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A Europa e a crise

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Mensagem por Viriato Ter Fev 09, 2010 4:02 am

A Europa e a crise

por MÁRIO SOARES

1 Tenho, nesta coluna, várias vezes chamado a atenção para o futuro da Europa. É uma questão de que os nossos jornais falam pouco - obcecados como estão com as dificuldades e guerrilhas internas - mas que nos toca particularmente. Felizmente, não dependemos hoje exclusivamente da União Europeia. Digo-o e sou, como sabem, um europeísta convicto, embora muito apreensivo quanto ao seu futuro.

Pertencemos à CPLP e à Ibero- -América e temos uma posição destacada e verdadeiramente estratégica no Atlântico, que não devemos subestimar. Não o esqueçamos nunca. Temos, claro, relações especiais com Espanha, como país ibérico que somos, e estamos integrados na União Europeia, há quase 25 anos. Pertencemos ao espaço Schengen e à moeda única - o euro - o que tem condicionado favoravelmente a nossa economia e não só. Por isso, é tão importante que acompanhemos, com muita atenção, o que se passa na União Europeia, como evolui e como está a relacionar-se com o resto do mundo.

Nesse contexto, devemos ter consciência de que a hegemonia ocidental (Estados Unidos-Europa) acabou. O mundo tornou-se multilateral, com destaque para os países emergentes e para os que se esforçam, igualmente, por ser emergentes.

Por outro lado, há hoje um esboço de eixo Estados Unidos-China, que se vem afirmando, apesar das grandes divergências existentes. A frustrada Conferência de Copenhaga, de Dezembro passado, foi um sinal fortíssimo dessa mudança. Os Estados Unidos ignoraram, ostensivamente, a União Europeia e entenderam-se com a China, aliás, negativamente, dadas as más consequências que daí resultaram para a defesa do ambiente.

A verdade é que a União Europeia - ou melhor: os seus dirigentes - nunca quis perceber o fenómeno Obama nem, muito menos, tudo o que ele trouxe de inovador para o mundo. Estão a ter agora a resposta. Da mesma maneira que não viram vir a crise global de 2007-2008 nem depois, aproveitaram a "grande oportunidade" que se lhes oferecia para mudar o sistema neoliberal que nos conduziu à crise. Quiseram, pura e simplesmente, que tudo ficasse na mesma. Não mexeram nos paraísos fiscais - que estão na origem dos grandes negócios escandalosos e das diversas roubalheiras a que deram lugar - não se atreveram a punir os responsáveis, salvaram alguns bancos e grandes empresas da falência, com o dinheiro dos contribuintes, deixando crescer o desemprego, as desigualdades e a pobreza...

Sendo assim, podemos, legitimamente, perguntar-nos: estamos a superar a crise global, saindo da recessão, como alguns economistas dizem? Ou, pelo contrário, continuamos em crise, aprofundando--a, acompanhada de inevitáveis conflitos e revoltas sociais? A segunda pergunta é desagradável, mas não parece destituída de senso, infelizmente.

Pensávamos que, com a ratificação do Tratado de Lisboa, a União Europeia podia dar um passo em frente institucional. Mas isso não aconteceu, no plano prático. O novo presidente europeu, Herman van Rompuy, e a baronesa Catherine Ashton, alta-representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, ainda não deram sinal de si, como aliás se pensava e talvez desejassem os dirigentes dos grandes países que os nomearam.

Perante a crise, os Estados da União reagiram em ordem dispersa, numa espécie de salve-se quem puder. E agora, dado o ataque que está a ser feito ao euro e o nervosismo que afecta, nos últimos dias, as bolsas europeias, talvez, finalmente, compreendam que é necessário um plano estratégico conjunto - ou, pelo menos, convergente - para que a situação europeia não entre em decadência irremediável.

É certo que na quinta-feira da semana passada houve, em Paris, um encontro franco-alemão dos governos (que pareciam desavindos) para coordenar algumas políticas comuns. Foi um passo que marcou o reforço do chamado motor franco-alemão. Mas, segundo o que declarou o Presidente Sarkozy, tratou--se de lançar, bilateralmente, 80 medidas concretas a tomar pelos dois Estados para se reaproximarem. Atenção, ignorando a União a que ambos pertencem. O contrário do sonho europeu dos Pais Fundadores. Vamos, os europeístas convictos, deixar a União deteriorar-se, como parecem querer alguns dos actuais dirigentes europeus?

Não perceberão os líderes da França e da Alemanha que sem uma União Europeia forte e coesa representarão muito pouco no novo mundo em construção?

Ao contrário dos Estados Unidos de Barack Obama, apesar das dificuldades que enfrenta e que não são pequenas - como prova o movimento do Tea Party, uma fronda política perigosa contra Washington -, na União Europeia cresce o desemprego, o mal--estar social e as angústias das bolsas europeias (Paris, Frankfurt, Londres), em queda. Em contraste com os Estados Unidos, onde a bolsa de Nova Iorque não sofreu um estremeção comparável. E o euro também desceu em relação ao dólar...

Não são sinais agradáveis. E menos ainda que de Bruxelas venham críticas públicas contra a Grécia, primeiro, e agora contra os países da Europa do Sul, especialmente Espanha e Portugal. Não nos ajudam nada. Como se os países da Europa do Leste (à excepção da Polónia), do Báltico ou outros, como a Irlanda, tenham estado ou estejam imunes aos efeitos da crise global.

Em conclusão, se a União Europeia, como um todo, insiste em não ter uma resposta conjunta e solidária à crise global - que seja compreendida e partilhada pelo povo europeu, na sua diversidade, incluindo a população imigrante - os anos que aí vêm, nesta segunda década do século XXI, vão ser muito difíceis. Abrirão caminho para a decadência. Com as nossas liberdades e conquistas sociais, seguramente, então sim, ameaçadas...

