Trump ironiza com silêncio da mãe de soldado muçulmano morto no Iraque

Trump ironiza com silêncio da mãe de soldado muçulmano morto no Iraque


REUTERS/CARLOS ALLEGRI


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Khizr Khan, pai de um soldado que morreu em 2006, discursou na convenção democrata e acusou Trump de nunca ter sacrificado nada. Em resposta, candidato republicano fez troça do silêncio da mãe do soldado
Foi um dos discursos mais emotivos da convenção do Partido Democrata dos EUA: Khizr Khan, pai de um soldado norte-americano e muçulmano que morreu no Iraque, em 2006, falou no púlpito com a mulher ao lado - ela mantendo-se em silêncio - e dirigiu-se a Donald Trump, o candidato dos republicanos, desafiando-o a ler a Constituição dos EUA e acusando-o de nunca ter sacrificado nada na vida.
"Já foi ao cemitério de Arlington [de veteranos]? Para olhar para as sepulturas dos corajosos patriotas que morreram a defender os Estados Unidos da América? Vai encontrar todas as crenças, géneros e etnias. O senhor não sacrificou nada!", disse o pai de Humayun Khan, que tinha apenas 26 quando morreu no Iraque, tendo sido postumamente condecorado pelo seu heroísmo. "Hillary Clinton tinha razão quando disse que o meu filho representava o melhor da América. Se fosse por Donald Trump, ele nunca estaria na América", acrescentou, referindo-se às declarações de Trump que já defendeu que os muçulmanos deveriam ser proibidos de entrar nos EUA.
Pai de soldado muçulmano morto no Iraque desafia Trump: "O senhor não sacrificou nada!"



Instado a comentar este testemunho emocionado, em entrevista na ABC News, o candidato dos republicanos duvidou que o pai do soldado morto tenha sido o autor do discurso, garantiu que já se sacrificou muito a trabalhar e a criar emprego. E sugeriu que a mãe de Humayun Khan, Ghazala Khan, que permaneceu ao lado do marido enquanto ele falava, se deixou estar em silêncio apenas porque os muçulmanos proíbem as mulheres de falar. "Se olharmos para a mulher dele, estava ali de pé. Não tinha nada para dizer. Talvez não estivesse autorizada a ter alguma coisa para dizer. Digam-me vocês", atirou Trump.
Já a própria Ghazala, questionada depois pela ABC News, respondeu que nada dissera porque estava "em sofrimento": "Por favor. Fiquei muito incomodada quando soube que ele [Trump] comentara que eu não tinha falado. Estava em sofrimento. Se estiveres em sofrimento, lutas ou não dizes nada. Eu não sou uma lutadora. Não consigo lutar. A melhor coisa que fiz foi ficar em silêncio", referiu, revelando que o marido lhe pedira para discursar também, mas que recusara por temer não aguentar a carga emocional ao falar do filho.
As reações às respostas de Trump não se fizeram esperar: Bill Clinton, o marido da candidata democrata Hillary Clinton, disse ainda não acreditar que o empresário se referira daquela maneira à mãe de um soldado condecorado, e Tim Kaine, nomeado para vice de Hillary, declarou que os comentários de Trump era inapropriados. "Ele estava a tentar tornar aquilo em algo ridículo", disse à Associated Press.
As críticas vieram também do lado republicano: John Kasich, governador do Ohio e antigo rival de Trump à nomeação republicana para as presidenciais, disse no Twitter que a única forma de falar dos pais de um soldado morto é com "honra e respeito".



Entretanto, Khizr Khan, que discursou na convenção democrata, também comentou as palavras de Trump, acusando-o de ter uma "alma negra". À CNN, disse esperar que a família do candidato lhe possa ensinar a ter "alguma empatia". " acrescentou: "ele é totalmente inadequado para a liderança do país".