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A emoção da censura Miguel Sousa Tavares (www.expresso.pt) 0:00 Quinta feira, 17 de Fevereiro de 201

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A emoção da censura Miguel Sousa Tavares (www.expresso.pt) 0:00 Quinta feira, 17 de Fevereiro de 201 Empty A emoção da censura Miguel Sousa Tavares (www.expresso.pt) 0:00 Quinta feira, 17 de Fevereiro de 201

Mensagem por Vitor mango Seg Fev 21, 2011 11:12 am

A emoção da censura


Miguel Sousa Tavares (www.expresso.pt)



0:00 Quinta feira, 17 de Fevereiro de 2011










Tudo o que este ou qualquer outro Governo tem de decidir é
onde corta, quanto corta e por quanto tempo corta. Resolvido isso,
então, sim, podemos regressar à política. Mas se não resolvermos isso,
só um louco é que nos há-de querer governar. Ou um ditador.






Tudo começou com Paulo Portas na noite das
eleições presidenciais, afirmando logo que o Governo tinha perdido as
presidenciais e era preciso tirar consequências disso. Continuou depois
com Jerónimo de Sousa, declarando-se o PCP pronto para apresentar uma
moção de censura, ao mesmo tempo que, quadratura do círculo, notificava a
direita de que não contasse com o PCP para chegar ao poder. Depois de
alguma hesitação, apareceu então Miguel Relvas, actuando presumidamente
em representação de Passos Coelho (?), a afirmar que o PSD é que
escolheria o "momento oportuno" para derrubar os socialistas. Seguiu-se
Cavaco Silva, que nem esperou pela tomada de posse para abrir as
hostilidades com o Governo Sócrates, tornando clara a mensagem de que,
mesmo que os partidos o poupassem, por ele não haveria tréguas : tinha
passado a ser uma questão pessoal. E, enfim, entrou em cena Francisco
Louçã: primeiro, demarcou-se da excitação geral, afirmando que uma moção
de censura agora não teria efeitos práticos; mas eis que, três dias
decorridos, bate toda a concorrência ao sprint e anuncia a sua moção de censura.

"Que Chico Esperto!", comenta o povo na net, "agora vai
capitalizar o descontentamento geral contra Sócrates". Pois, talvez sim
talvez não, o último a rir, ri melhor. O eleitorado do BE não é igual
ao do PCP, que engole qualquer coisa que o Comité Central decida. O do
BE, teoricamente, é mais politizado e não vive em 1917: pode ser que lhe
agradeçam verem-se livres de Sócrates, poderem vingar-se dos cortes
salariais na função pública, do aumento de impostos e contribuições para
a segurança social, dos negócios dos boys, dos pequenos-almoços
com o Luís Figo, da bebedeira de investimentos públicos a aumentarem a
conta da dívida, em benefício de algumas empresas do regime e em
prejuízo de todos. Mas também pode acontecer que o eleitorado do BE não
encontre resposta convincente à pergunta "derruba-se o Sócrates para
chamar o centro-direita?". A menos que se aceite que a estratégia de
Louçã seja a mesma do PCP - capitalizar em votos o descontentamento - e
que, portanto, para eles quanto pior melhor, a jogada do BE não é isenta
de riscos. Para já, é verdade que deixaram os comunistas apeados, na
desprestigiante posição de terem de apanhar boleia do BE - coisa que
muito gozo deve ter dado aos bloquistas, mas que não diz nada ao país. O
que já vai dizer muito ao país é ver na Assembleia a extrema-esquerda e
o centro-direita unidos para derrubar os socialistas. E ver o país
ficar sem Governo, paralisado durante dois meses, com os partidos
envolvidos em nova contenda eleitoral enquanto os credores e os mercados
rebentam connosco de vez. Não sei se os portugueses irão achar muita
graça à solução encontrada.

Agora, está tudo do lado do PSD. O povo da net também
diz que o PSD, na hora da verdade, nunca avançará porque, afinal de
contas, a política do PS também é a sua política. Era bom que isso fosse
verdade, porque seria sinal de que, ao contrário do que todos temos
como certo, o que moveria o PSD não seria o poder, mas sim a execução de
políticas em que acredita. Porém, não é verdade: após seis anos
afastado do governo, o partido grita por poder, desde Vila Real de
Trás-os-Montes até ao Funchal. Essa é a natureza dos chamados 'partidos
do arco da governação' e nisso não se distinguem uns dos outros. O poder
está ali, agora, pronto a ser colhido: porquê resistir mais?

