As coisas e os números
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As coisas e os números
As causa reais do desemprego e a conversa neoliberal do costume
O anúncio de que a taxa de desemprego em Portugal subiu para 10,2%, em Outubro de 2009, reflecte o atraso no ciclo com que a UE está a seguir o padrão de retoma dos EUA. Não deverá faltar muito para a habitual ladaínha dos economistas de serviço: alegar a necessidade de flexibilizar o mercado de trabalho, argumentando que o desemprego só descerá quando se congelarem salários, Vítor Bento falará mesmo em descida de salários, e quando se flexibilizarem turnos e despedimentos. A conversa será deste teor: os custos unitários do trabalho são muito elevados em Portugal, a produtividade cresce menos que os salário e blá blá. Vai uma aposta? Estão contudo, totalmente errados. O gráfico acima, extraído do Relatório do Banco de Portugal de 2008 é prova cabal disso.
As barras a azul representam o salário real do sector privado, e as barra a cinzento uma medida da produtividade do trabalho. A linha a preto corresponde à diferença entre salários e produtividade. Como se torna evidente da leitura do gráfico, desde o final dos anos noventa até 2007, tem-se verificado continuamente uma situação em que o a produtividade está sempre acima do crescimento salarial quando este existiu (sector privado). O que significa uma duminuição progressiva dos custos unitários do trabalho em termos reais. Se atendermos, adicionalmente, aos pontos a castanho, representando a taxa de desemprego, verificamos que a sua evolução não tem um padrão aparente de relacionamento com os custos unitários do trabalho. Neste milénio, por exemplo, o desemprego subiu quase continuamente e, com uma ligeira excepção, os salários cresceram sempre abaixo da produtividade!
A competitividade é de facto fundamental, mas só os economistas-problema podem achar que a dificuldade está nos salários. O verdadeiro factor aqui subjacente é a incapacidade de modernização produtiva do nosso tecido empresarial, que obviamente não pode competir, nas fileiras tradicionais com países de extremo oriente que praticam dumpringa social. Curiosamente também, há períodos no gráfico em que os salários cresceram acima da produtividade e o desemprego diminuiu. A chave da solução estrutural do desemprego em Portugal é o progresso tecnológico e a inovação, não a contenção salarial.
Poder-se-á dizer que o que releva é a comparação da evolução da produtividade e dos salários entre Portugal e a UE. É um péssimo argumento. Se a produtividade portuguesa é baixa, mais baixos são os salários quando comparados com a média da UE. Em 2005, por exemplo, a produtividade do trabalho em Portugal era 65,5% da média da UE25, enquanto os custos da mão de obra eram 49,6%. Em relação à Alemanha, a produtividadeportuguesa era 64,6%, enquanto o custo da mão de obra era 41,6%. Para o nível dos salários portugueses, a produtividade em Portugal é proporcionalmente superior à média comunitária (INE). Só o pensamento único de cariz neoliberal pode advogar que os custos do trabalho explicam o desemprego em portugal. Em termos estruturais, o que nos faz falta é modernização, modernização e modernização do tecido produtivo.`O Plano Tecnológico foi um avanço nesse sentido. A qualificação da mão-de-obra via reintrodução da formação profissional, também. Mas o problema estrutural só será debelado com uma adequada utilização do QREN.
A questão do investimento modernizador é crucial e explica porque serão sempre injustas, apesar de nos serem favoráveis, como se viu acima, comparações com a Alemanha. Em especial face a crises da procura mundial: a quebra do PIB Alemão é superior à que se registou em Portugal e das maiores da UE. Porque não subiu mais o desemprego? Porque o padrão de especialização da Alemanha assenta em indústrias de máquinas e equipamentos, que usam proporcionalmente menos mão-de-obra que as indústrias tradicionais em Portugal.
Em termos cíclicos, o que leva então a que o desemprego tenha aumentado em Outubro? O factor trabalho é mais facilmente ajustável que o capital, e os empresários reagem por expectativas. Essas expectativas são muitas vezes baseadas nas suas carteiras de encomendas, que não são necessariamente o melhor indicador das encomendas futuras, mas são o que de mais próximo têm. Com uma quebra da procura mundial como a que a crise do crédito gerou, o crescimento do PIB a partir do 2º trimestre de 2009, correspondendo (é uma identidade contabilística) a uma subida da depesa interna, foi primeiramente solucionado com a desacumulação dos stocks que não se tinham escoado no pico da crise. Ao aumento continuado da procura, os empresários respondem com um ajustamento do volume de trabalho: não em número de trabalhadores mas em horas e ritmo de trabalho. Grande parte do que sucedeu no Verão, em que a taxa de ocupação hoteleira Algarvia foi superior ao esperado, sem o habitual efeito sazonal de diminuição do desemprego, corrobora a tese de que o aumento da procura foi inesperado, não sendo já possível recorrer maciçamente à mão-de-obra sazonal. O resultado foi um aumento do esforço dos trabalhadores já existentes.
