A agenda perdida

A agenda perdida

Fernando Sobral
fsobral@mediafin.pt


O PSD inaugurou uma nova forma de ser oposição. Não cerca o Governo. Ao contrário, a sua direcção está cercada. Pelo Governo e pelos opositores internos. A entrevista de Manuela Ferreira Leite à TVI dissipou as últimas dúvidas que pudessem existir sobre a questão.


A líder deixou, e bem, de ser um martelo pneumático como o seu antecessor, que ensurdecia o País, o seu partido, e as suas próprias ideias. Mas mostra que, ao substituir o martelo pneumático por uma batedeira eléctrica, ninguém dá por ela. Com Manuela Ferreira Leite, o PSD pede desculpa por ser oposição. O PSD vive, nas palavras da líder, de forma dramática o Orçamento e a crise económica. O povo prefere seguir, de forma mais trágica, o problema da Euribor, do desemprego e do desempenho da selecção nacional. Quando Manuela falou da "ilusão" que é o Orçamento, deveria ter, sobretudo, falado da economia real. Quando, em 4 meses, fecham na região de Barcelos 14 empresas, que atiraram 4 mil pessoas para o desemprego, o que dói aos portugueses não é a tentação "despesista" do Governo. O pior da prestação de Manuela foi a incapacidade de mostrar que a sua agenda está em dia. Um assunto que motiva os lisboetas é saber se Santana Lopes, insinuando a candidatura, será opositor de António Costa. Manuela diz que isso não faz parte da sua agenda. Errado: faz. Manuela é que, muito provavelmente, traz consigo o Moleskine do ano passado. Santana já se tornou candidato. A direcção do PSD ainda anda à procura da agenda para anotar o facto.