Todavia, um pouco de cautela, um pouco mais de
paciência, não seriam desaconselháveis. Por um lado, porque, se esta é
boa altura para derrubar o Governo PS, também é a pior altura para ir
para o governo (recordem-se dos timings perfeitos que Cavaco
Silva sempre soube escolher para chegar ao poder, fosse como ministro
das Finanças, primeiro-ministro ou Presidente). Por outro lado, porque,
por boas ou más razões, o derrube de Sócrates, ao abrigo de uma
coligação negativa de extremos opostos, iria encontrar a incompreensão
de grande parte do sector económico interno, dos nossos principais
parceiros comerciais e da Europa política. Depois, porque o PSD não tem
programa político pronto para a conjuntura actual, que é de excepção (a
última coisa feita é aquele livro do próprio Passos Coelho, escrito
antes da crise e propondo umas soluções vagas e tão liberais que
deixariam os eleitores de cabelos em pé se fossem agora recuperadas). E
porque Passos Coelho não tem, que se conheça, equipa de governo pronta a
avançar e totalmente nova em relação àquilo que já se conhece de outros
tempos e não se recomenda.

Mais tarde ou mais cedo, como é fatal, Passos Coelho
vai ter de avançar - e é para isso, aliás, que ele foi eleito
internamente. A questão é saber se o seu timing coincide com o
dos outros e também com o desejo ou impaciência internas. Claramente, eu
julgo que ele pensa que o momento não é este - agora, que não se
conhece ainda o resultado dos primeiros meses de execução do orçamento
para se saber se o défice está ou não a ser contido dentro dos limites
acordados com o próprio PSD; agora, que está iminente uma decisão sobre a
flexibilização e reforço do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira,
convencendo a srª Merkel a apostar dinheiro na salvação dos países em
crise de dívida soberana, a batalha principal de José Sócrates. Derrubar
o Governo de Sócrates antes de ter resposta a estas duas incógnitas é
também fornecer-lhe trunfos decisivos para a campanha eleitoral que se
seguirá. E repito o que já disse: as notícias sobre a irreversível morte
política de José Sócrates (a confirmar-se em eleições antes mesmo do
Verão), são provavelmente exageradas.

E o país, no meio de tudo isto? Bem, o país não foi,
seguramente, aquilo que mais ocupou o espírito de Louçã ao anunciar a
sua moção de censura, ou os outros ao ameaçarem fazer o mesmo. O país
está numa situação em que o que menos interessa é a cor política ou as
ideias políticas de quem governa. Excepto se alguém conseguir propor um
programa de governo em que não seja preciso gastar menos do que
produzimos nem seja preciso pagar a dívida acumulada por uma geração
inteira e iniciada nos governos do professor Cavaco Silva, os problemas
imediatos do país estão perfeitamente identificados e só por má-fé podem
ser camuflados. Tudo o que este ou qualquer outro governo tem de
decidir é onde corta, quanto corta e por quanto tempo corta. Resolvido
isso, então, sim, podemos regressar à política. Mas se não resolvermos
isso, só um louco é que nos há-de querer governar. Ou um ditador.

Com mais tempo e mais preparação, Passos Coelho pode
apresentar um programa político em que resolva fazer uma coisa jamais
feita: dizer toda a verdade, confrontar os portugueses com a situação em
que estamos e dizer quais são as suas soluções, sem esconder nada de
desagradável. Terá de dizer se vai ou não repor os cortes salariais
feitos por este Governo; se vai baixar, manter ou subir impostos; se vai
facilitar os despedimentos; se vai continuar loucuras como o TGV, o
novo aeroporto de Lisboa ou a terceira auto-estrada Porto-Lisboa; se vai
meter na ordem os seus regionalistas; se vai exigir a avaliação do
mérito em toda a função pública, sem excepções; se vai começar, quando e
por onde, o desmantelamento de todos os serviços públicos inúteis e
acabar com o financiamento público de tudo e mais alguma coisa; se vai
pôr fim aos negócios encostados à sombra do Estado, não apenas nas obras
públicas, mas em muitos outros sectores - da saúde e medicamentos aos
bombeiros, da cultura às Forças Armadas. Com um programa destes, valia a
pena derrubar o Governo. O problema é que dificilmente ganharia as
eleições.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia.

Texto publicado na edição do Expresso de 12 de fevereiro de 2011

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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Vitor mango
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