Pela liberdade?

Pela liberdade?

Publicada por Tiago Barbosa Ribeiro

Não questiono, de forma alguma, a legitimidade política e cívica de quem convoca ou participa numa manifestação. Sobretudo quando se invocam razões de pluralidade democrática que seria o primeiro a subscrever, caso alguma vez estivessem em causa.

Mas o manifesto dos bloggers e «cidadãos» que está a circular por aí está longe de resumir a pretensa espontaneidade da iniciativa, por mais que alguns dos seus signatários o tenham feito sem agenda própria.

Podemos começar logo por discutir, não sem perplexidade, quais as razões que fazem os signatários afirmar que existe uma ameaça à liberdade de imprensa em Portugal quando diariamente o Governo é criticado pelos seus opositores em todas as frentes, do Parlamento à comunicação social, sem qualquer tipo de condicionamento.

Mas particularmente importante para a análise da iniciativa será atentarmos nos objectivos do protesto. No contexto de uma luta interna no PSD que provavelmente determinará a derrota da linha da actual direcção, os autores do manifesto exigem uma deriva presidencialista que faria Cavaco Silva tutelar qualquer líder do PSD; e, pior, o país.

Poucos meses após nova vitória eleitoral do PS, os autores do protesto pretendem derrubar um Governo na rua, contando com a promoção de uma vaga de fundo que legitime na opinião pública uma acção radical de Cavaco Silva a partir desta iniciativa. O texto que promove o protesto é claro nesse propósito.

Podem chamar a isto muitas coisas, mas não uma manifestação «pela liberdade».