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A história da bomba atômica no Irã

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A história da bomba atômica no Irã  Empty A história da bomba atômica no Irã

Mensagem por Vitor mango Dom Ago 08, 2010 4:05 am



A história da bomba atômica no Irã





por Gustavo Chacra

Seção: Geral

30.setembro.2009 09:49:15







Os primeiros inimigos

O Irã possuía três inimigos em suas fronteiras. De um lado, o
Taleban, que governava o Afeganistão, e a Al Qaeda, a quem os afegãos
concediam abrigo. Do outro, estava Saddam Hussein, no Iraque. Este
cenário durou até ocorrer o 11 de Setembro e os Estados Unidos ajudarem
indiretamente o Irã ao derrubar do poder seus rivais. Melhor, colocou no
lugar administrações simpáticas a Teerã, com Hamid Karzai, no
Afeganistão, e uma coalizão controlada por xiitas, no Iraque.
A Al Qaeda é inimiga do Irã por questões religiosas. Sunita, a rede
terrorista considera os xiitas infiéis. O regime de Teerã, assim como a
maioria dos iranianos, seguem a corrente xiita, e, por sua vez,
consideram os sunitas infiéis. O Taleban também é sunita, se encaixando
no mesmo perfil da Al Qaeda. Some-se à questão religiosa as disputas
territoriais que quase levaram afegãos e iranianos a uma guerra no fim
dos anos 1990. Para completar, os pashtus compõe a maior parte do
Taleban, enquanto o Irã concede apoio a etnias mais fracas.
Saddam Hussein travou uma guerra de dez anos com o Irã nos anos 1980.
Foi o mais sangrento conflito do século 20 no Oriente Médio, matando
bem mais pessoas do que todas as disputas entre árabes e israelenses.
Nesta guerra, os iranianos introduziram a prática dos atentados suicidas
justamente contra soldados iraquianos. Antes disso, um muçulmano xiita
jamais havia se matado. Os sunitas demorariam um pouco mais.
Irã e Iraque possuíam disputas territoriais. A questão religiosa não
teve tanta importância. Por mais que tenha combatido xiiitas nos anos
1990 e tenha nascido sunita, Saddam não tinha religião. Seu vice, Tariq
Aziz, era cristão caldeu. O problema com o Irã era territorial e o
expansionismo do líder iraquiano. Foi uma guerra nacionalistas. Aliás,
xiitas iraquianos, no Exército de Saddam, combateram xiitas iranianos.
Afinal, eles são árabes, não persas.

O expansionismo e as ameaças externas

Sem o Taleban e Saddam, o Irã se sentiu mais livre, podendo levar
adiante sonhos expansionistas para o Oriente Médio. O regime de Teerã
intensificou seu apoio ao grupo xiita libanês Hezbollah, concedeu apoio a
organizações xiitas no Iraque e, nas áreas palestinas, se uniu ao
Hamas, que, mesmo sunita, viu em Teerã um aliado forte para se livrar do
isolamento imposto pelos países árabes e Israel. Também formou uma
forte aliança com a Síria, uma ditadura secular, mas, de certa forma,
sob o controle político de uma elite alauíta e econômico dos sunitas.
Ao mesmo tempo que isso ocorria, o Irã se sentia ameaçado pelos
Estados Unidos. Em 2003, a Guerra no Iraque era um sucesso e no
Afeganistão também. A administração de George W. Bush advertia que os
iranianos poderiam ser os próximos. Em 2005, foi eleito o radical
Mahmoud Ahmadinejad para presidente. Ele pode não ter todo o poder do
Irã, onde quem comanda é o líder supremo, Ali Khamanei. Mas seu discurso
assustou Israel. Logo, os israelenses começaram a se sentir ameaçados
e, consequentemente, passaram a cogitar um ataque contra o Irã.
Com a possibilidade de ser atacado tanto por Israel e pelos EUA, o
normal seria o Irã buscar uma bomba atômica. O regime de Teerã sabe que o
armamento serve para conter os adversários. Os EUA nunca se meteram com
o Paquistão, China e relutam em fazer algo contra a Coréia do Norte
porque eles possuem armas nucleares. A arma, neste caso, não serviria
para atacar. Por mais radical que seja o regime em Teerã, não há lógica
em bombardear Tel Aviv ou Haifa. Em minutos, os americanos e os
israelenses varreriam todas as cidades iranianas com mais de 50 mil
habitantes do mapa. Sem falar que, no ataque às cidades israelenses,
milhares de palestinos seriam mortos também.
O Tratado de Não Proliferação
Mas, mesmo que seja apenas para defesa, o Irã não pode ter estas
armas por ser signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, ficando
sujeito a leis internacionais. Precisa colaborar com a Agência
Internacional de Energia Atômica. A decisão de integrar o tratado foi de
Teerã. Ninguém os obrigou. Outros países não assinaram justamente por
se sentirem ameaçados.
Israel, por exemplo, esteve envolvido em quatro guerras contra seus
vizinhos, sem falar em conflitos contra grupos palestinos e libaneses.
Com sua existência ameaçada, optou por desenvolver armas nucleares,
garantindo assim a sua segurança, em vez de assinar o tratado.
Oficialmente, os israelenses não negam e tampouco confirmam possuírem
armas. A Índia e o Paquistão são inimigos. Como um se sente ameaçado
pelo outro, levaram adiante uma corrida armamentista. Hoje, os dois tem
armas nucleares e não são signatários.

