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A REALIDADE NUA E CRUA

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Mensagem por RONALDO ALMEIDA Dom Jun 22, 2008 11:34 am

Empregados e quadros inquietos com o preço da sua alimentação corrente; trabalhadores pobres e reformados à cata de restos nos caixotes de lixo dos supermercados – a questão do «poder de compra» está a dissolver o crédito de que gozam os governos vigentes. Em França, em Itália ou no Reino Unido, os partidos no poder tiveram dolorosos reveses nas eleições municipais. Nos Estados Unidos, desde Março, o Partido Republicano perdeu três dos seus bastiões nas consultas legislativas parciais. Dirigia uma das circunscrições há trinta e três anos, a outra há vinte e dois. Na terceira, o dirigente cessante fora reeleito no anterior escrutínio com 66 por cento dos votos.

Para a maioria da população, a vida quotidiana tem vindo a endurecer. Em Itália e Espanha, os males são atribuídos ao euro. Mas o «cabaz de compras» britânico também custa mais 15 por cento do que há um ano. E ao mesmo tempo o preço dos ovos aumentou 30 por cento nos Estados Unidos, o do leite e dos tomates 15 por cento, o do arroz, da massa e do pão 12 por cento. Além disso, o preço das rendas de casa e da energia não acalma a ferida…

Uma retoma – aleatória – do crescimento não irá resolver o problema de fundo. Lawrence Summers, o antigo ministro das Finanças norte-americano, invertendo uma famosa declaração feita em 1953, em tempos de menores desigualdades («O que é bom para a General Motors é bom para o país»), admitiu recentemente outra coisa: «O que é bom para a economia mundial e para os campeões dos negócios não o é forçosamente para os assalariados». Motivo que invocou para uma tal reviravolta: «Pode ser inevitável desirmanar o mundo dos negócios e o das nações» [1].

Coisa inevitável, mas não imprevista… Com efeito, resultaram de opções políticas a estagnação ou o recuo do poder de compra, consecutivos à guerra movida contra os salários em nome da «competitividade » e à perseguição lançada contra o «custo do trabalho». O economista Alain Cotta lembra que em França, com o fim, em 1982, da indexação dos salários aos preços, «os socialistas deram à empresa privada o mais importante presente que esta alguma vez obteve dos poderes públicos». De resto, o ministro das Finanças de então, Jacques Delors, congratulou-se com isso: «Obtivemos a supressão da indexação dos salários sem uma única greve» [2]. Terá essa lição sido registada em vários países europeus? Greve dos operários alemães em Março passado, dos professores britânicos em Abril, dos camionistas gregos e dos marinheiros pescadores franceses em Maio…

Para quem não quer ver que a redução da parte dos rendimentos do trabalho na riqueza nacional explica os problemas actuais do nível de vida [3], nunca faltam «soluções» alternativas. Mais hipermercados, como propõe Nicolas Sarkozy, para «aumentar a concorrência das empresas de comercialização». Mais «sacrifícios», para que o aumento dos preços alimentares ou da energia seja absorvido, sem contrapartidas, pelos assalariados. E para que estes contribuam assim para os objectivos sagrados (2 por de cento de inflação) que obcecam o Banco Central Europeu, acima de tudo preocupado em agradar aos indivíduos que vivem de rendimentos não profissionais e ao poder de compra destes últimos.

Quanto aos outros, esses podem sempre, como o Avarento de Molière, «comer bem por pouco dinheiro». É o que lhes sugere Robert Rochefort, director-geral do Centro francês de Investigação para o Estudo e Observação das Condições de Vida (CREDOC): «O consumidor deverá aprender a optimizar o seu orçamento. Coisa que aliás já sabe fazer bastante bem. Mas deve fazê-lo sem se queixar, aceitando que o poder de compra se vá tornando aos poucos uma noção mais qualitativa, a capacidade de arbitrar entre diferentes despesas, em suma, o poder de optar entre as suas compras» [4]. Um sociólogo já acertou o passo com ele: «Podemos muito bem pagar as comunicações telefónicas com base numa escolha. E fazer a mesma coisa com a renda de casa, escolhendo ir viver para uma casa mais barata» [5].

Trabalhar mais tempo, viver menos bem – se não se puser fim a isto, inspirando-nos num precedente com quarenta anos, o objectivo proposto tem o mérito de ser claro.
RONALDO ALMEIDA
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