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Liga dos últimos

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Mensagem por TheNightTrain Sáb Nov 07, 2009 3:56 pm

Liga dos Últimos

Não
me apetece falar de crimes, nem de violência, nem de polícias. Existem
momentos de TV em que a vida pára, em que a ternura emerge, em que a
lágrima ou a gargalhada brotam sem que outra razão exista que não seja
ver televisão.

Passa na RTP, a várias horas e em vários canais. A Liga dos Últimos,
liderada por Álvaro Costa e Hernâni Gonçalves, é uma lição de vida, de
festa, de compreensão de um país, o país dos últimos, afinal, o país
que somos, sempre em último nos índices de desenvolvimento europeu.

A
pretexto do futebol, de jogos das últimas divisões, os seus autores têm
o talento de revelar um mundo que não é rosa, nem cabe nas revistas
cor-de-rosa, feito de bifanas, paixões e desgarradas. Um país imenso
que se descobre na carolice, um país do desenrasca, uma multidão de
sonhos vividos como quimeras nos campos pelados, rodeados de
bebedeiras, discussões e pobreza. Um país que não é notícia, nem
primeira página, que não entra em galas e não sabe, porque lhe é
indiferente, o tamanho do mundo. Um país que sobrevive, que transforma
a espontaneidade num milagre de vida, desdentado, com projectos que não
vão para além do limite da sua rua.

A Liga dos Últimos
é uma incursão por um país tão real, que não conhece as Novas
Oportunidades, que já ouviu falar vagamente da União Europeia, a quem o
talento dos seus criadores e repórteres e a maestria de Álvaro Costa e
Hernâni Gonçalves entrega mais doçura e nos deixa na permanente
hesitação sobre se não somos todos nós que por ali passamos, umas vezes
à canelada, outras vezes de braço dado.

Não
é um momento de televisão sobre aqueles que vivem, mas sobre aqueles
que sobrevivem. Em que o dirigismo desportivo não tem dinheiro, em que
os árbitros não têm razão para serem corrompidos, onde a pureza das
intenções vai muito para além da impureza do pó e do álcool, das
interpretações e comentários. Então, o Prémio Capitão Moura é impagável
e, quando se percebe que está a chegar ao fim, nasce um sentimento de
saudade, de desejo que não acabe, e não sabemos se havemos de rir, se
havemos de chorar, e chegam-me aos sentidos os sinos de Hemingway
quando a ficha técnica encerra aquele tempo de tanto prazer e
desprazer, que não perguntarei por quem os sinos dobram. Eles dobram
por nós.


Francisco Moita Flores

in TV Guia nº 1547

TheNightTrain

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