Os indícios

Não dá para dizer com certeza se o Irã está em busca de armas
nucleares. Mas há indícios, como uma usina pequena demais para fins
civis, os obstáculos impostos às ações da AIEA, a falta de necessidade
de energia nuclear em um país com petróleo abundante, os recentes testes
com mísseis de médio alcance. Além disso, entra toda a lógica realista
acima.
Pode ser que todos estejam errados, como foi o caso do Iraque de
Saddam, onde também existiam indícios. Neste caso, o Irã estaria
blefando para se mostrar forte, ao colocar todos estes obstáculos. Fica
difícil saber.
Por enquanto, a tática do Ocidente é tentar dialogar. Se não
funcionar, endurecer as sanções. Um risco de uma ação dos EUA é nula com
Barack Obama no poder. Mas os americanos usam as ameaças de ataque
preventivo de Israel como barganha na hora de falar com Teerã. Amanhã,
vamos ver o que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e a
Alemanha decidem em discussões com os iranianos em Genebra.

Os riscos

Antes de terminar, apenas para ficar claro, o Ocidente não quer que o
Irã possua a bomba atômica porque 1) poderia haver uma corrida
armamentista na região, com a Turquia e os países árabes buscando a
bomba 2) o Irã poderia conceder uma bomba suja para grupos como o
Hezbollah 3) os EUA não querem um país inimigo com o armamento 4) o
regime de Teerã não é considerado confiável 5) Ameaçado, Israel poderia
levar adiante um ataque preventivo e, em uma espiral, haver uma guerra
regional em uma das regiões mais estratégicas do mundo



Comentários (103) | comente















103 Comentários
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  • 30/09/2009 - 10:41
    Enviado por: ElcioW
    Guga, excelente resumo, elucidativo. Tem um fio condutor lógico e, se especula, o faz com base em fatos.
    Um fato geral a ser observado — e mesmo no Brasil levantam-se algumas
    vozes a favor, inacreditavelmente vozes civis, como a do
    vice-presidente de combalida saúde — é o de que a posse da bomba obriga
    amigos, inimigos, gregos, troianos e corintianos a ter mais respeito. O
    fim gradual da guerra fria, portanto, não livrou a Humanidade do risco
    de novos holocaustos.
    É nesse contexto que não parece ser muito prudente uma excessiva aproximação do Brasil com o regime de Teerã.


