‘Não sei, não conheço, não recebi’

‘Não sei, não conheço, não recebi’
Por Graça Rosendo
A maioria dos políticos e gestores públicos que constam das listas de prendas de Natal do empresário de Aveiro – apreendidas pela Judiciária no âmbito da investigação do caso Face Oculta – diz que desconhece os presentes enviados pelo sucateiro. E declara que só o conheceu com a divulgação deste processo



Contactado pelo SOL, o gabinete de José Sócrates respondeu: «O primeiro-ministro não conhece o senhor Manuel Godinho e não recebeu pessoalmente qualquer presente de Natal seu, ou de qualquer das suas empresas».

E acrescentou: «Não existe no gabinete do primeiro-ministro, nem no gabinete do secretário-geral do PS, qualquer registo de ofertas de Natal com essa proveniência».

Jorge Coelho, presidente executivo da Mota-Engil, declarou também que «nunca tinha ouvido falar desse senhor» até às primeiras notícias do Face Oculta.

«Não sei se recebi ou não algum presente dele. Recebo inúmeras prendas, todos os Natais. E canetas Montblanc já devo ter recebido umas 200!» – adiantou ainda, depois de questionar que presente Godinho lhe destinou, segundo a documentação descoberta nos escritórios do empresário de Ovar.

Também Ana Paula Vitorino – a ex-secretária de Estado dos Transportes que Manuel Godinho queria ver afastado do cargo –, foi peremptória: «Não recebi absolutamente caneta nenhuma. Tenho duas ou três Montblanc há muitos anos, mas nenhuma foi oferecida pelo senhor Godinho. Sei quem me ofereceu essas canetas (nos anos 90) e não foi o senhor Godinho. Aliás, nunca recebi nada desse senhor nem de qualquer empresa por ele gerida».

No mesmo sentido foram as respostas de António Mexia, presidente da EDP. Segundo informou o porta-voz da empresa, Mexia «não conhece nem nunca viu Manuel Godinho».

O SOL tentou, sem sucesso, falar com Armando França, ex-autarca de Ovar e ex-eurodeputado socialista.

Penedos tinha dois presentes em casa

Durante os interrogatórios aos arguidos deste processo, em Novembro passado, o Ministério Público confrontou-os com as listas de prendas de Natal de Godinho onde os seus nomes constavam.

Fernando Lopes Barreira, o empresário que dirige a Consulgal, não quis prestar declarações, enquanto Armando Vara, ex-vice-presidente do BCP, disse «nunca» ter recebido qualquer presente de Manuel Godinho, nomeadamente os que estão registados nos documentos apreendidos ao empresário de Aveiro (uma caneta, um decantador e um relógio).

O ex-presidente da REN, José Penedos, foi o único que admitiu ter recebido dois dos presentes ali indicados – apesar de não os ter identificado logo com o empresário.

No interrogatório, no DIAP de Aveiro, Penedos começou por dizer que «nunca abre presentes» e que «todos os que lhe entregam são abertos ou na REN ou em casa, pela sua mulher», pelo que «não sabe sequer quem lhos oferece».

Mas, depois de o magistrado do MP ter especificado quais as prendas que Godinho lhe tinha destinado, Penedos reconheceu «que o cantil e o centro de mesa em cristal foram oferecidos pela empresa O2». Isto «depois de ter sido elucidado pela sua mulher».

O ex-presidente da REN alegou, já no final do interrogatório, não ver «nenhuma ligação entre estes presentes e qualquer suposto acto de favorecimento» das empresa de Godinho, classificando a situação – receber presentes de Natal enquanto presidente de uma empresa – como o resultado de «uma prática social, velha de décadas, para não dizer de séculos, genericamente aceite, praticada e consentida».

graca.rosendo@sol.pt

sim sim
tres palhinhas do cartaxo
seque-os todos

De A a Z.

Tudo isso sem dizer, que há sempre uma pseudo-prova, plantada no escritório ou casa de alguém, que espera pele polícia. Tal como a famosa carta anónima, descoberta pela PJ, no caso Freeport.