Lula visita judeus e árabes numa viagem muito polémica

Lula visita judeus e árabes numa viagem muito polémica


por SÉRGIO BARRETO MOTTA,Hoje


Líder brasileiro quer recolher cada vez mais apoios para um lugar do seu país no Conselho de Segurança da ONU.

O Presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, desembarca amanhã no Médio Oriente para conversas com judeus e árabes. A visita faz parte da política desenvolvida por Lula, desde 2003, de projectar o Brasil internacionalmente como líder da América do Sul.

O Brasil de Lula também quer um lugar definitivo no Conselho de Segurança das Nações Unidas e gaba-se de manter uma posição de "amizade neutral" em relação a Washington.

No entanto, Lula da Silva encontrará um Israel agitado, devido às críticas norte-americanas à polémica decisão do Estado judeu de expandir a colonização de territórios ocupados. O próprio Lula tem vindo a contrariar os Estados Unidos e os países europeus, ao dar algum apoio às autoridades do Irão.

Lula também tem sido criticado por, numa recente visita a Cuba, ter permanecido em silêncio em relação à morte de Orlando Zapata, um preso político em greve de fome, e, mais ainda, por ter comparado posteriormente os presos políticos cubanos a bandidos comuns de São Paulo (ver caixa).

Apesar destas polémicas, Lula é o Presidente brasileiro com maior prestígio externo. Nesta digressão pelo Médio Oriente, ele será recebido com a máxima consideração por judeus e árabes. Os judeus, embora preocupados com uma visão de Lula relativamente simpática em relação ao Irão, parecem querer cativar o líder brasileiro, para não ampliar o número já considerável dos seus inimigos.

O porta-voz de Lula, Marcelo Baumbach, assim expressou a posição do Presidente brasileiro sobre o Médio Oriente: "O Brasil defenderá o direito de Israel à paz e segurança, mas condenará a expansão dos assentamentos e cobrará o alívio da situação humanitária dos palestinos na Faixa de Gaza."

A imprensa brasileira destaca que, embora muitos empresários acompanhem Lula nesta viagem, não é possível negar que o carácter principal da visita é político e não económico. Segundo Baumbach, "Lula quer sinalizar o interesse brasileiro de participar do processo de paz" no Médio Oriente, uma das zonas mais conturbadas do globo.

O jornal israelita Haaretz qualificou Lula como "profeta do diálogo". No entanto, o jornal destaca que Lula foi um dos primeiros líderes mundiais a receber o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, após as contestadas eleições de Junho de 2009 e um dos cinco países que se abstiveram numa votação na Agência Internacional de Energia Atómica que condenou o Irão. O diário mostra dúvidas sobre se Lula irá ganhar a confiança dos israelitas ao manter relações cordiais com Ahmadinejad, conhecido por negar o Holocausto.

Em Israel, Lula participará em cerimónias simbólicas: visita o Museu do Holocausto e o túmulo de Teodoro Herzel, fundador do movimento sionista, e terá um encontro com o escritor Amos Oz. Entretanto, cerca de 70 empresários que integram a sua comitiva procurarão negócios. Na Jordânia, há possibilidades de construtoras brasileiras participarem em projectos imobiliários. Nunca antes um Presidente brasileiro esteve em Israel. Era um brasileiro, Oswaldo Aranha, quem presidia à Assembleia Geral da ONU, em 1948, quando o Estado judeu foi criado.

In DN

Lula, um homem de visão para o futuro.
E até fala português.