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Maria Filomena Mónica: "Em última análise, faço sempre o que quero"

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Maria Filomena Mónica: "Em última análise, faço sempre o que quero" Empty Maria Filomena Mónica: "Em última análise, faço sempre o que quero"

Mensagem por Vitor mango Qua Jan 11, 2012 4:00 pm

Maria Filomena Mónica: "Em última análise, faço sempre o que quero"


Publicado em 07 de Julho de 2009








Maria Filomena
Mónica diz que com a idade está a perder a raiva, porque a raiva cansa
muito. Mas continua a fazer e a dizer tudo o que lhe apetece
















Maria Filomena Mónica: "Em última análise, faço sempre o que quero" 0000047259































A socióloga odiada pelos queirosianos acabou de publicar uma nova
versão da biografia de Eça, oito anos depois da primeira edição. Maria
Filomena Mónica, a mulher do "Bilhete de Identidade", recebe o i
na casa de onde quase nunca sai - tirando às segundas-feiras para ir à
farmácia e ao supermercado - um rés-do--chão na Lapa, em Lisboa, com
vista para um jardim extraordinário, infelizmente propriedade do vizinho
de cima. Diz que agora vê com mais nitidez os defeitos de Eça de
Queirós: era instrumental com os amigos. É implacável, embora diga que
isso faz parte da sua pose. Culpabiliza-se com facilidade, mas em última
análise só faz o que lhe apetece.

O Eça não era um santo, mas no princípio apaixonou-se completamente?
Apaixonei-me
primeiro pelos romances, depois pelo jornalista e depois pelo homem. E
não é bom fazer-se uma biografia em fase de êxtase completo. Para além
da parte artística, fui desde logo muito sensível à lucidez e à
inteligência do homem. Passados oito anos, já consegui distanciar-me
mais, ver quais eram os defeitos. O principal está no domínio dos
afectos. Era muito instrumental, só gostava de quem precisava, em última
análise não gostava de ninguém. Em relação às mulheres, o facto de ele
ter fugido à Anna Conover, que foi a maior paixão da vida dele,
demonstra que não tinha confiança em si. Não era capaz de enfrentar uma
relação com uma mulher emancipada. Fugiu a sete pés.

Era um machista?
Não
era machista, nem mesmo misógino. A ortodoxia é que diz que o Eça era
machista e misógino. Nos romances, ele retratava as mulheres como seres
inferiores. Acontece que, sociologicamente, as mulheres eram seres
inferiores, não tinham educação. Ele dá um retrato da sociedade. Muito
me espantaria que aparecessem nos romances dele Luísas ou Marias
Eduardas que fossem capazes de citar o Shakespeare de cor, ou o Camões,
ou o Sá de Miranda. Porque é que ele não era machista? Quando ficou
noivo da Emília de Resende, que era uma aristocrata do Norte, ela
pergunta-lhe se pode escrever a um rapaz chamado Sandeman, daquela
família inglesa do Porto. E ele responde-lhe que pode escrever a quem
lhe apetecer. Até ficou escandalizado com a pergunta! Se fosse o
Ramalho, ou a maior parte dos amigos dele, imagino que diriam às noivas
"não, não podes" ou "ainda bem que me perguntas, vou-te dar
autorização". Na relação com a noiva não era nada machista.

Diz que o Eça usava os amigos de forma instrumental. Usava Ramalho?
O
Ramalho tratava-lhe das edições, das provas. "Já reviste? Vê lá o que é
que fazes!" O Ramalho e o Antero achavam que "O Crime do Padre Amaro"
era imoral. E é imoral, para a época é um livro muito forte. Se
pensarmos que a publicação de "Madame Bovary" foi proibida, Portugal era
tão liberal para a altura que deixou publicar "O Crime do Padre Amaro"!
O Ramalho sempre tratou de problemas práticos. O mais amigo era o Jaime
Batalha Reis, com quem o Eça viveu uma temporada. Batalha Reis
manteve--se sempre muito amigo, muito fiel. Faz--me pena que o Eça se
tenha portado mal no concurso para a carreira diplomática. A ideia de
concorrer tinha sido do Batalha Reis, mas o Eça aproveitou a ideia,
meteu uma cunha antes do Jaime Batalha Reis e não lhe disse nada. Ele
ficou meio amuado e com razão. Mas mantiveram-se amigos.

