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Boca do Inferno – Ricardo Araújo Pereira

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Mensagem por Vitor mango Dom Out 05, 2008 2:53 am

Boca do Inferno – Ricardo Araújo Pereira Domingo, 5 de Outubro de 2008
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Opinião
Parabéns, acaba de ganhar este magnífico apartamento
Sou um dos poucos cidadãos a quem a Câmara Municipal de Lisboa não ofereceu uma casa

Sou um dos poucos cidadãos a quem a Câmara Municipal de Lisboa não ofereceu uma casa. Como é evidente, estou indignado. O nepotismo é um bocadinho repugnante, mas quando não nos contempla é absolutamente intolerável.

Mais: o caso revela uma total falta de respeito pelo conceito de compadrio, que tem tanta tradição em Portugal e, nem que fosse por isso, merecia outro tratamento. Antigamente, nos bons velhos tempos em que a instituição da cunha mantinha alguma dignidade, as pessoas almejavam obter um cargo público importante para exercerem a sua influência em benefício de familiares. Tudo bem. Mas hoje, na Câmara Municipal de Lisboa, basta ser filho de um motorista para se ter a hipótese de arranjar uma casa no centro da cidade. É um escândalo. Toda a gente suporta com resignação que o filho de um ministro ou de um secretário de Estado tenha esta ou aquela regalia. Mas quando os filhos dos motoristas começam a usufruir de benesses, está o caldo entornado.

As cunhas são uma saudável corrupção da democracia, um abandalhamento do princípio da igualdade. Se começam a funcionar de forma transversal às classes sociais, então, e por muito que me custe dizê-lo, mais vale a democracia. A universalidade do acesso às cunhas é das coisas mais antidemocráticas que há.

Nem tudo é mau, apesar de tudo. Um director do departamento de apoio da câmara ofereceu ao filho a casa que a autarquia por sua vez lhe havia oferecido. Diz que é a sua «casa de reserva» porque ficou sem lar quando se divorciou e agora, casado pela segunda vez, não quer arriscar ficar sem tecto na eventualidade de passar por um segundo divórcio. No meio de tantos casos de atribuição ilícita de privilégios, sabe bem encontrar um em que foi a verdadeira necessidade a presidir à cedência da casa. Se há quem viva na situação miserável de não ter uma casa de reserva na qual alojar um filho enquanto não percebe se o seu casamento resiste ou se vai mesmo necessitar de uma segunda habitação, a Câmara deve intervir depressa.

Parece que a Câmara de Lisboa encomendou um estudo a um professor da Universidade Lusófona para saber exactamente quantos imóveis é que detém, mas o professor ainda não entregou o trabalho, porque a autarquia não lhe pagou. Trata-se de um picuinhas, está visto. No entanto, urge que a autarquia ofereça uma casa a este senhor, para que possamos finalmente ter uma noção do património da Câmara. Quero saber quantas casas é que ainda há para oferecer. Se não fosse muito incómodo, gostaria de ter uma para viver e quatro ou cinco de reserva. Se amanhã me apetecer divorciar-me meia dúzia de vezes, quero ter a certeza de que a Câmara estará lá para me apoiar.
Vitor mango
Vitor mango

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