Maçãs proibidas
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Maçãs proibidas
Maçãs proibidas
Enquanto não houve notícia do novo governo, o país foi treinando a moção de censura.
José Saramago escreve um livro sobre as suas crenças e descrenças religiosas, privando Deus de existir na sua consciência e literatura, e chega o dilúvio.
Não deixa de ser revelador da nossa essência, esta reacção ao novel livro do Prémio Nobel Saramago. O senhor limita-se a escrever a sua interpretação do mais antigo dos livros, a bíblia. E os treinadores de bancada apressam-se a criticar a equipa de Caín. E é revelador porque prova que os portugueses, que nunca lidam bem com o iberismo, não perdoam a José Saramago ter cartão de cidadão espanhol. Viver em Lanzarote e tomar para casar uma espanhola. E nesta medida, a reacção mais básica da espessa camada de antagonismo a este livro, é precisamente contrária aos ensinamentos bíblicos: os portugueses não perdoam a Saramago a sua escolha geográfica.
Num país que é laico - está escrito na Constituição - e a interpretação é livre, ainda há delito de opinião. Mas não há delito de prática. Se pensarmos na maçã que Eva morde no paraíso, talvez nos recordemos da ‘vichisoyse' do professor Marcelo Rebelo de Sousa, que arrumou Paulo Portas a um canto.
Se pensarmos na luta fratricida entre Caín e Abel, é inevitável pensar em Henrique Chaves que no moribundo governo de Santana Lopes deu o golpe fatal ao seu "irmão". Ou a forma como o Presidente da República conduziu o caso das escutas em plena campanha eleitoral - história que um dia será melhor contada.
Mas estes são alguns de muitos exemplos. São aliás tantos que este espaço de opinião tomaria a dimensão da bíblia para um registo completo.
E a parábola continua, quando lembramos que as portas do paraíso se fecharam para tantos: para Luís Campos e Cunha, Correia de Campos, Isabel Pires de Lima, para não atirar sempre a bola ao partido contrário. Embora não me restem dúvidas que Manuela Ferreira Leite morrerá às mãos dos companheiros de partido que a levaram pelas portas douradas. E lá para os lados da esquerda radical, o PCP tem uma técnica de expulsão apurada, e o Bloco deixou de castigo Joana Amaral Dias.
A política é, a meu entender, o campo onde Caín e toda a família do éden encontram simetria. Maçãs envenenadas há muitas, irmãos desavindos às centenas e garanto que não é paraíso algum. Adão está sempre a prazo - ainda há muita gente convencida que este governo durará apenas dois anos - e Eva só entra em cena pela mão da lei da paridade.
Por mim, José Saramago pode escrever o que entender sobre a bíblia. Não é crime ter interpretação própria, mas é quase criminoso este buzinão popular, nada cristão, à obra do Nobel e comunista Saramago.
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Marta Rebelo, Jurista
Enquanto não houve notícia do novo governo, o país foi treinando a moção de censura.
José Saramago escreve um livro sobre as suas crenças e descrenças religiosas, privando Deus de existir na sua consciência e literatura, e chega o dilúvio.
Não deixa de ser revelador da nossa essência, esta reacção ao novel livro do Prémio Nobel Saramago. O senhor limita-se a escrever a sua interpretação do mais antigo dos livros, a bíblia. E os treinadores de bancada apressam-se a criticar a equipa de Caín. E é revelador porque prova que os portugueses, que nunca lidam bem com o iberismo, não perdoam a José Saramago ter cartão de cidadão espanhol. Viver em Lanzarote e tomar para casar uma espanhola. E nesta medida, a reacção mais básica da espessa camada de antagonismo a este livro, é precisamente contrária aos ensinamentos bíblicos: os portugueses não perdoam a Saramago a sua escolha geográfica.
Num país que é laico - está escrito na Constituição - e a interpretação é livre, ainda há delito de opinião. Mas não há delito de prática. Se pensarmos na maçã que Eva morde no paraíso, talvez nos recordemos da ‘vichisoyse' do professor Marcelo Rebelo de Sousa, que arrumou Paulo Portas a um canto.
Se pensarmos na luta fratricida entre Caín e Abel, é inevitável pensar em Henrique Chaves que no moribundo governo de Santana Lopes deu o golpe fatal ao seu "irmão". Ou a forma como o Presidente da República conduziu o caso das escutas em plena campanha eleitoral - história que um dia será melhor contada.
Mas estes são alguns de muitos exemplos. São aliás tantos que este espaço de opinião tomaria a dimensão da bíblia para um registo completo.
E a parábola continua, quando lembramos que as portas do paraíso se fecharam para tantos: para Luís Campos e Cunha, Correia de Campos, Isabel Pires de Lima, para não atirar sempre a bola ao partido contrário. Embora não me restem dúvidas que Manuela Ferreira Leite morrerá às mãos dos companheiros de partido que a levaram pelas portas douradas. E lá para os lados da esquerda radical, o PCP tem uma técnica de expulsão apurada, e o Bloco deixou de castigo Joana Amaral Dias.
A política é, a meu entender, o campo onde Caín e toda a família do éden encontram simetria. Maçãs envenenadas há muitas, irmãos desavindos às centenas e garanto que não é paraíso algum. Adão está sempre a prazo - ainda há muita gente convencida que este governo durará apenas dois anos - e Eva só entra em cena pela mão da lei da paridade.
Por mim, José Saramago pode escrever o que entender sobre a bíblia. Não é crime ter interpretação própria, mas é quase criminoso este buzinão popular, nada cristão, à obra do Nobel e comunista Saramago.
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Marta Rebelo, Jurista
Viriato- Pontos : 16657
Re: Maçãs proibidas
Não deixa de ser revelador da nossa essência, esta reacção ao novel livro do Prémio Nobel Saramago. O senhor limita-se a escrever a sua interpretação do mais antigo dos livros, a bíblia. E os treinadores de bancada apressam-se a criticar a equipa de Caín. E é revelador porque prova que os portugueses, que nunca lidam bem com o iberismo, não perdoam a José Saramago ter cartão de cidadão espanhol. Viver em Lanzarote e tomar para casar uma espanhola. E nesta medida, a reacção mais básica da espessa camada de antagonismo a este livro, é precisamente contrária aos ensinamentos bíblicos: os portugueses não perdoam a Saramago a sua escolha geográfica.
Vitor mango- Pontos : 117475
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