E aquela outra miséria, quando Eça exige ser pago para não publicar um texto?
É
chantagem! Achei a ideia genial. Claro que era moralmente abjecta.
Imaginem eu agora ir dizer ao Eng. Sócrates: "Tenho aqui um romance
sobre a sua vida mas se me der 30 mil contos abandono a ideia e não
publico." Claro que isto não se faz. Ele foi dizer ao Ramalho, mais uma
vez instrumental: "Fala aí com Andrade Corvo - que era o ministro dos
Negócios Estrangeiros -, tenho esta ideia, Portugal vai ser invadido
pela Espanha, mas se ele não quiser, dá-me o dinheiro que eu ganharia
com o livro e não publico ?A Batalha do Caia?. O Ramalho disse--lhe:
"Não estás bom da cabeça." É uma ideia moralmente abjecta, mas muito
engraçada.

Tem tido uma guerra com os queirosianos. Porquê?
Eles começaram a fazer-me guerra.

Mas guerra como?
Tem
a ver com as carreiras, luta-se por um poder muito pequenino. Os
queirosianos vivem do Eça, é como se fossem sanguessugas. O Eça é a
razão de ser da carreira e da promoção deles. Tenho a sorte de não
pertencer a uma faculdade de letras. Fiz Filosofia, saltei para
Sociologia, e agora faço história e de vez em quando escrevo biografias.
Não preciso do Eça para subir na carreira. Para começar, já estava no
topo, a liberdade era total. Comecei a perceber quando fui a uma
conferência nos Estados Unidos, no centenário do Eça em 2000. Havia 40
portugueses que não tomavam o pequeno-almoço comigo, que não se sentavam
ao meu lado no autocarro, que não me falavam. Achei aquilo estranho.
Mas quem é esta gente? Depois, havia um professor da Faculdade de
Letras, o António Feijó, que me disse: "Mas ainda não percebeste?
Estás-lhes a roubar o território" Aquilo é território murado, é o
território deles. E o professor americano depois explicou-me que quando
me convidou por causa da biografia do Eça teve imediatamente cartas de
alguns queirosianos a dizer que o Instituto Camões não me devia pagar o
avião. Isto disse- -me o americano, que respondeu que se o Instituto
Camões não pagasse, a universidade americana pagaria. Não sabia nada
disto quando fui, só quando cheguei aos Estados Unidos é que verifiquei
que era uma persona non grata.

Mas quem são esses queirosianos?
Basicamente,
é o Carlos Reis. É catedrático de Coimbra e agora é reitor da
Universidade Aberta. E é autor do mais ridículo programa de Português
que eu li em dias da vida. As criancinhas entre o 1.o ano e o 9.o ano
vão ter de ser sujeitas a um programa de Português que é uma aberração
total e completa. Os outros são assistentes dele. Como ele é
catedrático, os outros têm medo de falar comigo, porque se na América os
vissem a tomar o pequeno-almoço comigo, depois não iam a professor
auxiliar.

O Eça é autobiográfico? Conta na biografia uma cena
num baile de máscaras, que se passou com o Eça quando andava com uma
mulher casada, que é exactamente igual a uma cena de João da Ega em "Os
Maias"...

Ele aproveita muito o real, é um observador espantoso,
mas não é um escritor confessional. Não é como eu, que uso a palavra
"eu" em cada duas frases. Ele, de resto, diz "eu não tenho biografia,
sou como a república de Andorra, não tenho passado". Teria ficado
furioso se tivesse lido a minha biografia. Não queria que falassem da
sua vida, queria que falassem da sua obra. Mas era um poseur. Metade das
cartas dele não podem ser entendidas à letra. Quando escreve ao
Oliveira Martins a dizer que "Os Maias" é um romance falhado, o que quer
é pedir uma recensão crítica. Essa cena das máscaras e muitas das cenas
de "Os Maias" são coisas a que assistiu. Já se dava naquela altura com a
grande sociedade portuguesa.

O Eça é o João da Ega?
O
Ega é o Eça se não tivesse saído de Portugal. Se tivesse cá ficado,
tinha-se transformado num geniozinho engraçado, mau, sarcástico,
parecido com o Ega e um falhado. Ele teve um pressentimento de que isso
iria acontecer. O Ega é o bobo da corte que o Eça teria sido se cá
ficasse. O Eça tinha horror a esse Portugal ignorante, beato e pobre.
Isso é um sentimento que me é familiar, uma pessoa sentir-se aqui
enclausurada.

