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Terrorismo de olhos azuis

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Mensagem por Vitor mango Seg Ago 01, 2011 12:37 am

Terrorismo de olhos azuis
Estigmatizar é classificar de forma pejorativa o outro.

Por José Flávio Sombra Saraiva
PhD pela Universidade de Birmingham, Inglaterra, professor titular de Relações Internacionais da UnB

Estigmatizar é classificar de forma pejorativa o outro. Estigmatizar é manobra engendrada pelo mundo anglo-saxão em relação ao mundo islâmico, de forma nefasta, nos estertores da matança ocorrida no dia 11 de setembro de 2001. As novas Cruzadas, conduzidas pela direita radical dos Estados Unidos e da Europa, estigmatizaram o que não cabia nos seus figurinos nacionalistas, ocidentais e desafiadores dos muçulmanos. Inventaram inimigos que não existiam.

As respostas dos falcões norte-americanos aos ataques das torres do World Trade Center — que contou com a compaixão natural de qualquer ser humano diante da tragédia ocorrida em solo dos Estados Unidos — criaram um mostro ainda mais perigoso que a loucura dos ataques de 10 anos atrás. Esse monstro se intitula a banalização do terror, quando a razão política sucumbe.

O perigo reinventado pelos conservadores norte-americanos, com a aquiescência de britânicos, russos e de lideranças políticas de países outros da Europa, foi o estigma do terrorismo. O terrorismo passou a ser uma categoria analítica elíptica, religiosa e geograficamente localizada. Elíptica, uma vez que não há uma definição universal. É definida pelo ir e vir dos interesses que criam ideias e conceitos radicais contra os que são diferentes de nós.

Religiosa, conquanto o inimigo pode ser identificado naqueles que habitam, em várias partes do mundo, particularmente no Oriente, identificados com os princípios da fé islâmica. E geograficamente localizada no Oriente Médio, no norte da África, na África oriental, na Ásia pré-Urais, nas grandes nações da Ásia mais extrema, como quadrantes loucos dos tais "fanáticos" que habitam as terras do Paquistão à Indonésia e nas províncias da China longeva.

Teóricos do terrorismo estigmatizado apontaram o dedo em riste contra a antiga filosofia e religião do Alcorão, bem mais antiga que o protentantismo wasp (white, anglo-saxon and protestant) e tão moderada, em sua vertente majoritária, quanto as matrizes que alinham os cristãos leitores da Bíblia em todas as partes do mundo.

O problema central está posto, bem como suas consequências práticas para o início do século XXI. A filosofia belicosa do ataque aos diferentes — na teoria caudatária do choque das civilizações, inventada pela inteligência norte-americana para substituir os cânones ultrapassados da guerra fria — levou o mundo à luta do terrorismo contra o terrorismo. Colhe o mundo essa marcha da insensatez. Com alguma licença histórica, faz lembrar o terrorismo que abriu, em 1914, um lamentável ciclo belicoso e nacionalista na Europa em agonia e guerras civis que levaram ao declínio europeu na ordem internacional do século XX.

A tristeza das famílias norueguesas que choram nesses dias sobre os caixões de seus filhos pode levar a falsa conclusão. Alguns podem até pensar que o Islã tem algo a ver com os devaneios do terrorista de olhos azuis. Mas nada tem a ver os fatos de Oslo com o Islã nem com os imigrantes muçulmanos na Europa.

Nada justifica a loucura do terror impetrado pelo senhor Anders Behring Breivik. Tampouco se pode conceber que o messianismo anglo-saxão, também de base religiosa, de matriz weberiana, seja a reencarnação das antigas Cruzadas.

Assistimos, no mundo de hoje, a movimentos de cruzadistas contra a sensibilidade, a atacar a riqueza da diversidade humana construída pela humanidade. Esses loucos estão em todo canto, no Norte e no Sul, no Leste e no Oeste. Eles prosperam na área obscura do estranhamento psicótico e na propaganda irresponsável contra o mundo que vivemos: belo por ser sincrético, global, integrado, misturado em cor e forma, na beleza que nos faz humana a face que sorri.

A África e o Oriente Médio, que assistem nesses dias de 2011 a uma quadra difícil, não são escolas de terrorismo. Não foram essas lições dos jovens tunisinos, nem dos que movem Damasco em favor de regimes políticos mais modernos. A África e o Oriente Médio estão tentando avançar sociedades mais representativas da diversidade, anseiam por governantes mais modernos e defendem a inclusão social, como demonstraram os jovens da praça da esperança, no Cairo rebelde, mas não terrorista.

Terroristas de olhos azuis são tão terroristas como os terroristas dos ataques do dia 11 de setembro de 2001. O mundo não lhes pertence. E não merecemos doutrinação contra os seguidores de Maomé, mesmo que embalada em forma de projetos egoísticos, nacionalistas e defensivos da Europa em crise.

Fonte: Correio Braziliense, 31/07/2011

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