Crime e pecado...BY MIGUEL pORTAS
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Crime e pecado...BY MIGUEL pORTAS
Crime e pecado
01 April 10 10:00 AM
Advertência introdutória: nunca interpretei a separação entre Estado e religião como uma restrição ao direito de esta intervir no espaço público. Não acho que a fé seja uma exclusiva questão do domínio privado, nem julgo que uma congregação se deva demitir de defender em público aquilo que pensa sobre a vida em sociedade. A este respeito, contento-me com duas regras: nenhuma deve ter o poder de instrumentalizar o Estado para impor as suas ideias a crentes e não crentes; e nenhuma hierarquia se deve encontrar acima da Justiça dos homens. Vem isto a propósito da difícil situação em que se encontra o Vaticano devido ao progressivo conhecimento de casos de pedofilia entre os seus sacerdotes.
Se fosse crente, diria que Deus os deve ter querido pôr à prova. O Vaticano olha-se e quer ser olhado, acima de tudo, como referência moral num tempo de dissolução dos sistemas de valores. Mas se assim é, como se compaginam tais propósitos de observância de normas e regras morais estritas, com o silêncio, a diminuição e o encobrimento das suas próprias nódoas?
O Vaticano pode defender a indissolubilidade do casamento, a submissão da sexualidade à reprodução, declarar guerra ao preservativo e à homossexualidade e até classificar o aborto de pecado mortal. Isso é «lá com ele». O que não pode é defender tudo isto e o mais que entender e, ao mesmo tempo, esconder a pedofilia nas suas entranhas.
Pode dizer-se que este é um problema da Igreja, no qual os outros crentes e os não crentes não se devem meter. Discordo. Assim como o Papa procura impor os seus critérios morais a quem não é crente ou professa outras crenças, também estes têm o direito de, no espaço público, se dirigir aos católicos quando a razão abandona os seus hierarcas. Com toda a franqueza, nas sociedades democráticas é assim que deve ser.
Há, contudo, outra razão para este procedimento: a pedofilia não é apenas um pecado, um assunto privado que se dirime entre o Altíssimo e o prevaricador. Cá por baixo, a pedofilia é crime público e o encobrimento obedece a moldura penal específica. A Justiça da Igreja não substitui a dos Homens. É também por isto que o dossiê em causa não é um assunto ‘lá deles’, ou algo que envolva apenas quem ‘pecou’. O Vaticano e os bispos sonegaram, durante anos, informação às autoridades judiciais de vários países e por tal facto devem responder, independentemente das contrições que prestem aos céus.
O cardeal José Saraiva Martins pede-nos para não ficarmos «demasiado escandalizados se alguns bispos sabiam e mantiveram o segredo», pois ninguém gosta de «lavar a roupa suja em público». Esta posição lamentável é intencional: absolve, com argumentos de senso comum, a prioridade que o Vaticano deu à protecção da sua imagem sobre os direitos das vitimas. O pecado dos poderosos é mesmo este: julgam-se, sempre, ao abrigo das leis comuns.
01 April 10 10:00 AM
Advertência introdutória: nunca interpretei a separação entre Estado e religião como uma restrição ao direito de esta intervir no espaço público. Não acho que a fé seja uma exclusiva questão do domínio privado, nem julgo que uma congregação se deva demitir de defender em público aquilo que pensa sobre a vida em sociedade. A este respeito, contento-me com duas regras: nenhuma deve ter o poder de instrumentalizar o Estado para impor as suas ideias a crentes e não crentes; e nenhuma hierarquia se deve encontrar acima da Justiça dos homens. Vem isto a propósito da difícil situação em que se encontra o Vaticano devido ao progressivo conhecimento de casos de pedofilia entre os seus sacerdotes.
Se fosse crente, diria que Deus os deve ter querido pôr à prova. O Vaticano olha-se e quer ser olhado, acima de tudo, como referência moral num tempo de dissolução dos sistemas de valores. Mas se assim é, como se compaginam tais propósitos de observância de normas e regras morais estritas, com o silêncio, a diminuição e o encobrimento das suas próprias nódoas?
O Vaticano pode defender a indissolubilidade do casamento, a submissão da sexualidade à reprodução, declarar guerra ao preservativo e à homossexualidade e até classificar o aborto de pecado mortal. Isso é «lá com ele». O que não pode é defender tudo isto e o mais que entender e, ao mesmo tempo, esconder a pedofilia nas suas entranhas.
Pode dizer-se que este é um problema da Igreja, no qual os outros crentes e os não crentes não se devem meter. Discordo. Assim como o Papa procura impor os seus critérios morais a quem não é crente ou professa outras crenças, também estes têm o direito de, no espaço público, se dirigir aos católicos quando a razão abandona os seus hierarcas. Com toda a franqueza, nas sociedades democráticas é assim que deve ser.
Há, contudo, outra razão para este procedimento: a pedofilia não é apenas um pecado, um assunto privado que se dirime entre o Altíssimo e o prevaricador. Cá por baixo, a pedofilia é crime público e o encobrimento obedece a moldura penal específica. A Justiça da Igreja não substitui a dos Homens. É também por isto que o dossiê em causa não é um assunto ‘lá deles’, ou algo que envolva apenas quem ‘pecou’. O Vaticano e os bispos sonegaram, durante anos, informação às autoridades judiciais de vários países e por tal facto devem responder, independentemente das contrições que prestem aos céus.
O cardeal José Saraiva Martins pede-nos para não ficarmos «demasiado escandalizados se alguns bispos sabiam e mantiveram o segredo», pois ninguém gosta de «lavar a roupa suja em público». Esta posição lamentável é intencional: absolve, com argumentos de senso comum, a prioridade que o Vaticano deu à protecção da sua imagem sobre os direitos das vitimas. O pecado dos poderosos é mesmo este: julgam-se, sempre, ao abrigo das leis comuns.
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