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Inquérito ao vazio

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Mensagem por Viriato Dom Abr 25, 2010 10:26 am

Inquérito ao vazio

leonel.moura@mail.telepac.pt


Em boa verdade, este texto não interessa a quase ninguém. O tema é mesmo enfadonho. Refiro as Comissões de Inquérito da Assembleia da República, com destaque conjuntural para a que corre, ou melhor dito, se arrasta, por estes dias. A prová-lo estão as sondagens. O desinteresse é geral. E não admira. Os "remakes" raramente satisfazem. A história já foi contada e recontada "ad nauseam". Venderam-se jornais de títulos e foram proclamados todos os disparates possíveis. As estrelas fizeram as revelações habituais, posaram para as capas das revistas devassas e houve mesmo quem tenha mostrado a t-shirt com que dorme. Excetuando exibir as ceroulas que alguns dos protagonistas ainda usam, o que falta mais?

Quanto ao assunto em questão ainda há menos para dizer. Uma empresa tentou comprar outra. Acontece todos os dias. Não se vê relevância na matéria, a que mais apropriadamente se devia referir como antimatéria. Que coisa tão extraordinária é essa da PT querer comprar parte de uma empresa de media? Para quem tanto clama que o Estado deve ficar fora dos negócios, está tudo dito. Existem entidades para ver se tudo é feito segundo a lei. E bastam.

O único assunto com alguma relevância diz respeito a se saber se o primeiro-ministro mentiu ao Parlamento. Tudo o resto é paisagem. Mas isso já foi escrutinado e nada, mesmo nada, indica que tal tenha sucedido. Enfim, como diria o sempre apropriado William Shakespeare: "tanto barulho por nada".

Esta Comissão de Inquérito, não servindo em concreto para algo de realmente útil ou relevante, fica como mais um contributo para o descrédito total das desafortunadas Comissões. Criadas exclusivamente para a intriga política e nunca para qualquer apuramento sério da verdade ou de responsabilidades, sobre temas realmente importantes para o País, são hoje um mecanismo à mão para a falta de ideias que vai na cabeça desta gente que se senta no hemiciclo. Recorre-se às Comissões para indagar a vacuidade.

É claro que se compreende a excitação de alguns deputados, passageiros do tédio, quando a oportunidade política lhes permite a pequena aventura do romance policial. Se possível do negro e sórdido. Então, agitam-se na investigação, perscrutam afanosamente documentos e vírgulas, promovem interrogatórios nos quais não existe lugar para o polícia bom, só para os maus. Excedem-se nos apartes e nas piadas sem graça. Mas, mesmo assim, tudo não passa de um simulacro menor. O sangue é bastante, a prosápia também, mas o enredo é mesquinho e faltam as mulheres bonitas e o suspense. Nestas comissões tudo é aliás bastante previsível e trivial. Tão previsível e trivial que, por exemplo, o relator, o deputado João Semedo, do Bloco de Esquerda, até já sabe o que vai escrever no final. Não é uma invenção minha, é o próprio que anda a dizê-lo pelos jornais.

Estas práticas políticas, de tão óbvias na sua incongruência, servem exclusivamente para a demonstração da baixa qualidade da vida partidária e da generalidade dos seus agentes políticos. Temos hoje um Governo acantonado na defesa da modernização do país, contra toda uma oposição que se afadiga no conservadorismo, no golpe baixo e em procurar por todos os meios contrariar qualquer evolução positiva. Fazem-no por convicção. À esquerda e à direita os partidos promovem o que há de pior, mais negativo e mais reacionário na nossa vida coletiva. Gente que não entende o mundo contemporâneo e que passa os dias a magicar como se pode regressar aos bons velhos tempos da miséria civilizacional e da falta de ambição.

Os contributos para andar para a frente são parcos e tímidos. Enquanto os discursos luditas e saudosistas vão ganhando adeptos, empenhados em fazer o tempo andar para trás. Há, de facto, quem gaste todas as energias a tentar inventar uma máquina para viajar no tempo. Nunca, para ir ao futuro, mas para regressar ao passado.

Mas nem tudo é mau. A irrelevância da temática referida no início deste texto é um excelente sinal. Os portugueses estão-se marimbando para estas Comissões de Inquérito. E isso é bom. Muito bom.
Viriato
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