A natureza variável do factor trabalho levou a que no pico da crise houvesse uma onda maciça de destruição de postos de trabalho e despedimentos colectivos, e na fase seguinte, em que se responde ao acréscimo de procura com os stocks acumulados, não há necessidade de readmitir trabalhadores. Leva este efeito a que se observe em todo por toda a parte, um facto estilizado a todas as crises: a criação de emprego responde com desfasamento face ao crescimento do produto. Como tenho dito várias vezes, em Portugal, os dados do Relatório Anual doBP em 2008, estimam que a criação de emprego se gere apenas com um crescimento do PIB à volta de 1%. É esse o crescimento previsto por vários organismos internacionais para 2010 (estimativa pontuais de 0,8% ou 0,7%, traduzidas em intervalos de previsão que abrangem o crescimento de 1%).
Estamos apenas ainda com informação referente a dois trimestres consecutivos de crescimento positivo, o que, se confirma a retoma, não é ainda suficiente para uma dinâmica em que os empresários reconheçem dever começar a contratar maciçamente. O efeito sobre a procura de trabalho necessita de um estímulo de encomendas mais capaz.
Conjugando estes factos com a crise na construção de que ainda ontem se dava conta, percebe-se que fundamental para criar emprego é dinamizar activamente o programa de obras públicas, fortemente mão-de-obra intensivo. Só na fase de construção, estima-se que, o TGV, por exemplo, gere um acréscimo de emprego de 100.000 postos de trabalho. Se o emprego privado só reage quando os estímulos da procura forem suficientes, há que alimentar o combate ao desemprego pela via do investimento público. Os tais estágios profissionais que aqui são minorados, são uma peça dessa lógica de combate cíclica à crise. É falso que as obras públicas só ajudem as grandes empresas: nenhuma grande construtora deixa de ter um sem número de competências e áreas subcontratadas a PME. Nesse sentido, o investimento público é disseminado pela rede de PME, permitindo criar emprego, tanto aí como nas grandes construtoras.
Uma nota final: o verdadeiro défice em Portugal é social. O que significa que mais que a preocupação do défice, o Governo tem mantido a prioridade nos esquemas de apoio social aos desempregados. Subsídio de desemprego, subsídio social de desemprego, taxa de substituição dos subsídio face ao último salário, rendimento social de inserção, etc., são medidas a manter. Pensar em cortar despesa por aqui é surreal e só cabe na mente de quem conduz sempre na faixa direita. A UE falha se não entender que o desemprego é um mal generalizado a combater. Merkel ainda admitia anteontem que o desemprego na Alemanha ia subir e o défice também. O PEC não pode ser prioritário neste contexto.
As medidas impostas pela oposição como o fim do pagamento especial por conta, aumentam a facilidade de tesouraria de uma empresa, mas não criam um posto de trabalho. Porque numa crise de procura, é preciso fomentar o consumo, o investimento público e promover as exportações. Isto gera encomendas. A tesouraria não vale de nada se a empresa não tiver encomendas.
(aparentemente, segundo o Nuno Branco, a direita está preocupada com o preço do ouro!)
publicado por Carlos Santos
O anúncio de que a taxa de desemprego em Portugal subiu para 10,2%, em Outubro de 2009, reflecte o atraso no ciclo com que a UE está a seguir o padrão de retoma dos EUA. Não deverá faltar muito para a habitual ladaínha dos economistas de serviço: alegar a necessidade de flexibilizar o mercado de trabalho, argumentando que o desemprego só descerá quando se congelarem salários, Vítor Bento falará mesmo em descida de salários, e quando se flexibilizarem turnos e despedimentos. A conversa será deste teor: os custos unitários do trabalho são muito elevados em Portugal, a produtividade cresce menos que os salário e blá blá. Vai uma aposta? Estão contudo, totalmente errados. O gráfico acima, extraído do Relatório do Banco de Portugal de 2008 é prova cabal disso.
