OS PERIGOS PARA A EUROPA

O que eu tenho vindo a dizer!!

OS PERIGOS DA CRISE PARA OS EUROPEUS


Manuel Queiroz
Jornalista
Depois de a Irlanda e também a Grécia terem assegurado a garantia total dos depósitos nos seus bancos, numa acção não coordenada com o resto da União Europeia, a minicimeira de Paris, que juntou os quatro países europeus mais ricos - com licença da Espanha, estavam Alemanha, França, Grã-Bretanha e Itália -, acordou as linhas gerais para fazer face à crise financeira. "Europa renuncia a um plano de resgate conjunto contra a crise", diz na capa o El País, acrescentando que "cada Governo actuará com os próprios meios e métodos, mas coordenadamente". A Itália tem um banco em dificuldades - o Unicredit - daí que o La Stampa olhe de outra maneira: "Europa, em direcção às ajudas de Estado". O Journal du Dimanche diz que "Sarkozy abala a Europa". Mas abala mais a Europa que a chanceler alemã tenha ontem decidido também garantir todos os depósitos bancários, por causa da crise do Hyppo, banco em dificuldades que o Estado vai ter de ajudar.

O perigo para a UE é que a crise "leve a uma onda de nacionalismo económico", dizia ontem, ao Sunday Telegraph, Peter Mandelson, que acaba de deixar a Comissão de Durão Barroso para ser ministro no Governo britânico. Mário Monti, o antigo comissário para a Concorrência da UE, tem um artigo interessante no Corriere della Sera, onde sublinha também a necessidade de os europeus aproveitarem a crise para darem novos passos, como tem sempre acontecido. "Sem as graves crises monetárias do passado, os governos e os bancos centrais nunca teriam encontrado as forças para renunciar à soberania monetária. E assim nasceram a moeda única e o Banco Central", diz Mário Monti. Para ele, o impacto da crise vai ser duplo na UE, em relação aos EUA por exemplo, porque além da economia também a sua identidade será atingida. "Seria possível esperar que, dada a gravidade da crise e as suas repercussões psicológicas, viessem a ser postos profundamente em discussão dois pilares fundamentais da construção comunitária, muitas vezes vividos como constrangimentos mesmo em tempos não de crise: o Pacto de Estabilidade e Crescimento, que preside à moeda única; e as normas sobre a concorrência e as ajudas do Estado, que presidem ao mercado único. Nesse sentido, a declaração dos Quatro parece equilibrada, entre as razões da excepcionalidade do momento e a tutela da União Económica e Monetária", escreve Monti.