APÓS A NOITE

GUILHERMINA, APÓS A NOITE

Um bar tinha entreaberta uma porta de madeira pintada de amarelo. Atravessei de um passeio para o outro e abri mais a porta de modo a caber por aí o meu corpo. Um bafo quente de álcool e fumo acolheu-me de imediato. Arrepiei-me com a diferença de temperatura. As mesas ainda tinham copos sujos e cinzeiros cheios, e eu sentei-me mesmo ao balcão. Foi um homem que me cumprimentou e atendeu. Quando desviei a cara para espirrar, dou comigo reproduzida num pequeno espelho pendurado numa parede a publicitar no centro a marca de uma bebida. Nas olheiras bem fundas enterram-se os olhos doridos. Vi ainda o cabelo todo escorrido a cair colado ao pescoço. Levei o dedo indicador ao rosto e puxei uma das pálpebras para baixo, como se pudesse decifrar dali a cor da pupila. A boca estava seca, os lábios cheios de cieiro.

– Um café quente, por favor.

Fátima Pombo
(n. 1964)
Guilhermina Suggia ou O Violoncelo Luxuriante
(Fundação Eng. António de Almeida, 1993)
Publicada por moço em 5:11 PM