O desejo de Nathan
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O desejo de Nathan
O desejo de Nathan
minha vizinha, Miss Sandy, é reabilitadora de aves de rapina, ou seja,
toma conta de aves feridas, como corujas e falcões, até elas serem
capazes de voar de novo.
Todos
os dias, vejo-a misturar medicamentos, distribuir comida e limpar as
grandes gaiolas que tem no pátio. Por muito cansada ou ocupada que
esteja, Miss Sandy tem sempre tempo para falar comigo acerca dos
pássaros.
O
meu maior desejo era poder andar sozinho para poder ajudá-la nas
tarefas, em vez de estar apenas a observar. Mas, como tenho paralisia
cerebral, os meus músculos não têm força suficiente para que eu ande sem
cadeira de rodas ou andarilho.
Certo
dia, Miss Sandy mostra-me uma coruja-das-torres, que tem uma asa
partida. Embora a asa esteja dentro de uma tala, a coruja tenta escapar
debatendo-se contra as paredes da caixa de madeira onde foi colocada.
— Vai ter de ficar aqui até a asa sarar — diz Miss Sandy. — Que nome achas que lhe devemos dar, Nathan? — pergunta-me.
Os olhos brilhantes e amarelos da coruja faíscam, zangados.
— Que tal Fogo? — proponho.
— Parece-me um bom nome — concorda Miss Sandy. — Espero que em breve a Fogo acalme.
Contudo,
em cada dia que passa, a Fogo continua a lutar para ser livre e
preocupo-me que se magoe de novo. Finalmente, Miss Sandy tira a tala da
asa e coloca a coruja numa gaiola.
— A Fogo precisa de exercitar a asa — explica-me.
À
medida que as semanas passam, a asa torna-se cada vez mais forte e a
Fogo é colocada numa gaiola maior. Por vezes, ignora os ratos mortos que
Miss Sandy lhe traz e prefere perscrutar o céu. Percebo que gostaria de
caçar a sua própria comida.
— Quanto tempo falta para ela poder voar de novo? — pergunto, um dia.
— Uma asa partida demora muito a ficar curada — respondeu Miss Sandy. — Pareces tão impaciente quanto ela, Nathan!
E
estou. Estou ansioso que a Fogo seja de novo livre. Quando estou na
escola e vejo um pássaro a voar lá fora, penso na Fogo e deixo de ouvir o
professor.
À noite, quando oiço um grito estridente vindo do pátio, pergunto-me se a Fogo estará a chamar os amigos.
Um dia, vejo a gaiola dela vazia. Miss Sandy colocou-a numa pequena caixa que segura nas mãos.
— Vou pô-la na gaiola de voo, para ver até onde consegue ir — explica-me.
Enquanto
a sigo, oiço o coração a bater nos meus ouvidos. Se a Fogo voar bem,
Miss Sandy irá libertá-la hoje! Sustenho a respiração enquanto ela vira a
caixa gentilmente, de forma à coruja pousar no chão da gaiola. A Fogo
dá um salto e voa, forte e bonita.
Contudo,
de repente, inclina-se para o lado e começa a descer. Embora tenha os
olhos bem fechados, consigo ouvir o baque suave da sua aterragem
desajeitada. E quando abro os olhos, vejo Miss Sandy a abanar a cabeça.
Dou-me conta, de repente, de que a Fogo nunca será libertada. Não tem a
asa suficientemente forte para sobreviver na floresta.
— Pobre Fogo — lamenta Miss Sandy. — Queria tanto ser livre!
Viro-me para que ela não veja as lágrimas no meu rosto. Sei muito bem o que é ter um desejo que não se pode realizar.
Depois desse dia, a luz dos olhos da Fogo apaga-se. Recusa a comida e nem sequer tenta sair da gaiola.
— Por favor, não desistas! — sussurro-lhe.
Mas ela continua imóvel como uma estátua, em cima do poleiro.
Deve
haver uma forma de ajudar esta coruja. Procuro, no computador,
informação sobre aves feridas. Deparo com um corujão-orelhudo quase cego
que toma conta de corujinhas órfãs até estas terem idade para serem
libertadas. Talvez a Fogo consiga fazer o mesmo. Imprimo a informação e
mostro-a a Miss Sandy, que diz:
— Vale a pena tentar. Tenho três crias que ficaram órfãs na tempestade da semana passada.
Miss
Sandy põe as três crias na gaiola da Fogo. As corujinhas balançam as
cabecinhas e emitem uns pios engraçados. Mas a Fogo não parece
interessada em crias esfomeadas ou no que quer que seja.
Como
não suporto vê-la tão infeliz, decido ficar em casa alguns dias, cheio
de tristeza por ela e por mim. Uma noite, Miss Sandy toca à nossa porta e
entra de rompante.
— Vem comigo, Nathan! — pede. — Tens de ver a Fogo!
Antes
de me aperceber do que está a acontecer, já Miss Sandy conduz a minha
cadeira aos tropeções até casa dela. Finalmente, estaciona-me junto da
gaiola da Fogo.
— Olha! — sussurra.
Nem
posso acreditar no que vejo. A Fogo pega num pedaço de carne que estava
no chão e leva-o, aos saltos, até à gaiola-ninho, onde o depõe no bico
de uma das crias. Embora o seu desejo de ser livre não possa
realizar-se, a coruja encontrou algo de importante para fazer. E isso
dá-me uma ideia!
No
dia seguinte, vou até casa de Miss Sandy e olho para o pátio. Posso não
poder andar sozinho, mas vou encontrar uma forma de a ajudar nas suas
tarefas! Sei que os baldes são demasiado pesados; contudo, posso encher
as tinas de banho das aves com a mangueira. Demoro bastante tempo a
desdobrá-la e a arrastá-la até cada uma das gaiolas. Mas não desisto até
as tinas estarem todas cheias.
Quando
vejo a carrinha do correio a aproximar-se, vou até ao fim da alameda e
recebo a correspondência para Miss Sandy. Enfio as cartas no bolso do
meu casaco e levo-as até casa dela. Quando são horas de alimentar os
pássaros, ofereço-me para ficar no escritório a atender os telefonemas. O
telefone toca quatro vezes e anoto os recados.
Antes de ir-me embora, Miss Sandy abraça-me e diz:
— Ajudaste-me muito hoje, Nathan.
Fico corado e baixo a cabeça. Mas sorrio. Agora sei o quão orgulhosa a Fogo se sente!
Laurie Lears
Nathan’s wish: a story about cerebral palsy
Illinois, Albert Whitman & Co, 2005
(Tradução e adaptação
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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