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Mensagem por ricardonunes Seg Set 08, 2008 11:30 am

Meus caros do O Último Pingo

Espero que esta e-mail vos vá encontrar de saúde pois nós por aqui tudo bem Graças a Deus.
Escrevo estas palavras porque já não aguento o aperto que se me cravou no peito, de há uns dias a esta parte.
Passo a explicar:
Chamo-me Idalina Miranda Serra, tenho 56 anos e moro no Entroncamento.
Sou casada há 27 anos com o meu Narciso que é maquinista na C.P. e de quem tive uma filha, a Ermelinda que tem hoje 24 anos e anda no último ano de enfermagem.
Sempre foi, e é, uma filha exemplar. A minha Ermelinda é os nossos olhos. Foi para ela que dedicamos todo o nosso suor. Tanto eu como o pai tiramos desde sempre da nossa boca para lhe poder dar tudo e ela, pobrezinha, correspondeu passando todos os anos com boas notas. Além disso sempre que pode, coitadinha, ajuda-me na lida da casa e não há receita que a minha Ermelinda não faça na perfeição.
Tirando o filho do Sr. José Esteves, que é factor na Estação de Coimbra -B, nunca se constou que a minha filha namorasse com alguém. Isto foi para aí há dez anos. Mesmo com Adalberto, esse rapaz, a coisa não durou muito tempo porque a minha Ermelinda queria estudar e ele só pensava em andar levado pelas discotecas ao fim-de-semana.
Sempre foi muito responsável a minha querida filha.
Este ano pelas férias da Páscoa apareceu-me cá em casa com um moço. Eu e o meu Narciso, quando o vimos assim de repente, até nos assustamos. Com uma barba que parecia que tinha sido semeada em dia de vento, uns três ou quatro brincos em cada orelha e uma argola no nariz, rabo-de-cavalo, uma T-shirt vermelha mas com o desenho de uma plantinha verde com cinco folhas ou seis folhas, as calças rotas nos joelhos, as sapatilhas muito sujas e umas fitinhas amarradas ao pulso.
Bem, eu juro-vos que fiquei sem pinga de sangue.
Então ela, que também reparou no nosso embaraço, apresentou-nos o rapaz:
«-Pai, mãe…este é o Diogo e é muito meu amigo.» - isto dito sem nunca tirar os olhos do quadro da Última Ceia que temos na sala.
O pai dela estava virado para a janela que dá para a Estação e nem se mexeu. As minhas pernas tremiam como varas verdes
«- O Diogo é filho do Dr. Adriano Saraiva Sotto-Burnay, um conhecidíssimo neurocirurgião de Coimbra.» - continuou a minha Ermelinda.
Aí, o meu Narciso fixou pela primeira vez o rapaz e esboçou um sorriso. Esticou o braço ao rapazinho e deu-lhe um forte aperto de mão.
«- Anda em enfermagem também?» – perguntou-lhe então o meu marido, já com a vigorosa mão direita em cima do frágil ombro do amigo da minha filha.
«- Não, senhor. Ando em medicina…no quarto ano.» - respondeu-lhe o Diogo, que estava ainda um pedacinho nervoso.
Pronto, depois disto, entre «…vamos ter Doutor, hã…», «…apareça sempre que quiser, homem.» e «…virei com certeza», aqueles dois até pareciam que já se conheciam há anos sem conta.
E assim foi, sem nunca nos dizerem se namoravam ou não, ele ia aparecendo em certos fins-de-semana, principalmente aos Domingos.
No entanto a minha Ermelindinha começou a mudar a maneira de se vestir. Deixou de usar saia, soltou o cabelo e passou a usar umas camisolas mais largas.
Comecei a sentir a minha filha mais alegre mas também mais liberta e independente.
Continuou, como sempre, aplicada nos estudos, e muito educada para os pais, mas eu como mãe, reparei que ela tinha mudado muito nesse espaço de tempo.
No fim do mês passado, numa noite em que estávamos na sala a ver a novela na “quatro”, ela saiu-se com esta:
«Pai, dia seis de Agosto vou acampar com o Diogo na Serra da Estrela. O pai deixa não deixa?»
Eu fiquei assustada com a pergunta, porque o meu Narciso às vezes tem umas taquicardias que até revira os olhos.
Só que para meu espanto, e sem nunca tirar olhos do decote da Alexandra Lencastre, ele respondeu:
«- Claro que podes filha, já tens 24 anos. O que eu tenho a ver com isso.»
E assim foi.
Chegado o dia seis deste mês, lá foram eles então acampar.
Estava eu ainda a dizer-lhes adeus, quando nisto olho para trás e dou com o Dr. Francisco Araújo que é o nosso médico de família a abanar a cabeça a dizer que sim:
«- Não vai nada mal a sua filha Dona Idalina.» - disse-me ele com aquele ar simpático e jovem que mantém aos quase setenta anos.
«- Parece ser muito bom moço.» - disse-lhe eu.
«- É de boas famílias. Gente com muito dinheiro. Conheço bem o pai dele, é um grande médico. É o dono da clínica Santa Anastácia. A minha mulher foi operada por ele. Grande médico. Tem é o bichinho da política. É do Bloco.»
«- É do Bloco?!!! O que é isso Sr. Doutor?» – perguntei-lhe eu que não estava a ver naquele momento o que era isso do Bloco.
«- Ó mulher é do Bloco de Esquerda, o partido do Louçã.»
«- Do Louçã?!!! …Quem é o…é aquele que parece um padre zangado a falar?»
«-Sim.»
«- Olhe estou a saber disso agora pelo Sr. Dr.»
«- E o namorado da sua filha já segue as pisadas do pai. Já é um dos principais de Coimbra no partido.»
«- E isso é bom Sr. Dr.?»
Mas a esta pergunta já não me respondeu, foi-se embora a rir pela ladeira abaixo.
Fiquei com aquela do Bloco na cabeça e quando à tarde vi nas notícias o Louçã a falar reparei naquilo que dizia com muito mais atenção.
E olhem fiquei a simpatizar com o homem. Ele até fala muito bem, sim senhor.
No dia doze pela manhã a minha filha chega a casa do acampamento.
Achei-a muito magra, despenteada e com umas olheiras enormes.
«-Ó filha, não comeste nestes dias?» – perguntei-lhe preocupada.
«- Comi mãe e muito.»- respondeu-me ela a rir-se para o rapaz, não sei eu ainda de quê.
Nisto ela pede-me para segurar nuns sacos que tinha trazido do tal acampamento, porque ainda tinha que ir buscar mais umas coisitas ao carro do Diogo.
Eu juro-vos que nunca na minha vida espiolhei as coisas da minha Ermelinda, e não sei o que me deu para naquele dia ter espreitado para dentro de um dos sacos.
E é mesmo por causa daquilo que eu vi dentro desse tal saco que vos estou a escrever.
Por fora tinha umas letras que diziam…eu até apontei num papel para não me esquecer…WORKSHOPS DE DESOBEDIÊNCIA CIVIL…
Lá dentro saco tinha então umas coisas que nunca tinha visto na minha vida.
Olhem, havia assim uma coisa muito mole, comprida e parecida com uma morcela mas com um feitio arredondado numa das pontas. Outra coisa estranha que estava lá dentro era assim uma espécie de “varinha mágica” pequenina de cozinha, mas sem a haste para triturar. Trazia também duas pulseiras grandes, mas presas uma à outra por uma correntinha. Mas aquilo que mais me assustou foi o chicote. Para que quer a minha Ermelindinha um chicote?
Vocês aí no O Último Pingo que sabem tudo, digam-me por favor, o que são estes objectos estranhos que a minha filhinha trouxe lá do acampamento na Serra da Estrela?
Não vos maço mais, desta que vos admira.

Idalina Serra
Entroncamento, 30 de Agosto 2008


Resposta do O Último Pingo:

Querida Idalina a única coisa que lhe podemos dizer é que não se preocupe com estes objectos que a sua filha trouxe desse encontro politico de alto nível, literalmente falando, porque segundo as novas directivas do Ministério da Administração Interna, alguém que seja apanhado com eles pelas autoridades, não estará sujeito à prisão preventiva.
O que a sua Ermelinda adquiriu, e muito bem, são ícones. São os ícones do Bloco.
Nós explicamos:
Essa coisa mole e comprida não é mais que ícone do anarco-sindicalismo anti-globalizante e anti-neo-liberal do Bloco.
A tal “varinha mágica”, minha senhora, é tão só o ícone do trotskismo anti-estalinista e anti-marcial do Bloco.
As duas pulseiras unidas pela corrente, não são nada de mais. São apenas o ícone do marxismo-leninismo e do anti-capitalismo pseudo-intelectual do Bloco.
O chicote, usado moderadamente, porque se não for pode dar preventiva, é o ícone da forma de fazer política do Bloco que é também chamada de “vergastada benigna”, que não mata nem faz viver, mas deixa marcas e chateia.
Esteja por isso descansada, Dona Idalina e para o ano vá com eles à Serra da Estrela.
ricardonunes
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