As barras a azul representam o salário real do sector privado, e as barra a cinzento uma medida da produtividade do trabalho. A linha a preto corresponde à diferença entre salários e produtividade. Como se torna evidente da leitura do gráfico, desde o final dos anos noventa até 2007, tem-se verificado continuamente uma situação em que o a produtividade está sempre acima do crescimento salarial quando este existiu (sector privado). O que significa uma duminuição progressiva dos custos unitários do trabalho em termos reais. Se atendermos, adicionalmente, aos pontos a castanho, representando a taxa de desemprego, verificamos que a sua evolução não tem um padrão aparente de relacionamento com os custos unitários do trabalho. Neste milénio, por exemplo, o desemprego subiu quase continuamente e, com uma ligeira excepção, os salários cresceram sempre abaixo da produtividade!
A competitividade é de facto fundamental, mas só os economistas-problema podem achar que a dificuldade está nos salários. O verdadeiro factor aqui subjacente é a incapacidade de modernização produtiva do nosso tecido empresarial, que obviamente não pode competir, nas fileiras tradicionais com países de extremo oriente que praticam dumpringa social. Curiosamente também, há períodos no gráfico em que os salários cresceram acima da produtividade e o desemprego diminuiu. A chave da solução estrutural do desemprego em Portugal é o progresso tecnológico e a inovação, não a contenção salarial.
Poder-se-á dizer que o que releva é a comparação da evolução da produtividade e dos salários entre Portugal e a UE. É um péssimo argumento. Se a produtividade portuguesa é baixa, mais baixos são os salários quando comparados com a média da UE. Em 2005, por exemplo, a produtividade do trabalho em Portugal era 65,5% da média da UE25, enquanto os custos da mão de obra eram 49,6%. Em relação à Alemanha, a produtividadeportuguesa era 64,6%, enquanto o custo da mão de obra era 41,6%. Para o nível dos salários portugueses, a produtividade em Portugal é proporcionalmente superior à média comunitária (INE). Só o pensamento único de cariz neoliberal pode advogar que os custos do trabalho explicam o desemprego em portugal. Em termos estruturais, o que nos faz falta é modernização, modernização e modernização do tecido produtivo.`O Plano Tecnológico foi um avanço nesse sentido. A qualificação da mão-de-obra via reintrodução da formação profissional, também. Mas o problema estrutural só será debelado com uma adequada utilização do QREN.
A questão do investimento modernizador é crucial e explica porque serão sempre injustas, apesar de nos serem favoráveis, como se viu acima, comparações com a Alemanha. Em especial face a crises da procura mundial: a quebra do PIB Alemão é superior à que se registou em Portugal e das maiores da UE. Porque não subiu mais o desemprego? Porque o padrão de especialização da Alemanha assenta em indústrias de máquinas e equipamentos, que usam proporcionalmente menos mão-de-obra que as indústrias tradicionais em Portugal.
Em termos cíclicos, o que leva então a que o desemprego tenha aumentado em Outubro? O factor trabalho é mais facilmente ajustável que o capital, e os empresários reagem por expectativas. Essas expectativas são muitas vezes baseadas nas suas carteiras de encomendas, que não são necessariamente o melhor indicador das encomendas futuras, mas são o que de mais próximo têm. Com uma quebra da procura mundial como a que a crise do crédito gerou, o crescimento do PIB a partir do 2º trimestre de 2009, correspondendo (é uma identidade contabilística) a uma subida da depesa interna, foi primeiramente solucionado com a desacumulação dos stocks que não se tinham escoado no pico da crise. Ao aumento continuado da procura, os empresários respondem com um ajustamento do volume de trabalho: não em número de trabalhadores mas em horas e ritmo de trabalho. Grande parte do que sucedeu no Verão, em que a taxa de ocupação hoteleira Algarvia foi superior ao esperado, sem o habitual efeito sazonal de diminuição do desemprego, corrobora a tese de que o aumento da procura foi inesperado, não sendo já possível recorrer maciçamente à mão-de-obra sazonal. O resultado foi um aumento do esforço dos trabalhadores já existentes.
A natureza variável do factor trabalho levou a que no pico da crise houvesse uma onda maciça de destruição de postos de trabalho e despedimentos colectivos, e na fase seguinte, em que se responde ao acréscimo de procura com os stocks acumulados, não há necessidade de readmitir trabalhadores. Leva este efeito a que se observe em todo por toda a parte, um facto estilizado a todas as crises: a criação de emprego responde com desfasamento face ao crescimento do produto. Como tenho dito várias vezes, em Portugal, os dados do Relatório Anual doBP em 2008, estimam que a criação de emprego se gere apenas com um crescimento do PIB à volta de 1%. É esse o crescimento previsto por vários organismos internacionais para 2010 (estimativa pontuais de 0,8% ou 0,7%, traduzidas em intervalos de previsão que abrangem o crescimento de 1%).
