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sua defesa e segurança. José Cutileiro

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Mensagem por Vitor mango Sex Dez 10, 2010 8:51 am

WikiLeaks e decência

José Cutileiro (www.expresso.pt)
0:00 Sexta feira, 10 de Dezembro de 2010





Ao justificar a publicação de telegramas diplomáticos americanos roubados ao Estado e facultados via intermediário anónimo pela WikiLeaks - "organização dedicada à revelação de segredos oficiais" - que os obtivera de um jovem militar desencantado, o "New York Times" disse aos leitores acreditar que "os documentos servem um interesse público importante, iluminando os objectivos, sucessos, compromissos e frustrações da diplomacia americana de maneira que outros relatos não podem igualar". E também que "apesar de objecções oficiais, seria presunçoso concluir que os americanos não têm direito a saber o que é feito em seu nome". Em editorial, "Le Monde" - que com "The Guardian", "Der Spiegel" e "El País" se juntou ao "NYT" como receptador dos cerca de 250 mil telegramas - chamou ao patrão da WikiLeaks, organização fundada em 2006, "um apóstolo da transparência integral". Os dois jornais contam que seleccionam, adaptam e explicam o material que lhes chegou às mãos a fim de prejudicar o menos possível os Estados Unidos.
Desculpas de mau pagador. A História é uma coisa; a política de hoje é outra. Seria pedagógico divulgar em pormenor arquivos secretos de guerras e pazes passadas. É indecente, porém, fazê-lo ao presente. A possível satisfação intelectual e estética tem de ser medida contra os prejuízos causados pela divulgação de informações e apreciações dadas à puridade por um diplomata ao seu governo. Ao contrário do que muita gente parece pensar, a diplomacia não é entretém frívolo - é a alternativa à guerra, numa teia que exige discrição para que se mantenham linhas de diálogo abertas, mesmo com interlocutores improváveis. Além disso, as democracias (os Estados Unidos não são a China ou a Rússia) dispõem de mecanismos que permitem aos povos saber "o que é feito em seu nome" de maneiras eficazes que não lesem o país como esta descarga indecente de telegramas roubados na praça pública. Por fim, "transparência" não é uma virtude, é um estratagema de comunicação. Em "Mein Kampf" Hitler contou o que ia fazer; Savonarola nunca escondeu o que queria banir de Florença; Pol Pot espalhou atempadamente a sua visão do Camboja.
A curto prazo este episódio mostra apetite de escândalo contra os Estados Unidos e aproveitamento oportunista desse mercado - mas não causa prejuízos reais. O universo diplomático compensa alguma inocência dos leigos e há mais bom senso no mundo do que se julga. Berlusconi, por exemplo, quando lhe disseram o que os americanos pensavam dele deu uma gargalhada.
A longo prazo o estrago poderá ser maior. Estrangeiros responsáveis talvez pensem duas vezes antes de partilharem segredos ou opiniões com interlocutores americanos. E diplomatas americanos haverá com menos vontade de pôr por escrito o que pensem - reticência que privaria os decisores políticos de fontes importantes de informação. Seriam consequências nocivas para os Estados Unidos e para todos os que com eles contem para sua defesa e segurança.
José Cutileiro
Vitor mango
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