É por isso que penso que Portugal deve ter uma política europeia própria e coerente. Que se dê a conhecer e faça ouvir nas instâncias europeias - e não só no Parlamento Europeu, onde temos deputados de diferentes partidos -, mas também que participe no grande debate que hoje se esboça entre as diferentes famílias políticas e a opinião pública europeia, no seu conjunto. Política portuguesa europeia que deve ser convergente com a de Espanha, como tenho dito, tanto mais que neste semestre ocupa a Presidência da Europa.

2 E Portugal? É incontestável que vai mal, quer no plano económico e social quer político. A fazer fé nos meios de comunicação social, diríamos mesmo que vai péssimo. Mas, em comparação objectiva - e isenta - com o que se passa na Europa e no resto do mundo, não podemos deixar de considerar que não estaremos tão mal assim. Direi mesmo mais: exceptuados os desempregados, as manchas de pobreza que subsistem e as gritantes desigualdades, que nos envergonham, talvez nos possamos considerar mesmo favorecidos. Pertencemos ao mundo desenvolvido. Quem quer que nos visite e conheça as nossas cidades e mesmo o interior, pelo movimento e aspecto exterior que apresentam, talvez não ande longe dessa conclusão...

É certo que, excluídos 20% da população portuguesa que é pobre e não tem emprego - o que é socialmente muito pesado e grave - os restantes 80% vivem, na sua esmagadora maioria, acima das suas possibilidades. Os elementos de informação de que dispomos - o deficit, o endividamento das famílias, a dívida pública e privada assim o dizem. E isso paga-se, mais tarde ou mais cedo. É verdade. Mas nem por isso temos uma situação como a da Grécia, ou mesmo a da nossa vizinha Espanha. Paul Krugman assim o escreveu. A nossa é melhor ou menos má. O que não nos deve inibir de ter muito cuidado com os investimentos a fazer e de reduzir, quanto pudermos, o nosso endividamento.

É por isso que se compreende mal a aliança objectiva dos partidos da oposição - mais ainda os da esquerda do que os da direita - contra o Governo, por se recusar a alimentar o despesismo tradicional da Madeira. É inaceitável a atitude da esquerda radical. A opinião pública portuguesa não pode compreender uma tal posição a não ser recorrendo à teoria perigosíssima do "quanto pior, melhor". Parece que tudo lhes serve para fazer cair o Governo, posição tanto mais irresponsável quanto não se dispõem a oferecer ao País qualquer alternativa. Ora fazer cair Portugal numa situação de ingovernabilidade, pura e simples, seria o pior que nos poderia acontecer, no momento de crise que atravessamos. Os repetidos apelos do Presidente da República a um consenso ou mesmo a acordos pontuais - invocando a situação difícil do País - não servirão de nada? Quer-se o caos pelo caos...?

3A comunicação social. Não confundo as empresas de comunicação social com os jornalistas. Nunca o fiz. Estes têm a sua deontologia profissional e regras por que se regem, que respeito. Sempre respeitei a liberdade de imprensa e me bati por ela, quando muitos ficaram calados, porque nesses tempos se corriam riscos graves quando se protestava. As empresas, hoje concentradas em poucos grupos económicos, têm interesses a defender. É óbvio.

Vem isto a propósito das acerbas críticas que têm vindo a surgir, na comunicação social, nos últimos dias, acusando o Governo de querer "asfixiar", em seu proveito, a liberdade de imprensa e os jornalistas. Não sou advogado de defesa do Governo, embora seja socialista. Mas isso não me impede, na altura da vida a que cheguei, de ser isento. Mormente em matéria tão delicada como esta - e que tanto prezo - a liberdade de imprensa.

Basta ler os jornais, ouvir as rádios e ver e ouvir as televisões. O Governo - e em particular o primeiro-ministro - é todos os dias, a todas as horas, atacado, injuriado e ofendido na imprensa escrita e falada. Nunca se foi tão longe nos ataques. E nada se passa. Não há liberdade de imprensa? Será que pensam que o povo português não tem inteligência ou se deixa enganar? Ou que já se esqueceu do que foi a censura e a repressão do antigamente?
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Mensagem por Joao Ruiz Ter Fev 09, 2010 4:39 am

Vem isto a propósito das acerbas críticas que têm vindo a surgir, na comunicação social, nos últimos dias, acusando o Governo de querer "asfixiar", em seu proveito, a liberdade de imprensa e os jornalistas. Não sou advogado de defesa do Governo, embora seja socialista. Mas isso não me impede, na altura da vida a que cheguei, de ser isento. Mormente em matéria tão delicada como esta - e que tanto prezo - a liberdade de imprensa.

Basta ler os jornais, ouvir as rádios e ver e ouvir as televisões. O Governo - e em particular o primeiro-ministro - é todos os dias, a todas as horas, atacado, injuriado e ofendido na imprensa escrita e falada. Nunca se foi tão longe nos ataques. E nada se passa. Não há liberdade de imprensa? Será que pensam que o povo português não tem inteligência ou se deixa enganar? Ou que já se esqueceu do que foi a censura e a repressão do antigamente?

É realmente inexplicável falar-se de asfixia democrática, quando todos os meios da CS, diariamente, nos enchem os olhos e a casa de ataques aos "asfixiadores" - o Governo e o PM.

Poeira para os olhos dos portugueses, enquanto o principal defensor da "existência" dessa asfixia (PSD) se não reorganiza e deixa de ser o saco de gatos em que se transformou, sem outro ideal que não seja o encosto à coscuvilhice e consequente jnornalismo de soalheiro... Twisted Evil

affraid affraid affraid

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