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  • 30/09/2009 - 10:47
    Enviado por: Hagá
    Gustavo,
    confirma-se a opinião de que a invasão do Iraque foi uma tremenda
    burrada dos Aloprados de Bush, apoiada pela extrema direita de Israel.
    Uma DIPLOMACIA INTELIGENTE recomendaria acatar os claros indícios de que
    Saddam Husseim não tinha armas de destruição em massa, mas apenas
    discurso fanfarrão. Quebrou-se o equilíbrio Irã-Iraque. O próximo da
    fila se reposicionou, como seria de se esperar.
    Não sabia que Mahmoud Ahmadinejad chegara ao poder somente em 2005.
    Faz sentido então que, diante da invasão ao Iraque em 2003, ele tenha
    apelado para discursos mais radicais, concursos de cartoons e coisas
    assim, com receio do expansionismo latente de Israel. Fica claro também
    que suas diatribes são mais uma forma de expor seus receios do que
    defesa de direitos humanos alheios.
    Mais uma vez se percebe que a melhor atitude de e para Israel seria
    um grande tratado internacional com reconhecimento dos Estados-membros
    da Liga Árabe e retorno às fronteiras de 1967, com alguns ajustes em
    questões mais delicadas, como retorno dos palestinos expulsos, forma de
    compartilhamento de Jerusalém e desmantelamento dos assentamentos nos
    territórios ocupados na Cisjordânia.
    Com fronteiras pré-1967, se poderia dar um xeque-mate contra todos os
    extremistas e se separariam aqueles que realmente defendem os DIREITOS
    HUMANOS dos Palestinos e antissemitas. Infelizmente, o governo eleito de
    Israel me parece fanático demais para raciocinar com objetividade,
    preferindo se incluir na galeria dos extremistas.
    Penso também que a dependência do petróleo não é um forte argumento
    para se abrir mão de outras matrizes energéticas, como a nuclear, quando
    o mundo todo aponta nesse sentido, até mesmo por motivos ambientais.
    Apenas acho que você deveria fazer um adendo sobre a aliança
    Irã-Contras da época de Reagan, pois esse assunto sempre ficou mal
    esclarecido. Nunca soube o destino do Cel. North, por exemplo. Eles
    conseguiram a proeza de unir a extrema-direita centro-americana aos
    aiatolás.


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  • 30/09/2009 - 10:48
    Enviado por: Paulo
    Gustavo
    Gostaria de lhe presentear com alguns “por ques?”:
    Se o Irã se retira do “Acordo de Não Proliferação” não deixa de ser criminoso? pq não o faz?
    Pq vc avalia que um ataque Israelense tb não produzirá algum tipo de
    retaliação infeliz? pricipalmente agora, que segundo vc, os EUA não
    entrariam na refrega?
    Por seu descritivo, a menor razão de tudo isso é a religiosa,
    trata-se de um típico jogo regional de poder, e nesse contexto ter
    deixado Sadam onde estava era um ato de prudência?


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  • 30/09/2009 - 10:56
    Enviado por: ROSENVALD
    Gustavo:
    A maior pressão no momento nos bastidores enquanto se mantem calada
    publicamente,é dá Arabia Saudita,esta deve estar buzinando nos ouvidos
    dos USA e das grandes potencias européias.
    Assim como os pequenos e milionarios paises do golfo.
    Acredito que o Irã com uma bomba se sentirá mais segura para tentar ter
    uma influencia absurda sobre o Iraque quando os USA sairem,e se tornarem
    uma potencia muito mais forte que Egito,Arabia Saudita.
    Dai o quanto tentarão intervir e influenciar a politica dos paises
    árabes,rosnando os dentes com sua bomba quando ameaçado,é uma
    incógnita.Mais isto ocorrerá,a duvida é o quanto.
    Se a paupérrima Córeia do Norte volta e meia faz ameaças,imagina o que não fará o Irã com sua bomba?
    Portanto os que acham que só Israel deve temer o irã,estão profundamente equivocados.


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  • 30/09/2009 - 11:06
    Enviado por: MarioS
    Muito boa e abrangente sua análise, discordo apenas de uma conclusão a que voce chega:
    “A arma, neste caso, não serviria para atacar pois não há lógica em bombardear Tel Aviv ou Haifa.”
    Não havia lógica também em atacar Pearl Harbour, tentar tomar as
    Malvinas ou invadir o Kuwait. Nos tres exemplos, o resultado final não
    foi dos melhores para os autores destas operações ilógicas e, mesmo
    assim executadas


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  • 30/09/2009 - 11:22
    Enviado por: Pedro Ricardo Alves
    Concordo em parte, mas as razões dos EUA e de Israel não são
    meramente de evitar ter um inimigo com bombas átomicas e sim o
    principio de controle geopolitico mesmo dessa região.
    O Irã tem reservas importantes e armado com uma bomba átomica poderá defender suas riquezas.