Estamos apenas ainda com informação referente a dois trimestres consecutivos de crescimento positivo, o que, se confirma a retoma, não é ainda suficiente para uma dinâmica em que os empresários reconheçem dever começar a contratar maciçamente. O efeito sobre a procura de trabalho necessita de um estímulo de encomendas mais capaz.
Conjugando estes factos com a crise na construção de que ainda ontem se dava conta, percebe-se que fundamental para criar emprego é dinamizar activamente o programa de obras públicas, fortemente mão-de-obra intensivo. Só na fase de construção, estima-se que, o TGV, por exemplo, gere um acréscimo de emprego de 100.000 postos de trabalho. Se o emprego privado só reage quando os estímulos da procura forem suficientes, há que alimentar o combate ao desemprego pela via do investimento público. Os tais estágios profissionais que aqui são minorados, são uma peça dessa lógica de combate cíclica à crise. É falso que as obras públicas só ajudem as grandes empresas: nenhuma grande construtora deixa de ter um sem número de competências e áreas subcontratadas a PME. Nesse sentido, o investimento público é disseminado pela rede de PME, permitindo criar emprego, tanto aí como nas grandes construtoras.
Uma nota final: o verdadeiro défice em Portugal é social. O que significa que mais que a preocupação do défice, o Governo tem mantido a prioridade nos esquemas de apoio social aos desempregados. Subsídio de desemprego, subsídio social de desemprego, taxa de substituição dos subsídio face ao último salário, rendimento social de inserção, etc., são medidas a manter. Pensar em cortar despesa por aqui é surreal e só cabe na mente de quem conduz sempre na faixa direita. A UE falha se não entender que o desemprego é um mal generalizado a combater. Merkel ainda admitia anteontem que o desemprego na Alemanha ia subir e o défice também. O PEC não pode ser prioritário neste contexto.
As medidas impostas pela oposição como o fim do pagamento especial por conta, aumentam a facilidade de tesouraria de uma empresa, mas não criam um posto de trabalho. Porque numa crise de procura, é preciso fomentar o consumo, o investimento público e promover as exportações. Isto gera encomendas. A tesouraria não vale de nada se a empresa não tiver encomendas.
(aparentemente, segundo o Nuno Branco, a direita está preocupada com o preço do ouro!)
publicado por Carlos Santos
Viriato- Pontos : 16657
Re: As coisas e os números
Conjugando estes factos com a crise na construção de que ainda ontem se dava conta, percebe-se que fundamental para criar emprego é dinamizar activamente o programa de obras públicas, fortemente mão-de-obra intensivo. Só na fase de construção, estima-se que, o TGV, por exemplo, gere um acréscimo de emprego de 100.000 postos de trabalho. Se o emprego privado só reage quando os estímulos da procura forem suficientes, há que alimentar o combate ao desemprego pela via do investimento público. Os tais estágios profissionais que aqui são minorados, são uma peça dessa lógica de combate cíclica à crise. É falso que as obras públicas só ajudem as grandes empresas: nenhuma grande construtora deixa de ter um sem número de competências e áreas subcontratadas a PME. Nesse sentido, o investimento público é disseminado pela rede de PME, permitindo criar emprego, tanto aí como nas grandes construtoras.
Uma nota final: o verdadeiro défice em Portugal é social. O que significa que mais que a preocupação do défice, o Governo tem mantido a prioridade nos esquemas de apoio social aos desempregados. Subsídio de desemprego, subsídio social de desemprego, taxa de substituição dos subsídio face ao último salário, rendimento social de inserção, etc., são medidas a manter. Pensar em cortar despesa por aqui é surreal e só cabe na mente de quem conduz sempre na faixa direita. A UE falha se não entender que o desemprego é um mal generalizado a combater. Merkel ainda admitia anteontem que o desemprego na Alemanha ia subir e o défice também. O PEC não pode ser prioritário neste contexto.
As medidas impostas pela oposição como o fim do pagamento especial por conta, aumentam a facilidade de tesouraria de uma empresa, mas não criam um posto de trabalho. Porque numa crise de procura, é preciso fomentar o consumo, o investimento público e promover as exportações. Isto gera encomendas. A tesouraria não vale de nada se a empresa não tiver encomendas.
(aparentemente, segundo o Nuno Branco, a direita está preocupada com o preço do ouro!)
Ui, ui!
Que grande e bem dada bofetada, nos arautos da desgraça!
Por acaso, as TVs não querem convidar este senhor, a dizer de sua justiça?
Era o mínimo que poderiam fazer, para emendarem muitos erros de apreciação, que consentem nas suas estações!
_________________
Amigos?Longe! Inimigos? O mais perto possível!
Joao Ruiz- Pontos : 32035
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