo de Sousa precisou de dois dias para a reconhecer. Com menos 50 mil votos do que em 2005, menos quatro câmaras (caiu de 32 para 28), entre as quais o velho bastião de Beja, torna-se difícil dourar os resultados. E não deixa de ser curioso ver Jerónimo quase ofendido a falar de um "acordo por debaixo da mesa" só porque os eleitores de direita votaram no candidato do PS para acabar com a gestão do PCP em Beja, mas não discutindo, certamente porque lhe parece natural, que muitos eleitores comunistas de Lisboa tenham desviado o seu voto para ajudar António Costa a vencer Santana Lopes.

Se alguma coisa as autárquicas mostraram foi que o bipartidarismo, dado como morto por muita gente nas legislativas, está, afinal, para lavar e durar. O PSD ganhou, obviamente, porque teve mais câmaras, apesar de 22 delas resultarem das tais coligações com o CDS e não sabermos qual o contributo de cada partido para essas votações. E o PS obteve, este sim, a tal meia vitória, porque ganhou mais câmaras do que em 2005, sendo uma a de Lisboa, e reduziu drasticamente a distância que o separava do PSD. Não é coisa pouca para um partido que parecia condenado a pagar em votos quatro anos e meio de governação impopular. Quem disse que o PS 'perdeu' as legislativas porque, embora ganhando, ficou sem a maioria absoluta, não pode argumentar agora que o PSD obteve uma grande vitória quando perdeu tantos votos e mandatos.

Triste figura

João de Deus Pinheiro tem idade e estatuto político para não se prestar a despautérios. A sua renúncia ao mandato de deputado é uma história mal contada, já pelas razões 'pessoais' que invoca mas não explicita, já porque quem entra para o seu lugar é o líder da JSD. E as 'jotas', como se sabe, têm muita força. Ou Pinheiro nunca teve a intenção de ser deputado - esperaria ir para o Governo ou para outra função no caso de vitória do PSD -, ou foi empurrado para dar lugar ao 'jota'. Num caso ou no outro, fez uma triste figura.


Fernando Madrinha

expresso
BUFFA General Aladeen
BUFFA General Aladeen

Pontos : 4887

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos