Saber apertar e saber recusar o aperto
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Saber apertar e saber recusar o aperto
Saber apertar e saber recusar o aperto
Não há códigos universais. Só quem desconhece ou despreza os códigos dos outros se pode surpreender com coisas destas.
O Ocidente tem de reaprender a viver com as diferenças civilizacionais e
não ousar ensinar os outros a macaquear fórmulas nossas, importantes
para nós, mas que para outros não passam de ofensas. Certamente que na
aldeia global dos propagandistas da pseudoformose exigida pelos Zakaria e
pelos BH Levy's - com bombas e corpos expedicionários, se necessário -
um aperto de mão, um afago na cabeça de uma criança, umas patorras em
cima de uma mesa, um beijo, uma conversa sobre doenças ou dinheiro; tudo
isso faz parte da civilização. Ora, para os outros que não são como
nós, coisas dessas são tidas como exibição de grosseria. Durante muito
tempo - demasiado tempo - não nos preocupamos e eles fingiam, calavam ou
disfarçavam o mal-estar. Agora, isso acabou. Ao longo dos anos em que
vivi na Tailândia, apercebi-me que os europeus (pomposamente chamados
expatriados, pois recusam a palavra emigrante) ali faziam tudo, sem
nunca se preocuparem em abrir um vulgar dos and dont's. No fundo,
esses insignificantes sátrapas - que semanalmente nos surgem na tv num
programa inqualificável que dá pelo nome de Portugueses pelo Mundo -
julgam que estar num país é conhecer um outro mundo: o portugês que leva
como prenda uma garrafa de vinho ao casal marroquino amigo, o
"expatriado" que em Israel exige que os seus convidados comam a
chouriçada na brasa, o europeu que obriga o chinês a comer o coelho à
caçadora,ou aquele outro - vi com os olhos que a terra há-de comer - que
insistia em falar sobre as intimidades da família real aos tailandeses;
tudo isso faz parte do reportório infindo de patetices que acaba por
sair caro à nossa imagem de ocidentais. Já nem falo, claro, da imposição
dos horários e dos regimes laborais, do dia de descanso, do tipo de
regime político, da exigência de leis sobre o divórcio, da contracepção,
das regras de urbanismo, dos modelos de ensino, da ideia de natureza,
da maioridade legal, do "trabalho infantil", da "idade legal para o
casamento", dos prémios de produtividade e dos 13.º e 14.º vencimentos,
dos "rendimentos mínimos garantidos", das objecções de consciência...
uma lista que nos ocuparia em fastidioso elencar de diktats.
Ontem, no Trio de Ataque, um desses debates descabelados que bem podiam
ser substituídos por uma hora de música clássica, um dos vociferadores
terminou o estendal canoro falando dos "países civilizados",
referindo-se à Europa e aos EUA, contraponto de "países bárbaros" como o
Irão, a Índia, a China e, por que não, à Rússia. Esquecia-se o bípede
que o Irão carrega 4000 anos de civilização às costas, a China 5000 e a
Índia para mais de 8000. Os europeus - ou o que deles sobra nesta
brilhante civilização do consumo e dos patetas engalanados com as
"regalias" e os "direitos" - não se dão conta que o melhor que poderiam
fazer, enquanto é tempo, seria reaprender um pouco o papel de pastores
do ser, enterrar bem fundo as engenharias e os experimentalismos,
readquirir um pouco a contenção e sobriedade da Europa anterior ao
capitalismo e - já é pedir demais - pedir umas esmolas de
espiritualidade à nossa Idade Média.
Publicada por
Combustões
em
4.9.12
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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