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Os mitos da Lusitânia

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Mensagem por Viriato Seg Nov 30, 2009 8:56 am

Os mitos da Lusitânia

Somos um País de fantasmas, ilusões e embustes. Pecadores como os demais, desconfiados e invejosos como poucos, encontrámos nas liberalidades da nossa democracia o mais fértil dos terrenos para cavarmos as frustrações que as muitas décadas de obscurantismo, iliteracia e pobreza fizeram germinar. E das frustrações brotaram os mitos. Eis alguns dos mais tipicamente portugueses.

O Estado não é confiável - falso. Na esfera pública, como na privada, coexistem os bons e os maus exemplos. Há bons e maus dirigentes, bons e maus funcionários, bons e maus sistemas, bons e maus serviços. Há gente séria (a maioria) e malfeitores (a minoria). E há, sem dúvida, gorduras organizacionais, ineficiências e despesismo a que urge pôr termo. Tal como na sociedade civil.

A culpa da lentidão da Justiça é dos legisladores - falso. Se é certo que os nossos códigos processuais carecem de uma profunda revisão, não é menos verdade que há juízes rápidos e juízes lentos. Sei de causas idênticas decididas - e executadas - por uns em seis meses e por outros em seis anos. Sei das suas cumplicidades e rivalidades corporativas, dos seus embaraços tribais e ideológicos. E sei da impreparação juvenil de muitos.

A Justiça não possui meios de investigação - falso. O sistema judicial passou a dispor do mais eficaz dos meios - as escutas telefónicas generalizadas. Dizem-me que há cerca de 16 mil portugueses sob escuta (não, não divulgo a minha fonte, nem sob tortura). Por este andar, em breve atingiremos níveis comparáveis aos da Coreia do Norte (onde, em boa verdade, só os privilegiados do regime possuem telefone). Os operadores de telecomunicações que se cuidem.
O cidadão anónimo é um ser bacteriologicamente puro - falso. Não há cidadãos anónimos a não ser no ciberespaço, onde o anonimato não é mais do que um disfarce para a cobardia e a baixeza. O cidadão comum, esse, é tão puro, tão honesto, tão solidário, como qualquer cidadão incomum. O inverso é igualmente verdadeiro.

Os clientes do BPN e do BPP são vítimas inocentes - falso. Com algumas excepções (as dos simples depositantes), todos tinham a obrigação de conhecer os riscos que corriam ao fazerem aplicações financeiras em produtos estruturados, produtos premium, produtos para jogadores de todos os quadrantes e estratos sociais. É certo que a ganância faz parte da vida e que até as instituições mais insuspeitas incorrem facilmente nesse pecado mortal. Mas depois não se queixem.

Os economistas têm soluções para tudo, até para Portugal - falso. As soluções dos economistas para a ultrapassagem das crises financeiras são tão cristalinas que nenhum dirigente político tem coragem para as executar. O défice orçamental e o endividamento público melhorariam significativamente se os salários reais baixassem, se despedisse metade dos funcionários, se reduzissem as prestações sociais, se aumentassem os impostos e se parasse o investimento público? Claro que sim. Bastaria elegermos um governo de economistas e logo veríamos realizada a fábula do coelho sábio.

A qualidade da escola pública vai melhorar após o recuo do Governo - falso. Eis-nos à beira de chegar ao que os sindicatos desejavam, ou seja, a re-sovietização do sistema. Carreiras planas, isentas de escalões profissionais, e um modelo light de avaliação, ou seja, uma espécie de auto-avaliação travestida. O ambiente nas escolas vai serenar, para desespero dos que cumpriram as regras? Talvez. A qualidade do ensino vai melhorar? Nem por sombras.

Os media não têm agenda própria - verdadeiro. Read my lips.


Luís Nazaré - Economista
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