Costa na Índia

Costa na Índia





António Costa nasceu em 1961, quatro séculos e meio depois de conquista de Goa por Afonso de Albuquerque e também o derradeiro ano da presença portuguesa na Índia.
Nessa terra longínqua, onde os mais velhos ainda falam português e muitas famílias se chamam Fernandes ou Mascarenhas, estão as raízes paternas do primeiro-ministro, lisboeta de nascimento e com mãe nascido no Seixal.
Sabe-se que na Índia a chegada de Costa ao governo no ano passado foi vista como a vitória de um filho de terra, excecional por ser num país europeu e não em Trindade e Tobago ou nas Fiji, ilhas nas Caraíbas e no Pacífico onde vivem grandes comunidades descendentes de emigrantes indianos. Mas Costa é excecional por uma outra razão, que tem mais que ver com Portugal do que com a Índia: mesmo que o filho de goês tivesse nascido em Goa naquele ano não deixava de ser 100% português.
Desde o século XVI que muitos goeses adotaram a cultura portuguesa, não só a língua e a religião mas a lealdade à ideia de Portugal, e o império muito lhes deve mesmo fora da Índia. E se a presença portuguesa não é hoje mais forte em Goa é porque Salazar não entendeu o espírito do tempo e abusou da paciência de Nehru, que acabou por invadir e anexar o território. Devia ter sido feito algo parecido com o que depois se negociou com a China em relação a Macau e com menos bases, pois a lusofonia aí sempre foi mais frágil.
Diz agora a imprensa indiana que Costa vai visitar o país em 2017. Tem tudo para ser histórica esta viagem do primeiro-ministro. Visto de lá e visto de cá. Se for além do simbolismo, ainda melhor. Não esquecer que a Índia é uma grande potência emergente, que no ano passado até cresceu mais do que a China.