A "estratégia"
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A "estratégia"
A "estratégia"
Hugo Mendes
Diz-se que o Governo parece uma barata tonta e que, em desespero de causa, não tem outra opção que não passe por aumentar impostos para cumprir o memorando da troika.
Há uma outra hipótese. Bem sei que a minha intuição é sinuosa e improvável, mas dada a invulgar concentração de massa cinzenta em São Bento e arredores, não é de menosprezar o maquiavelismo, mesmo que de algibeira. Talvez exista uma "estratégia", que tem dois momentos:
Momento A
Violam-se todas as propostas eleitorais sobre a consolidação orçamental do lado da receita. Aumentam-se tudo o que mexe: IVA, IRS, IRC, inventam-se taxa e impostos, a tal estratégia da incompetência socialista. Avança-se com o corte nos benefícios fiscais, medida quem projectada no passado, fazia parte de um vergonhoso saque à classe média. Corta-se despesa pública que, afinal, em vez de alimentar a obesidade do monstro, serve o dia-a-dia da maioria dos cidadãos (transportes, medicamentos, etc.). A Taxa Social Única, a bala mágica da competitividade, o tal game changer de Moedas, estudada e testada e validada por grupos de trabalho com meses de estudo sobre o assunto antes das eleições legislativas, afinal é uma incógnita, e Gaspar tem medo que não provoque outra coisa que não seja um enorme buraco orçamental.
Resultado: o país que acreditou no discurso político de PSD e CDS do último ano e meio, e que se revelou ser um colossal embuste, espuma de raiva (e com razão). Ouve-se: "afinal são iguais aos outros"; "são piores, andaram a enganar o povo", etc.
Momento B
Deixa-se acumular a pressão dentro panela até o máximo possível; depois, retira-se a tampa no momento exacto. Quando chegar o momento dos cortes - e ele chegará, não há dúvidas -, a parte do país enganado e enraivecido aplaudirá os cortes desesperados e violentos (provavelmente tão desesperados e violentos como os aumentos de impostos dos últimos 2 meses). "Até que enfim!"; "é bem feita!"; "estava a ver que não chegava a vez dos funcionários públicos!", "já chega de sermos sempre nós a pagar com mais impostos", "acabem com esses servedouros", etc..
Moral da "estratégia": a esperança do Governo é capitalizar o ressentimento de milhões de contribuintes que enganou nestes 2 meses.
Hugo Mendes
Diz-se que o Governo parece uma barata tonta e que, em desespero de causa, não tem outra opção que não passe por aumentar impostos para cumprir o memorando da troika.
Há uma outra hipótese. Bem sei que a minha intuição é sinuosa e improvável, mas dada a invulgar concentração de massa cinzenta em São Bento e arredores, não é de menosprezar o maquiavelismo, mesmo que de algibeira. Talvez exista uma "estratégia", que tem dois momentos:
Momento A
Violam-se todas as propostas eleitorais sobre a consolidação orçamental do lado da receita. Aumentam-se tudo o que mexe: IVA, IRS, IRC, inventam-se taxa e impostos, a tal estratégia da incompetência socialista. Avança-se com o corte nos benefícios fiscais, medida quem projectada no passado, fazia parte de um vergonhoso saque à classe média. Corta-se despesa pública que, afinal, em vez de alimentar a obesidade do monstro, serve o dia-a-dia da maioria dos cidadãos (transportes, medicamentos, etc.). A Taxa Social Única, a bala mágica da competitividade, o tal game changer de Moedas, estudada e testada e validada por grupos de trabalho com meses de estudo sobre o assunto antes das eleições legislativas, afinal é uma incógnita, e Gaspar tem medo que não provoque outra coisa que não seja um enorme buraco orçamental.
Resultado: o país que acreditou no discurso político de PSD e CDS do último ano e meio, e que se revelou ser um colossal embuste, espuma de raiva (e com razão). Ouve-se: "afinal são iguais aos outros"; "são piores, andaram a enganar o povo", etc.
Momento B
Deixa-se acumular a pressão dentro panela até o máximo possível; depois, retira-se a tampa no momento exacto. Quando chegar o momento dos cortes - e ele chegará, não há dúvidas -, a parte do país enganado e enraivecido aplaudirá os cortes desesperados e violentos (provavelmente tão desesperados e violentos como os aumentos de impostos dos últimos 2 meses). "Até que enfim!"; "é bem feita!"; "estava a ver que não chegava a vez dos funcionários públicos!", "já chega de sermos sempre nós a pagar com mais impostos", "acabem com esses servedouros", etc..
Moral da "estratégia": a esperança do Governo é capitalizar o ressentimento de milhões de contribuintes que enganou nestes 2 meses.
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