O narcoestado 26 | Abril | 2013

por **Vitor mango** Dom Abr 28, 2013 12:48 pm


O narcoestado 26 \| Abril \| 2013 Bernardo Pires de Lima
	Estudos Regionais - África

Diário de Notícias, 25|Abril|2013

Podem não ter resolvido os dramas da Guiné-Bissau, mas têm tudo para
ser o princípio do fim da sua podridão sistémica: a detenção e acusação
norte-americanas dos narcotraficantes Na Tchuto e Indjai, este último
estratega do golpe de 2012 e homem forte da cadeia militar. A coutada de
poder no aparelho de Estado entre militares tem assentado na escalada
de proveitos do tráfico de droga vindo da América do Sul, especialmente a
cocaína exportada do triângulo Colômbia, Peru e Bolívia. A
insubordinação permanente na Guiné-Bissau tem sido apetecível não só à
rota menos controlada do narcotráfico no Atlântico Sul, como aos
militares que, enriquecendo internamente, se constituem como
facilitadores da plataforma alargada entre América do Sul, África,
Europa e EUA. A primeira como produtora, a segunda como passagem, os
dois últimos como consumidores. A agravante disto é o elo cada vez mais
forte entre plataformas de trânsito de droga africanas (ao largo do
golfo da Guiné) e as redes terroristas - como a Al-Qaeda no Magreb
Islâmico, poderosa no Sahel/Sara, ou o Boko Haram nigeriano -, ou entre
os narcotraficantes de Estado guineenses e as colombianas FARC. E foi
isto que fez tocar o radar em Washington: a proximidade geográfica desta
acção dos militares guineenses e a rota de droga que desembocaria nos
EUA. A pergunta é: por que não faz soar as campainhas também na Europa? O
Atlântico Sul não deve ser só encarado como zona de grande potencial
estratégico para Portugal (Brasil, São Tomé, Angola). Lisboa devia ser a
primeira capital europeia a levar a insegurança da costa ocidental
africana às reuniões de Bruxelas (NATO e UE) e bater-se por uma
estratégia concertada, envolvendo africanos e latino-americanos, antes
que o eixo crime organizado/narcotráfico/terrorismo seja incontrolável.
Até agora, só vi o general Luís Araújo afirmá-lo publicamente. Veremos
se os decisores políticos o ouvem.