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  • 30/09/2009 - 11:38
    Enviado por: mariana ferreira
    Excelente texto, que mostra bem a realidade atual desta
    região. Os iranianos são mesmo extremamente nacionalistas e orgulhosos
    de uma cultra milenar. O Irã é um país que mantém língua e costumes
    pré-islâmicos, como o Nouroz- ano novo persa comemorado no dia 21 de
    março, que também é o início da primavera no hemisfério norte, e tem uma
    forte rejeição à tudo que é de fora, inclusive eles odeiam ser
    confundidos com árabes. O apoio do regime de Teerã à grupos como o Hamas
    e Hezbollah é muito menos ideológico do que pragmático. No caso do
    Hezbollah até contou o grupo ser xiita, mas os xiitas libaneses estuavam
    religião em Kerballah, no Iraque e não na cidade sagrada de Qom, no
    Irã. Além desta informação, um livro do professr Richard Augustus Norton
    também fala que hoje o Hezbollah tem bem menos influência do Irã do que
    na época da sua formação. Acontece que o Irã viu no Hezbollah e no
    Hamas, que é sunita, uma maneira de ficar próximo de Israel, que é
    considerano o inimigo-mór, enqaunto os grupos receberam treinamento,
    logística e dinheiro do Irã. Para um regime totalitário e repressor como
    o iraniano, é horrível esta calmaria toda nas fronteiras. Com tudo
    calmo com os vizinhos, a população passa a exigir mais de seus
    governantes e os níveis de patriotismo e safistação caem bruscamente. E a
    sitaução pode piorar muito para o Irã se a Rússia e a China impusrem
    sançõe comerciais, como se está cogitando. O Irã já tem embargo dos
    Estados Unidos e hoje é um país atrasado. Não tem refinaria de petróleo e
    nem cartão de crédito e sobrevive de vender tapete, petróleo e
    pistache!


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  • 30/09/2009 - 11:44
    Enviado por: gustavochacra
    ElcioW, obrigado pelo elogio
    Hagá, em parte. A invasão do Iraque teve imensos erros, mas
    alguns resultados, como fazer a Líbia abdicar de seu programa nuclear.
    Falo apenas na questão nuclear, não nas mortes de dezenas de milhares de
    pessoas. Sobre a aliança, bem lembrado, mas está dentro do contexto
    Irã-Iraque. Ficaria grande demais

    Paulo, vamos às respostas 1) Tudo que tenha feito durante o
    tempo de vigência de acordo está sujeito às regras 2) Não coloquei? Bom,
    acho que poderia ter uma retaliação, mas não sei a intensidade ou a
    via. Hezbollah? Pode ser. Mas também ações contra interesses israelenses
    no exterior ou os EUA no Iraque. 3)Na minha visão, a religião pesa
    pouco. Mas esta é a linha de pensamento que sigo, realista, que se foca
    em interesses de Estados nacionais. Outros possuem posições distintas

    Rosenvald, concordo. A Arábia Saudita é uma das maiores interessadas
    MarioS, Pearl Harbour não é minha especialidade, mas comento
    dos outros dois. No caso do Kuwait, o Iraque historicamente tem
    interesse expansionista para este país e houve uma falha de comunicação
    com Washington. Além disso, depois da Guerra com o Irã, o Iraque buscou
    aumentar o seu acesso ao golfo via Kuwait. Sem falar que Saddam era um
    ditador, não havia checks and balances como em um regime tão diverso
    como o Irã, com diferentes centros de poder. Nas Malvinas, a ditadura
    argentina fez um cálculo errado e se deu mal. Eles não esperavam uma
    resposta britânica e imaginaram que teriam o apoio americano. Tenho um
    paper que escrevi sobre o assunto e posso te enviar por email se houver
    interesse

    Pedro, você tem razão


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