A saída da crise
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A saída da crise
A saída da crise
23/04/10 00:02 | Daniel Amaral
Artigos do mesmo autor
Voltemos ao tema da dívida, que ameaça estoirar connosco.
Com o investimento e o consumo na fossa, e um PEC de resignação, várias
vozes se têm erguido a defender que a saída da crise passa pelo
comércio externo.
Eu pertenço a esse grupo, se bem que desespere quando olho para
os obstáculos que se encontram no caminho. De qualquer modo, é uma tese a
explorar. Ponhamos a pergunta óbvia: que fazer?
Se tivéssemos moeda própria, presumo que o FMI já estaria entre nós,
abrindo alas à desvalorização. Através dela conseguiríamos dois efeitos
de sinal contrário, ambos favoráveis às contas externas: os preços das
importações subiam e comprávamos menos; os preços das exportações
baixavam e vendíamos mais. Claro que, em simultâneo, a inflação também
subia, os salários também baixavam e lá teríamos o nível de vida na rota
do afundamento. Mas o principal objectivo seria atingido.
Sucede que não temos moeda própria, o que inviabiliza uma tal
solução. Mas, se a via escolhida passava pelo encarecimento das
importações e o embaratecimento das exportações, será que não poderíamos
fazer o mesmo sem mexer na paridade da moeda? Não poderíamos, por
exemplo, aplicar uma taxa aos produtos importados e, através dessa
receita, subsidiar as exportações? Claro que a resposta é não. O
‘dumping' não é permitido.
Olhemos então para as empresas. A tentação é baixar os custos, com os
salários à frente. Mas há dois obstáculos: primeiro, os salários nas
exportações pesam menos do que no PIB nacional, devido às importações
incorporadas; depois, a redução dos salários e este ambiente crispado
levariam à paralisação do país. A alternativa está em ganhos de
eficiência noutras áreas, com mais investimento e melhor organização.
Que dizem a isto os exportadores portugueses?
Se as soluções internas falharem, resta-nos esperar pela procura
externa, que já não depende de nós. E também aqui o quadro é sombrio: a
Europa do euro, para onde exportamos uns três quartos do total, continua
em crise profunda; e as economias pujantes estão em zonas onde
praticamente não chegamos - a China, a Índia, a Malásia, o Brasil, o
México... O que nos deixa atados de pés e mãos: afinal, exportamos o quê
e para onde?
Eis o drama: não sei.
COMÉRCIO EXTERNO
Fonte: Banco de Portugal
Com a crise de 2008-09, o comércio externo caíu a pique, mais ainda
as exportações do que as importações. Daí que a recente recuperação se
assemelhe a uma gota de água no oceano. Já o défice comercial, que
atingiu o seu ponto mais alto em 2009, não dá sinais de grandes
melhorias, pelo menos até 2011. Ou travamos este processo ou o processo
nos trava a nós...
____
Daniel Amaral, Economista
d.amaral@netcabo.pt
23/04/10 00:02 | Daniel Amaral
Artigos do mesmo autor
Voltemos ao tema da dívida, que ameaça estoirar connosco.
Com o investimento e o consumo na fossa, e um PEC de resignação, várias
vozes se têm erguido a defender que a saída da crise passa pelo
comércio externo.
Eu pertenço a esse grupo, se bem que desespere quando olho para
os obstáculos que se encontram no caminho. De qualquer modo, é uma tese a
explorar. Ponhamos a pergunta óbvia: que fazer?
Se tivéssemos moeda própria, presumo que o FMI já estaria entre nós,
abrindo alas à desvalorização. Através dela conseguiríamos dois efeitos
de sinal contrário, ambos favoráveis às contas externas: os preços das
importações subiam e comprávamos menos; os preços das exportações
baixavam e vendíamos mais. Claro que, em simultâneo, a inflação também
subia, os salários também baixavam e lá teríamos o nível de vida na rota
do afundamento. Mas o principal objectivo seria atingido.
Sucede que não temos moeda própria, o que inviabiliza uma tal
solução. Mas, se a via escolhida passava pelo encarecimento das
importações e o embaratecimento das exportações, será que não poderíamos
fazer o mesmo sem mexer na paridade da moeda? Não poderíamos, por
exemplo, aplicar uma taxa aos produtos importados e, através dessa
receita, subsidiar as exportações? Claro que a resposta é não. O
‘dumping' não é permitido.
Olhemos então para as empresas. A tentação é baixar os custos, com os
salários à frente. Mas há dois obstáculos: primeiro, os salários nas
exportações pesam menos do que no PIB nacional, devido às importações
incorporadas; depois, a redução dos salários e este ambiente crispado
levariam à paralisação do país. A alternativa está em ganhos de
eficiência noutras áreas, com mais investimento e melhor organização.
Que dizem a isto os exportadores portugueses?
Se as soluções internas falharem, resta-nos esperar pela procura
externa, que já não depende de nós. E também aqui o quadro é sombrio: a
Europa do euro, para onde exportamos uns três quartos do total, continua
em crise profunda; e as economias pujantes estão em zonas onde
praticamente não chegamos - a China, a Índia, a Malásia, o Brasil, o
México... O que nos deixa atados de pés e mãos: afinal, exportamos o quê
e para onde?
Eis o drama: não sei.
COMÉRCIO EXTERNO
Do crescimento... (Variação real (%)) | Ao peso relativo (Peso no PIB (%)) |
Fonte: Banco de Portugal
Com a crise de 2008-09, o comércio externo caíu a pique, mais ainda
as exportações do que as importações. Daí que a recente recuperação se
assemelhe a uma gota de água no oceano. Já o défice comercial, que
atingiu o seu ponto mais alto em 2009, não dá sinais de grandes
melhorias, pelo menos até 2011. Ou travamos este processo ou o processo
nos trava a nós...
____
Daniel Amaral, Economista
d.amaral@netcabo.pt
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