Ainda sente essa claustrofobia?
Muito
menos. Em parte pela idade. Estou cansada de ter raiva, a raiva exige
energias. Cansa imenso! Depois, porque deixei de ver televisão. Só vejo
DVD e os primeiros 10 minutos do telejornal para ver se aconteceu alguma
coisa. Disse na entrevista à Alexandra Lencastre que só saio à
segunda-feira. E é verdade! À segunda-feira vou à farmácia e ao
supermercado, terça, quarta, quinta, sexta e sábado estou em casa, no
domingo estou com os netos.

Não sai para tomar café?
Não
tomo café, sou hipertensa. Para o bem ou para o mal vejo pouco os meus
amigos, tenho dois ou três, também os vejo só para aí três vezes por
ano. Isso faz-me um bocadinho pena, ver pouco os meus amigos. Tenho
alguns amigos estrangeiros e aí o email abriu-me o mundo. Retomei agora
uma amizade com um amigo israelita...

... que foi seu namorado?
Sim,
mas namorado só durante uma semana! (risos) É bom quando se resolvem
essas coisas da carne logo ao início e depois fica-se amigo!

No "Bilhete de Identidade" fala muito do atrofiamento nacional, da educação claustrofóbica...
No
meu caso, era exagerado pelas particularidades da minha mãe, que tinha
sido alta dirigente da Acção Católica com o pelouro da juventude. Depois
de ter andado a dizer em artigos de jornal como é que se deviam educar
os filhos e sair--lhe esta na rifa, azar o dela! Mas nós até temos
coisas muito parecidas. Era muito trabalhadora, muito obsessiva como eu
sou. Entre mim e a minha irmã não há nada mais diferente. Nós somos
quatro, todos eles deixaram de me falar. Eu para zangas estou por aí...
[risos]

Não voltaram a falar-se?
Os três deixaram de me
falar e não foram ao lançamento. A Isabel, no Natal quando a minha mãe
estava a morrer, disse--me: "Não sou capaz de estar zangada contigo!" E
trouxe-me um livro todo corrigido por ela à mão. "Agora fazes uma
segunda edição com todas as emendas!" Era outro livro! Só uma ingénua
poderia imaginar que eu iria introduzir aquelas emendas! Os outros dois
mantiveram-se zangados.

O problema era a questão da sua mãe?
A
questão da minha mãe, a questão de eu expor o ter cometido adultério,
embora o meu marido cometesse adultério todos os dias e mais algum. Eu
nem sou promíscua, até sou muito monogâmica! Tive três maridos, mas
quando sou casada sou muito fiel. Mas acho que foi o facto de a minha
mãe ter puxado ao máximo para nos casarmos nas famílias de topo e eu ter
dito isso. O facto de o meu bisavô ter sido lavrador não é nenhum
pecado, até funciona a nosso favor, quer dizer que subimos na vida. Mas
para eles é mau. As únicas pessoas que eu teria tido um enorme desgosto
se tivessem ficado zangadas ou tristes eram os meus filhos,
especialmente o meu filho. E não ficaram.

Nunca mais voltou a falar com Vasco Pulido Valente?
Não. Como ele também não sai de casa...

Mas ele ficou mesmo magoado?
Acho
que ele não tem razão! Um dia vamos ter de falar sobre isso, espero que
sim. Não quero falar mais sobre o Vasco, já dei lenha de mais para essa
fogueira. Eu almoçava com o Vasco todas as quartas-feiras. E almocei
com ele na véspera do lançamento. Ele sabia há cinco anos que eu estava a
escrever as memórias. Não pediu para ler, nem eu as deixaria ler. Mas
não é uma pessoa que de repente soube que ia haver um livro. Se houve
alguém de cuja reacção eu tive medo foi do meu primeiro marido, e dos
meus filhos, como já disse.

Ele reagiu bem?
Reagiu
lindamente. A minha percepção é estranhíssima. Achei, curiosamente, que
dava uma imagem do Vasco como eu o vejo? Eu adoro o Vasco! Falo dele com
uma enorme ternura, foi uma pessoa importantíssima na minha vida, por
quem eu tenho a maior das admirações! Até achava que o meu actual marido
é que ia ter ciúmes do Vasco!

O António Barreto não queria que falasse dele no livro?
Não
o conhecia! O livro termina em 1976, não conhecia o António. Uma das
razões por que não escrevo o segundo volume nem é tanto por causa do
António Barreto. Em última análise, faço sempre o que quero. Nem a minha
mãe me proibiu, nem há marido que me proíba. Se quiser mesmo uma coisa,
e achar que a devo fazer, faço. Mas não faço porque de todas as
autobiografias que li as interessantes são as do período formativo.

