Manual de Cidadania
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Manual de Cidadania
Manual de Cidadania
Só para dizer uma coisa sobre o Saldanha Sanches. Era um homem muito difícil. Como algumas pessoas da sua geração, que é a minha, embora ele fosse mais velho do que eu, são muito difíceis de meter em caixinhas. Era muito engraçado a dificuldade de pôr títulos. O fiscalista Saldanha Sanches. Não lhe passava pela cabeça ser classificado, na hora da morte, como fiscalista. O revolucionário desiludido Saldanha Sanches. E esse aspecto, esta dificuldade de meter aquele homem numa caixinha qualquer, que corresponde às caixinhas com que nós somos todos metidos, todos os dias, pela comunicação social, mostra, de facto, que aquela biografia, como algumas biografias daquela geração, são, de facto, muito difíceis de meter em caixinhas.
Deputado-espião
*
Lobo Xavier tinha decidido fazer uma referência a Saldanha Sanches, dizendo algumas palavras de homenagem. Seguiu-se o Pacheco, que relembrou ser seu amigo há muitos anos, mas escusando-se a dizer mais naquela ocasião. E António Costa teceu-lhe rasgados elogios, realçando a exigência e a coerência com que foi seu mandatário da candidatura à Câmara de Lisboa. Estava a desenvolver o fascinante tópico da sua independência com exemplos concretos, pessoais, quando foi interrompido a mata-cavalos para despejo do auto-panegírico supra. A morte de Saldanha Sanches, de repente, era só mais uma ocasião para o Pacheco falar de si e do seu complexo de superioridade. A mensagem fica como um pleonasmo tautológico: também eu não me deixo enfiar em caixinhas, também eu venci a comunicação social, também eu sou da tal geração, eu posso, eu quero, eu sou, eu.
Malhar no Pacheco devia ser obrigação cívica explanada num capítulo inteiro do manual de cidadania contemporânea ainda por escrever. Não por lhe querermos mal – físico ou psicológico, e bem pelo contrário – mas por ele nos fazer mal. Esta super-estrela da política-espectáculo, que ganha fortunas a mentir à descarada, e sem nunca se retractar, ainda conseguiu envenenar um partido ao ponto de ser mentor de uma estratégia política asinina e degradante. Como se fosse pouco, é ao Pacheco que deverá ser creditada, seja em que percentagem for, a exclusão do futuro líder social-democrata das listas de deputados. Finalmente, deixam-no andar pelo Parlamento a emporcalhar a instituição, criando uma situação de infâmia generalizada que atinge indivíduos, empresas, PS e Governo. Será este o seu principal legado à cultura e sociedade portuguesas? É que tudo o resto ficou ofuscado pelo que fez, e não fez, desde que Ferreira Leite tomou conta do asilo da Lapa.
E nem as Escrituras escapam. Ir buscar uma passagem bíblica para fazer ameaças oblíquas cujo contexto, subtexto e pretexto são as escutas a que teve acesso na Comissão de Inquérito, é soberba só possível àqueles que já se elevaram misticamente ao deboche sagrado. Daí as crises de acédia, pois tudo o que sobe acaba por descer.
De facto, somos obrigados a concordar: os biógrafos do Pacheco nem sequer perderão um minuto a tentar enfiá-lo em caixinhas, vai logo directo para um saco de plástico preto.
Valupi
Só para dizer uma coisa sobre o Saldanha Sanches. Era um homem muito difícil. Como algumas pessoas da sua geração, que é a minha, embora ele fosse mais velho do que eu, são muito difíceis de meter em caixinhas. Era muito engraçado a dificuldade de pôr títulos. O fiscalista Saldanha Sanches. Não lhe passava pela cabeça ser classificado, na hora da morte, como fiscalista. O revolucionário desiludido Saldanha Sanches. E esse aspecto, esta dificuldade de meter aquele homem numa caixinha qualquer, que corresponde às caixinhas com que nós somos todos metidos, todos os dias, pela comunicação social, mostra, de facto, que aquela biografia, como algumas biografias daquela geração, são, de facto, muito difíceis de meter em caixinhas.
Deputado-espião
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Lobo Xavier tinha decidido fazer uma referência a Saldanha Sanches, dizendo algumas palavras de homenagem. Seguiu-se o Pacheco, que relembrou ser seu amigo há muitos anos, mas escusando-se a dizer mais naquela ocasião. E António Costa teceu-lhe rasgados elogios, realçando a exigência e a coerência com que foi seu mandatário da candidatura à Câmara de Lisboa. Estava a desenvolver o fascinante tópico da sua independência com exemplos concretos, pessoais, quando foi interrompido a mata-cavalos para despejo do auto-panegírico supra. A morte de Saldanha Sanches, de repente, era só mais uma ocasião para o Pacheco falar de si e do seu complexo de superioridade. A mensagem fica como um pleonasmo tautológico: também eu não me deixo enfiar em caixinhas, também eu venci a comunicação social, também eu sou da tal geração, eu posso, eu quero, eu sou, eu.
Malhar no Pacheco devia ser obrigação cívica explanada num capítulo inteiro do manual de cidadania contemporânea ainda por escrever. Não por lhe querermos mal – físico ou psicológico, e bem pelo contrário – mas por ele nos fazer mal. Esta super-estrela da política-espectáculo, que ganha fortunas a mentir à descarada, e sem nunca se retractar, ainda conseguiu envenenar um partido ao ponto de ser mentor de uma estratégia política asinina e degradante. Como se fosse pouco, é ao Pacheco que deverá ser creditada, seja em que percentagem for, a exclusão do futuro líder social-democrata das listas de deputados. Finalmente, deixam-no andar pelo Parlamento a emporcalhar a instituição, criando uma situação de infâmia generalizada que atinge indivíduos, empresas, PS e Governo. Será este o seu principal legado à cultura e sociedade portuguesas? É que tudo o resto ficou ofuscado pelo que fez, e não fez, desde que Ferreira Leite tomou conta do asilo da Lapa.
E nem as Escrituras escapam. Ir buscar uma passagem bíblica para fazer ameaças oblíquas cujo contexto, subtexto e pretexto são as escutas a que teve acesso na Comissão de Inquérito, é soberba só possível àqueles que já se elevaram misticamente ao deboche sagrado. Daí as crises de acédia, pois tudo o que sobe acaba por descer.
De facto, somos obrigados a concordar: os biógrafos do Pacheco nem sequer perderão um minuto a tentar enfiá-lo em caixinhas, vai logo directo para um saco de plástico preto.
Valupi
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