A ideia que temos de si é que é uma mulher absolutamente segura...
[Silêncio].
Fiz uma pose, como o Eça. Fiz uma pose arrogante, segura, forte e
implacável, mas não sou nada disso. Carências afectivas, é à menor
oportunidade. "Ninguém gosta de mim, no fundo", "eu devia estar a fazer
outra coisa que não estou a fazer." Isto é a culpabilidade. Se a minha
filha me pede, como aconteceu no sábado passado, para ficar com os
miúdos e eu não posso, acho que sou a pior avó do mundo e a pior mãe do
mundo. É muito fácil explorar-me! Sei que sou assim, que sob esta
aparência sou um vaso chinês com uma falha sísmica. Nunca fui a um
psiquiatra porque sou capaz de falar disto, porque isso me ajuda, falar
com os amigos.

Costuma ridicularizar a psiquiatria?
Acho
que não vale a pena. O que a psiquiatria fez às pessoas que conheço foi
tirar-lhes o sentimento de culpa. Acho que as pessoas devem ter
sentimentos de culpa quando se portam mal! Alguém que não toma conta de
uma mãe doente? Tive a minha mãe doente durante 11 anos e, mesmo com a
má relação que tinha com ela, achei que era meu dever tratar dela até ao
fim! Nos últimos oito anos, deixou de me reconhecer. Eu era a mais
velha, a minha irmã Isabel tinha o marido doente com um cancro, os
outros dois eram miúdos - miúdos para mim, nessa altura tinham 40 anos.
Achava que tudo dependia de mim. Mas cada vez que ia para Oxford
trabalhar ia com uma culpabilidade que nem lhe conto nem lhe digo e
arranjei problemas físicos relativamente graves. Isto para dizer que não
sou tão forte quanto pareço.

Ainda é de esquerda?
Sou.
Se tivesse tido outra educação, provavelmente era de direita. Como fui
criada na direita, continuo a pensar que a direita portuguesa é
totalmente subserviente em relação ao poder político, completamente
inculta, não cosmopolita, e socialmente a maior parte das pessoas da
direita nunca foram para além de Elvas. O fundamental para mim é a
liberdade e a direita portuguesa não preza a liberdade. Pode
perguntar-se: e a esquerda preza? Provavelmente, a esquerda é inculta,
nunca foi para além de Elvas, tem os mesmos traços mais ou menos...

Não há nenhuma questão ideológica?
É
uma questão de eu ter sido muito marcada pelo salazarismo e pela Igreja
Católica. O facto de ser ateia liga-me mais à esquerda. Sou a favor do
aborto e da eutanásia. Já fiz testamento vital há cerca de seis anos e
quero que seja respeitado. Já o dei aos meus filhos e ao António. Não
quero que me prolonguem a vida. Isso também me afasta da direita. Nunca
fui de esquerda por acreditar no maoísmo ou na ditadura do proletariado.
Achava que os valores do liberalismo clássico eram de esquerda e o
Salazar era um homem da direita. Vivi até aos 31 anos sob uma ditadura,
para mim a liberdade é um valor de esquerda.

E vota no PS?
Sempre
votei PS, até em 1975. Chorei que nem uma Madalena porque achava que o
Soares era um burguês nojento. Apesar de tudo, tinha medo do PCP.

E agora vai votar em José Sócrates?
Não voto mais.

Quando deixou de votar?
Desde
as últimas. Disse que nunca mais votava enquanto os dois principais
partidos não fizeram a reforma eleitoral que prometeram. Sou contra a
eleição por listas, não sei em quem estou a votar. Parte da mediocridade
do que se passa no Parlamento deriva da impossibilidade de nós votarmos
numa pessoa. Provavelmente, irei votar nas locais, para afastar o
Santana Lopes.

Vai votar em António Costa?
Sim.
Prefiro o António Costa ao Santana Lopes, embora o Santana Lopes me
divirta muito mais. Mas ele só me diverte quando está fora do poder, no
poder é um irresponsável.

E o que pensa de José Sócrates?
É
um rapaz da província que subiu na vida à custa da esperteza e de muito
pouco trabalho. Assinou projectos arquitectónicos que não eram dele...


Ele negou, assumiu a autoria...
Fiquei com a impressão
de que tinha assinado projectos que não eram dele. Mentiu, recentemente,
no negócio da PT. Tem um percurso de opacida

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Maria Filomena Mónica: "Em última análise, faço sempre o que quero" Batmoon_e0
Vitor mango
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